Conheça 15 novos livros infantis de autores brasileiros – 13/09/2024 – Era Outra Vez

Celebridades Cultura

A Bienal do Livro de São Paulo entra nos seus últimos dias com corredores cheios, trânsito pelas ruas, ingressos esgotados, editoras comemorando vendas e leitores muitas vezes se perguntando —mas, por fim, qual livro escolher?

Para quem procura opções de literatura infantojuvenil, inferior há 15 títulos ilustrados lançados recentemente, todos assinados por escritores e ilustradores brasileiros.

Há publicações de nomes consolidados do livro ilustrado porquê Odilon Moraes e Nelson Cruz, autores fundamentais da literatura pátrio porquê Ignácio de Loyola Brandão, ilustradoras expoentes porquê Bruna Lubambo e Natália Gregorini, artistas indígenas porquê Denilson Baniwa e também o primeiro infantojuvenil de Itamar Vieira Junior, responsável de “Torto Arado”.

Alguns desses lançamentos estão disponíveis na Bienal, que termina no domingo, dia 15. Conheça a seguir as 15 obras. E boa leitura.

A Jabota Poliglota

Denilson Baniwa é um dos principais nomes da arte indígena contemporânea brasileira. O artista visual inaugurou no ano pretérito uma exposição individual na Pinacoteca, em São Paulo, e foi um dos organizadores do pavilhão brasílio na Bienal de Veneza deste ano. Agora, ele lança o seu primeiro livro infantojuvenil: “A Jabota Poliglota”, que tem texto de Baniwa e ilustrações de Sophia Pinho. Na história, uma fêmea de jabuti, ou jabota, usa seus conhecimentos linguísticos e o que sabe do linguagem falado por jacarés e onças para não virar almoço desses predadores. A obra também é um invitação para aprender novas línguas, já que toda a edição é bilíngue, narrada paralelamente em nheengatu. Apesar do zelo na tradução, o livro se esquece de informar o nome desse linguagem indígena para o leitor. A editora Boitatá confirmou que isso foi um lapso, a ser revisto nas próximas reimpressões.


Chupim

Depois do sucesso de “Torto Arado”, que se tornou um premiado best-seller e foi finalista do International Booker Prize, oriente certamente é um dos livros mais esperados da literatura infantojuvenil brasileira neste ano —e Itamar Vieira Junior se sai muito em sua estreia em obras ilustradas e para párvulo e jovens. A história se passa num cenário parecido com o do romance de Bibiana e Belonísia e exibe a rotina de trabalhadores rurais, adultos e meninos, que acordam cedo para dar duro em plantações de arroz. Triangulando o tempo todo num espelhamento entre a puerícia, a exploração da mão de obra no campo, o trabalho infantil e o chupim, pássaro que dá título e que é uma espécie considerada preguiçosa e sevandija, o responsável desenvolve uma narrativa que gera muitas perguntas e apresenta uma geografia entre a metáfora e o realismo. Assim porquê já tinha feito em “Os Filhos da Coruja”, de Graciliano Ramos, a editora Baião opta por ilustrar a trama com pinturas, desta vez assinadas por Manuela Navas.


Desembarcados

Em tempos em que o Brasil queima e a fumaça se espalha da Amazônia aos pampas, quem tem tempo para trova? “Desembarcados” é desses livros que nos mostram o potencial da arte em momentos de horror. Os poemas de Guilherme Gontijo Flores falam de uma tal boceta de Zoé, formada só por seres vivos que já foram extintos ou estão quase desaparecidos, numa inversão da teoria bíblica da boceta de Noé. Há, por exemplo, versos sobre o dodô, o mamute, a preguiça-gigante e vários outros bichos que já não existem mais, entre eles até o varão de Neandertal. Começando de maneira metrificada e com rimas rígidas, os poemas vão ficando cada vez mais soltos e livres pelas páginas, até tudo terminar numa trova visual sobre os vaga-lumes. Os textos são ilustrados por Daniel Kondo e musicados por Carol Naine, que deixa simples porquê trova e música estão sempre de mãos dadas —mesmo em tempos de extinção.


