A pena do brasílio Daniel Alves, 40, a quatro anos e seis meses de prisão pelo estupro de uma jovem em uma boate em Barcelona, muro de três anos depois de o ex-jogador Robinho também ter sido réprobo pelo mesmo transgressão na Itália, traz para o debate sobre a violência sexual o tema da formação dos atletas desde as categorias de base.
Segundo Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva e sócio-fundador da iO Variedade, a formação dos atletas muitas vezes prioriza somente o desenvolvimento técnico e físico, sem considerar a instrução moral e moral. “Há uma carência de debates e ações educativas sobre temas porquê violência contra a mulher, reverência às diferenças e consentimento sexual.”
Coordenador de psicologia esportiva do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Eduardo Cillo diz que, no processo de formação dos jogadores de futebol, os clubes buscam desenvolver atletas confiantes, que possam se impor em campo e superar os adversários, o que acaba atribuindo a eles ares heroicos sob o ponto de vista do torcedor.
“Só que isso traz também um problema, porque a gente acaba, em muitos momentos, mimando o jogador, fazendo com que ele acredite que pode tudo, principalmente dentro de campo. Só que, por vezes, esse sentimento se estende para além das quatro linhas e acaba que alguns realmente ultrapassam limites”, afirma Cillo.
Roberta Negrini, vice-presidente de inclusão e variação do Sport, assinala que as condenações devem servir para que os dirigentes de futebol reflitam sobre o papel que exercem durante o período de formação dos atletas desde a mocidade nas categorias de base até a vida adulta no profissional.
“Esses homens agressores, estupradores, violentos, foram crianças que um dia saíram de suas casas muito pequenos, muitas vezes de famílias desestruturadas. E a gente instantaneamente transforma essas pessoas em ídolos. E essas pessoas, por viverem dentro de um país onde a impunidade reina, saem daqui achando que com verba, renome e poder podem fazer qualquer coisa”, afirma Negrini.
Segundo ela, é preciso que os clubes passem a pensar para além da formação técnica e física dos atletas, trazendo para o debate também a formação moral e de caráter dos jovens que chegam em procura do sonho de um dia se transformar em um jogador.
Trabalhar o varão, antes do desportista, resultará em atletas futuros cientes de que também são passíveis de punição, afirma a vice-presidente do Sport. “Os times formadores precisam intervir nas questões éticas e morais dessas crianças, porque nós somos responsáveis por elas, elas estão sob a nossa custódia quando tiramos elas de morada.”
Meirelles diz ainda que as condenações acendem um debate crucial sobre a cultura de violência que permeia o futebol.
“A pena tira os ídolos do olimpo da idolatria, expondo a hipocrisia e o machismo presentes na sociedade. Elas forçam uma reflexão sobre a masculinidade tóxica que impera no meio esportivo, onde a virilidade e a dominação são valorizadas supra do reverência e da empatia”, afirma o presidente do Instituto Locomotiva.
O status de notoriedade e a falta de punição rigorosa para crimes cometidos por jogadores, acrescenta, contribuem para a perpetuação de comportamentos abusivos. “Acredito que tanto clubes quanto patrocinadores devem assumir um papel ativo na promoção de um envolvente seguro e inclusivo, tanto para jogadores quanto para torcedores”, diz Meirelles.
“Ambas as condenações representam um grande progressão na capacidade de resposta e reparação às vítimas de violência sexual, uma resposta à impunidade, uma resposta ao silenciamento que é imposto a essas mulheres, muitas vezes culpabilizadas pela agressão e pela violência que sofreram”, afirma Marina Ganzarolli, presidente da organização Me Too Brasil.
Cillo, do COB, vê as condenações dos dois jogadores, e a reação da torcida corintiana à contratação do técnico Cuca, porquê sinais de uma mudança na percepção da sociedade em relação ao agravo contra as mulheres, seja ele praticado por um jogador ou por qualquer outra pessoa.
“De alguma maneira, a sociedade está caminhando para diferenciar o que é admissível dentro de campo do que acontece fora de campo. Isso acaba fazendo com que se exija mais de jogadores e técnicos.”
No caso de Cuca, o treinador teve rápida passagem pelo Parque São Jorge em 2023, mas pediu deposição em seguida uma semana devido aos protestos por sua contratação.
Na era, a permanência dele se tornou insustentável pela pressão de torcedores, sobretudo de mulheres, indignadas com a postura do clube diante do caso de violência sexual registrado contra Cuca em 1987, na Suíça, quando ele ainda era jogador.
No primórdio deste ano, porém, a Justiça da Suíça anulou a pena, aceitando o argumento de que ele foi julgado sem representação lítico. O brasílio não foi inocentado, mas o processo acabou extinto.
Técnico em gestão de saúde e performance de atletas, Flávia Magalhães acredita que as pessoas que cuidam de carreiras de jogadores e treinadores devem usar esses casos porquê exemplos para orientar os seus agenciados.
“Os atletas vão se expor menos, terão mais orientação dos seus próprios empresários, usando esses casos porquê exemplo.”