Conceição Tavares: Economistas Apontam Legado Para Repensar Brasil

Conceição Tavares: economistas apontam legado para repensar Brasil

Brasil

Maria da Conceição Tavares, morreu nesse sábado (8) aos 94 anos, permanecerá uma vez que pensadora fundamental para entender o Brasil, a partir de meados do século pretérito quando vem morar no país.

Mulher com compromisso político e extenso conhecimento sobre filosofia, história e verdade vernáculo, era uma intelectual combativa e professora exigente. Ao mesmo tempo era pessoa delicada e afetuosa com seus alunos e com seus colegas – mesmo de quem discordasse.

Brasília - A testemunha de defesa, Luiz Gonzaga Belluzzo, durante o segundo dia de julgamento do impeachment de Dilma Rousseff  (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Brasília - A testemunha de defesa, Luiz Gonzaga Belluzzo, durante o segundo dia de julgamento do impeachment de Dilma Rousseff  (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 Luiz Gonzaga Belluzzo: “Pessoa calorosa e muito inteligente” – Marcelo Camargo/Escritório Brasil

O perfil da principal economista brasileira, de origem lusitana e naturalizada brasileira em 1957, foi desenhado por colegas e ex-alunos de Tavares ouvidos pela Escritório Brasil.

“Ela era amiga dos amigos. Uma pessoa calorosa e muito inteligente”, recorda-se o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e colega de trabalho Maria Conceição Tavares por 20 anos naquela universidade.

De pacto com Belluzzo, a economista “sempre foi inquieta e discutia com muita intensidade.” Nos debates, usava a divergência para suplantar as controvérsias. “No final, dava um salto. Discordava para proceder no conhecimento.”

Nota 10

Saber, assim uma vez que ensinar, foi um propósito de vida de Conceição Tavares. Matemática formada pela Universidade de Lisboa chegou ao Brasil em 1954. Três anos depois, matriculou-se no curso de Economia da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federalista do Rio de Janeiro, onde foi aluna de Otávio Gouveia de Bulhões e de Roberto Campos, dois economistas que comandaram anos depois, no início da ditadura civil-miliar, os ministérios da Herdade e do Planejamento, respectivamente.

Segundo Maria da Conceição Tavares, apesar de discordar dos dois professores, ganhou “10” de ambos. Bulhões a deixava “expor o que quisesse”; e Roberto Campos, que “a chateava nas aulas por pretexto da inflação, prezava muito a perceptibilidade analítica”, disse a economista em prova publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) quando fez 80 anos, em 2010.

Outro ex-ministro da Herdade durante a ditadura, e economista de matiz liberal, Mário Henrique Simonsen, também a respeitava. Em novembro de 1974, quando Conceição Tavares foi presa pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em quartel do Tropa no bairro da Tijuca, zona setentrião do Rio, Simonsen pediu diretamente ao portanto presidente Ernesto Geisel a sua libertação.

Para Alfredo Saad-Fruto, professor de Economia Política e Desenvolvimento Internacional na King’s College de Londres, Conceição Tavares foi de uma “geração de economistas brilhantes e influentes” e responsável pela formação de quadros importantes. “Uma árvore que gerou muitos economistas, inclusive dirigentes importantes e ministros de Estado.”

Séquito de admiradores 

Cláudio de Moraes, professor de Macroeconomia e Finanças do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Governo (Coppead) da UFRJ, recorda-se que Maria da Conceição Tavares era “extremamente culta”, “se posicionava de maneira clara”, e “tinha um séquito de alunos admiradores”.

Rio de Janeiro - A economista Maria da Conceição Tavares esteve no ato com lideranças femininas de movimentos sociais e sindicais defendo o governo da presidenta Dilma Rousseff  (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Rio de Janeiro - A economista Maria da Conceição Tavares esteve no ato com lideranças femininas de movimentos sociais e sindicais defendo o governo da presidenta Dilma Rousseff  (Fernando Frazão/Agência Brasil)

 Conceição Tavares foi de uma “geração de economistas brilhantes e influentes”, diz Alfredo Saad-Fruto, professor de Economia Política e Desenvolvimento Internacional na King’s College de Londres. Foto:  Fernando Frazão/Escritório Brasil

Em sua avaliação, “ela permanece influente até hoje”, mormente junto aos economistas que defendem a “proteção do mercado doméstico” e a premência de o país relatar com grandes corporações para competir no mercado internacional.

“Com o passar do tempo, ela assumiu uma postura mais política”, acrescenta Gilberto Braga, professor titular de controladoria e contabilidade do Instituto Brasílio de Mercado de Capitais (Ibemec).

A atuação política foi harmónico com a atividade acadêmica. “Ela sempre defendeu o papel do Estado uma vez que indutor do desenvolvimento e da despesa pública uma vez que fator de geração de riqueza econômica. Ela se contrapunha ao pensamento mais liberal que defende um estabilidade fiscal mais rígido”, assinala Braga que teve Conceição Tavares patrona de sua turma na Universidade Cândido Mendes.

Para ele, Maria da Conceição Tavares escreveu alguns livros obrigatórios para a formação de economistas brasileiros, uma vez que Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro.

A professora Maria Súcia, que leciona sobre história do pensamento econômico na UFRJ, acrescenta Concentração de Capital e Industrialização no Brasil e Poder e Numerário. Uma Economia Política da Globalização, escrito em parceria com o economista Jose Fiori entre os livros fundamentais.

Na opinião de Súcia, que assessorou Conceição Tavares quando foi deputada (1995 1998), a economista mantinha em seus livros, aulas e posicionamentos públicos “o compromisso de transformar o Brasil e melhorar a vida dos mais pobres, a quem se referia uma vez que aqueles que pagam a conta.”

Influências teóricas

Segundo Maria Súcia, Conceição Tavares teve uma vez que influências teóricas o pensamento dos brasileiros Celso Furtado e Ignácio Rangel, do britânico John Maynard Keynes, do boche Karl Marx e do polonês Michal Kalecki, fontes para criar “uma teoria que desse conta do subdesenvolvido brasílico”, um pensamento “que não está superado.”

Os depoimentos colhidos pela Escritório Brasil também recordam da performance de Maria da Conceição Tavares em sala de lição. “O indumentária de ela ser apaixonada pelos temas de economia fazia com que ela também tivesse atitudes pouco usuais em lição. Quando havia alguém que fazia perguntas que mostravam ignorância do que ela estava falando, do que tinha terminado de falar, ela jogava um giz no estudante”, rememora rindo o ex-aluno Pedro Russi, hoje livre-docente do Instituto de Economia da Unicamp.

Na presente de Russi, Maria da Conceição Tavares “preparava muito as aulas” e sempre “se preocupava com o que iria lecionar. Ela era resplandecente.”

Para a professora Maria Súcia, Conceição Tavares assumia uma persona em sala de lição. “Mas no trato pessoal – por exemplo, nos jantares ou nas conversas ela chamava para o escritório que tinha no Leme -, ela era delicada e afetuosa.”

Fonte EBC

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