O Dia em que a Lágrima Chorou

A preocupação com a natureza e os impactos devastadores do ser humano no planeta também são o impulso deste livro. Uma breve sinopse diz que tudo começa quando o espírito das águas, cansado de ser maltratado, resolve dar no pé e levar junto consigo toda a chuva da Terreno. Por isso, uma reunião com todos os tipos de gotas do mundo é convocada, a término de discutir o que fazer. A teoria seria um prato pleno para que a história se transformasse numa frivolidade pedagógica, numa moral da história rasa ou num slogan do tipo “vamos salvar o mundo”. Mas não é o que faz o redactor João Luiz Guimarães, que se apega à literatura, desvia das poças d’chuva sem escorregar e cria uma obra que se banha no diálogo, na troca de ideias e na fricção das diferenças em procura do muito generalidade. As ilustrações de Anabella López, artista argentina radicada há anos no Brasil, também fogem do tatibitate visual ao desenvolver uma colagem psicodélica, com diferentes formas e cores.


Tia Ciata

Mais do que um livro, “Tia Ciata” é uma lição sobre a formação cultural, social e sentimental do Brasil. Escrito por Nei Lopes e ilustrado por Rui de Oliveira, o título é estruturado porquê uma conversa do narrador com Boneca, baiana idosa que diz ter sabido a famosa Tia Ciata —mítica figura que transformou o Rio de Janeiro entre o término do século 19 e o início do 20, sobretudo por estar ligada ao candomblé e ao surgimento do samba e do Carnaval porquê conhecemos hoje. A partir daí, Lopes fala não somente sobre Ciata, mas produz uma espécie de diploma de promanação brasileira, entrelaçando pelas páginas figuras porquê Sinhô, Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Donga, Heitor dos Prazeres, Hilário Jovino e tantos outros nomes que circularam pela região carioca chamada de Pequena África, onde a capoeira, o samba, os bambas e os orixás davam as cartas.


Só Sei que Nasci

Nem é preciso proferir que Ignácio de Loyola Brandão é um dos grandes nomes da literatura brasileira. Membro da Ateneu Brasileira de Letras e responsável de contos e romances fundamentais, porquê “Zero” e “Não Verás País Nenhum”, entre outros, ele ainda faz segmento do clube de autores que conseguem ortografar com a mesma desenvoltura para adultos e crianças —filete etária para a qual lançou pérolas porquê “O Menino que Vendia Palavras” e “Os Olhos Cegos dos Cavalos Loucos”, por exemplo. Agora ele volta aos infantojuvenis com “Só Sei que Nasci”, feito em homenagem à neta e ilustrado por Isabela Santos. Na obra, uma párvulo narradora com unicamente dois dias de vida elenca os espantos e as dúvidas mais profundas em relação ao mundo. O que é o mundo? O que é o tempo? O que é a vida? Do ponto de vista literário, porém, essas inquietações não aparecem refletidas na linguagem nem nas engrenagens do texto, que acaba optando por um evidente conforto, ficando longe da inovação de outros títulos do responsável e repetindo um pouco a premissa já usada em “O Menino que Perguntava”. Mas, apesar disso, o talento e o domínio das palavras criam momentos de perdão e bossa na trama, principalmente nas indagações infinitas e filosóficas da pequena narradora.


Papai Pintava

Quando estamos diante de um lançamento de Odilon Moraes, ainda mais no caso de um livro autoral com texto e ilustrações assinados por ele, muito provavelmente um tanto está oculto. Há sempre um silêncio. É preciso prestar atenção nas entrelinhas e nos vazios. Em “Papai Pintava” não é dissemelhante. Recém-lançada, a obra afirma logo de rostro que “aos domingos, papai pintava”. Mas não só isso. Nas ilustrações, também notamos que as telas do pai estão sempre acompanhadas por outros desenhos. Não é dito expressamente pelas palavras, mas rapidamente descobrimos que existe outra figura na história, alguém que também pinta aos domingos e que também cria as suas artes: o menino. Não é gratuito que essa dinâmica só fique mais clara na segmento visual. Isso ocorre porque papai pintava, mas pouco conversava. Pai e fruto não falam em nenhum momento. Não há diálogos entre eles. Ou melhor —ambos até trocam ideias, mas de outro jeito. Eles pintam. Sempre juntos.


