Os sobrados com tijolos cheios de reboco e lodo, sinal de uma construção que nunca terminou, parecem fazer segmento da cidade cenográfica construída pela Orbe para a romance “Volta por Cima”, que estreia nesta segunda-feira na tira das sete. Mas eles são da vizinhança suburbana que rodeia os estúdios da emissora, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Das janelas, os moradores podem escoltar a história, escrita por Claudia Souto, em primeira mão, conforme ela é gravada. Ainda que não tenha sido criada com esse objetivo, essa interação simboliza a conexão que a Orbe quer restabelecer com as periferias, seu público principal.
A trama gira em torno de uma empresa de ônibus, a Viação Formosa, onde trabalha o patriarca da família protagonista, Lindomar, interpretado pelo rapper MV Bill. O primeiro capítulo acompanha seu último dia antes da aposentadoria. Ao término do trajeto, ele passa mal, e o ônibus acaba pendurado no término de uma dimensão desativada do proeminente da Perimetral, uma via meão da cidade.
São muitos os elementos que traduzem a simplicidade almejada pelo folhetim, do figurino —constituído por peças que são chaves para qualquer trabalhador brasílio, caso da calça legging para as mulheres— à trilha sonora, que deixa gêneros uma vez que o pop, unânime nas trilhas da Orbe, para aderir ao samba, o ritmo que mais toca no Rio de Janeiro.
“Volta por Cima”, aliás, é batizada em homenagem ao clássico homônimo de Beth Roble, que também é tema da sinceridade da romance, em gravação de Alcione e Ludmilla. Outros clássicos do samba, uma vez que “O Que É, O Que É?”, de Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha, dão o tom dos personagens, que nunca perdem a esperança.
Dessa forma, a Orbe pode produzir uma conexão com o público talvez desconectado do luxo ostensivo no ar em “Mania de Você”, na tira das nove, e sua Enseada dos Reis, no litoral fluminense, habitada por corpos cheios de músculos que se preocupam mais com sexo e vingança e menos com o trabalho.
Aliás, a trama, escrita por João Emanuel Carneiro, não tem feito muito sucesso —com média de 21 pontos no PNT, o Pintura Vernáculo de Televisão, do Kantar Ibope, “Mania de Você” tem se aproximado de um empate com “Família É Tudo”, que será substituída agora por “Volta por Cima” às sete, e “No Rancho Fundo”, em sua reta final na tira das seis.
O empate, impensável para um pretérito não tão distante, quando as novelas das nove atingiam 40 pontos de audiência, tem se tornado uma metódico. “Vai na Fé”, exibida às sete no ano pretérito, também superou, em diversas ocasiões, “Terreno e Paixão”, que estava no ar na tira transcendente.
“Volta por Cima”, assim uma vez que “Vai na Fé”, é um espelho mais preciso do testemunha, a estrear por seu elenco, formado em sua maior segmento por atores negros, assim uma vez que o Brasil, que tem uma vez que maioria absoluta de sua população pretos e pardos, segundo o último recenseamento demográfico do Instituto Brasílio de Geografia e Estatística, o IBGE, realizado há dois anos.
“É uma história de povão, de pessoas simples e comuns, portanto tem gente se identificando mesmo antes de ir ao ar. Recebi um vídeo de um motorista de ônibus do Rio Grande do Sul que assistiu à chamada da romance e me mandou uma mensagem no Instagram”, diz MV Bill, que nasceu na Cidade de Deus, na periferia da capital fluminense, e foi por muito tempo ele próprio um crítico da televisão à voga antiga, que não refletia a periferia, em músicas uma vez que “Para de Babar”.
Além de MV Bill, o elenco conta com outros atores negros, uma vez que Jéssica Ellen, no papel de sua filha Madalena, Fabrício Boliveira, um fiscal de ônibus por quem ela se apaixona, e quase todos que os cercam. Os brancos estão concentrados nas famílias em decadência da história, uma vez que os irmãos Belissa, papel de Betty Faria, Joice, interpretada por Drica Moraes, e Gigi, vivido por Rodrigo Fagundes, um trio que não perde a pompa mesmo sem a riqueza que tiveram outrora.
Não é a primeira vez que a Orbe volta suas câmeras para a periferia, mas agora as lentes não estão mais detrás de um filtro que faz tudo parecer meio cinzento, desbotado e enferrujado. A pobreza e as dificuldades que ela impõe, em outras palavras, não estão mais em foco, alguma coisa que se reflete muito nos sets de filmagem.
“Nosso bairro, Vila Cambucá, é uma junção de muitos subúrbios cariocas, uma vez que Madureira e Marechal Hermes. Mas a intenção é se enviar com o subúrbio do Brasil inteiro, porque a maneira de viver nesses lugares é muito parecida”, afirma Claudia Souto, que está na Orbe desde os anos 1990 uma vez que roteirista. Ela estreou uma vez que autora principal em “Pega Pega”, há sete anos, e depois assinou “Rosto e Coragem”, exibida no ano retrasado, ambas às sete.
“É uma romance realista, mas exibida entre dois jornais —o sítio e o Jornal Vernáculo—, que já fazem com que a verdade difícil invada a lar dos nossos espectadores, portanto queremos racontar a história de uma forma ligeiro, colorida e com comicidade”, acrescenta o diretor artístico André Câmara.
“Os personagens poderiam fazer segmento da vida de qualquer testemunha, principalmente se falarmos do público principal da televisão ocasião, que são as classes C, D e E. Estamos trazendo
o povo para o primeiro projecto.”