Comunicação Em Crise E O Jogo Que O Governo Ainda

Comunicação em crise e o jogo que o governo ainda não aprendeu – 21/01/2025 – Wilson Gomes

Celebridades Cultura

Na semana passada, assistimos a mais uma guerra pela opinião pública entre governo e oposição: a disputa pela percepção da norma da Receita sobre a fiscalização das operações com Pix. E, novamente, o governo saiu derrotado de forma esmagadora, em uma disputa que envolveu declarações oficiais, cobertura jornalística, as redes de distribuição de informação da extrema direita e vídeos de figuras políticas influentes.

O resultado, segundo a pesquisa Quaest, foi impressionante: 87% ouviram que o governo iria cobrar imposto sobre o Pix, e 67% acreditaram nisso —mesmo posteriormente desmentidos oficiais amplamente respaldados pela prensa. Um massacre, desses raramente vistos em disputas entre forças de peso semelhante.

Não me lembro da última vez que um governo tenha recorrido a uma Medida Provisória para debelar uma sensação pública que não conseguiu modificar. Ou tenha voltado detrás em uma medida acerca da qual não considera que tenha inverídico. Mas aconteceu. É uma MP em que se juramento que não vai se fazer um tanto que nunca se disse que faria. Não haverá incidência de tributos sobre transações com Pix, não se tocará no sigilo ou na privacidade das informações financeiras, não se cobrará a mais em pagamentos via Pix.

O que a volume entendeu foi basicamente um “errei, fui moleque, mas se você voltar para mim, esquece, vou ser o faceta que o seu paixão merece”. Tem cabimento?

O governo pode alegar ter sido pego no contrapé durante a transição da sua notícia. Mas, a norma que gerou a confusão é de setembro, e o burburinho só ganhou força em janeiro.

Se o governo não detectou a formação da vaga de ataques e o incremento da incerteza dos cidadãos mais pobres com o que parecia uma malícia da governo Lula, é porque não havia ninguém acompanhando a conversa social e a opinião pública. E se não foi capaz de reagir a tempo e debelar os focos de boatos antes que ficassem fora de controle, é porque nunca teve um protocolo para notícia de crise.

Aliás, esse parece um concepção ignoto pelo governo. Caso contrário, teria tido respostas para quando a desinformação correu solta acerca das doações para os afetados pelas enchentes no Sul e agora na guerrilha informacional sobre a fiscalização do Pix, vendida porquê taxação. Nos dois casos, sobrou uma população desesperada por saber o que de veste estava acontecendo, enquanto faltaram respostas, estratégias de notícia projetadas para isso, uma oferta regular, qualificada e confiável de informação.

Crises chegam sempre sem anunciar; por isso, organizações as preveem, antecipam e se preparam para ter respostas quando elas irrompem. E não existe vácuo de informações durante crises. Se lacuna o lado que deveria oferecer dados críveis, alguém se aproveitará da incerteza das pessoas para fornecer os boatos e prover as interpretações convenientes. E isso é do jogo.

E olha que, nesse caso, na pouquidade de uma notícia governamental eficiente, o jornalismo de referência apostou em peso na própria capacidade de esclarecer a população. A condescendência do jornalismo chegou a tal ponto que a oposição e a extrema direita não tiveram dificuldade em vender em suas redes a teoria de que as redações eram a verdadeira Secom. Zero funcionou.

Nem toda a cavalaria da escol do jornalismo brasílio, que veio em socorro do governo, parece capaz de sofrear os efeitos de redes alternativas e horizontais de notícia do dedo quando elas convergem, ou de um vídeo mambembe, parcial e partidário de alguma figura influente dos extremos do espectro político.

Foi curioso observar porquê governo e jornalismo, diante da própria insuficiência nos novos cenários de disputa pela opinião pública, recorreram tão rapidamente à tática defensiva de “acusar os acusadores”. Nesse caso, trilharam o caminho mais refutável: desqualificar toda sátira porquê fake news.

Em seguida, atribuíram o sucesso dos detratores da medida não à habilidade destes em captar e explorar as angústias e incertezas da população diante de uma mediação mal planejada e mal explicada, mas à suposta operação de algoritmos superpoderosos, manobrados em conluio com “big techs” malignas. Daí foi um passo limitado para jurar que o incidente comprova a urgência de se “regular as redes” e para sugerir que criticar medidas do governo deveria, de alguma forma, ser tratado porquê delito.

Sim, o jogo político hoje é pesado e passa pela guerrilha da informação. A questão que permanece é: quando, finalmente, o governo entrará em campo devidamente prestes para a peleja?


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Folha

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