Errinho, Errão

Existe toda uma tradição de contos acumulativos na literatura infantojuvenil do mundo inteiro. É aquela tradicional história da velha a fiar, que sempre é incomodada por alguém dissemelhante, que acaba se somando ao malfeitor anterior. O redactor Estevão Azevedo alimenta ainda mais esse universo com “Errinho, Errão”. Nele, a somatória de erros cometidos pelo protagonista, Theo, tem início porque a mãe não quer de jeito nenhum adotar um bicho de estimação. Mas, mesmo assim, o menino pega um grilo. Para consertar esse erro, ele leva para dentro de morada um sapo, que come o grilo. Para remendar esse novo erro, arranja uma serpente para tragar o sapo que papou o grilo. E assim por diante. Porquê ocorre em outras obras infantojuvenis do responsável, a narrativa desemboca num nonsense pleno de humor que envolve dinossauros, buracos negros e caramujos muito espaçosos, tudo ilustrado por Kaká Leal.


A Insônia da Sereia, o Soninho da Baleia

Contos para ler antes de dormir são outra tradição da literatura feita para crianças. E nem é preciso proferir que o lançamento de Ivan Marsiglia e Eva Uviedo balança nesse causa, o que já é visto logo no título. Na história, uma sereia agitada e enxurro de admiradores não consegue dormir de jeito nenhum. A solução é pedir ajuda para a amiga baleia, que leva essa figura fantástica para um passeio rumo às profundezas do oceano, numa jornada em procura do bocejo e do cochilo perfeitos. Mas a obra vai um pouco além. A sereia “nadava em cardume,/ soprava bolhinhas,/ zanzava em corais./ E fazia selfies –que/ pediam demais”. Marsiglia no texto e Uviedo nas ilustrações criam um envolvente muvucado de celulares, luminar à imagem, hiperconexão e relações superficiais que acabam esfarelando o sono da sereia. Aliás, essas coisas deveriam preocupar também muitas crianças e adultos muito cá, em terreno firme.


Vento se Sujando de Terreno

“Vento se sujando de terreno (eu ainda iria chegar a esse verso!). É seu e lindo. Um dia eu imito ele.” Esta frase foi escrita à mão por Manoel de Barros em uma epístola para o redactor Alonso Alvarez, na qual o poeta do Núcleo-Oeste comenta um poema do colega. Agora, anos depois dessa correspondência, “vento se sujando de terreno” volta aos holofotes e se torna título de um livro de haicais —tipo de trova de tradição oriental, geralmente com unicamente três versos e inspiração na natureza. Na obra, Alvarez traz o poema original elogiado por Barros (“Na rua deserta/ galhofa de roda/ vento se sujando de terreno”), mas também fala mais sobre o vento (“Farra no varal/ o vento apressado/ fugiu pelado”), da chuva (“Chuva fina/ tarde esfria/ todo o lago se arrepia”) e do atrito entre a cidade e o envolvente (“Terreno baldio/ o poente/ e uma placa: vende-se”), com ilustrações de Marcio Levyman.


O Menino Queria Jogar

Yuri de Francco vem construindo uma série consistente de livros protagonizados por meninos. Com Renato Moriconi, lançou “O Menino e a Chuva”. Ao lado de Ionit Zilberman, “O Menino, o Pai e a Pinha”. Agora publica “O Menino Queria Jogar”, a quatro mãos com Nelson Cruz. Nesse novo capítulo, acompanhamos um garoto que quer jogar xadrez e procura adversários. No caminho, convida ratos, urubus, jacarés e outros bichos que até topam participar de uma partida —mas tudo dá falso, é óbvio, porque esses animais não sabem jogar xadrez. Na verdade, nenhum deles está disposto a competir nem a aprender as regras do tabuleiro. Com muitas leituras possíveis e sensibilidade subida, a história ganha ainda mais ecos neste ano de eleições e de debates desastrosos na televisão. De uns para cá, a política vem sendo tomada por ratos estridentes que não querem jogar e só desejam bagunçar. A solução? Vale dar uma olhada na ilustração de Nelson Cruz publicada na última página dupla.


Estrela-Lobo

Neste momento, agora mesmo, em diversas regiões do Brasil, animais estão sendo queimados vivos em milhares de incêndios que fazem florestas e campos arderem. É muito difícil ler “Estrela-Lobo” sem ter isso em mente. Flávia Reis conta cá a história de uma estrela que nasceu com o poder de se transformar em lobo e descer à Terreno, misturando-se aos animais e às alcateias. Um dia, porém, ela decide não retornar aos céus e permanecer no nosso planeta mesmo, abandonando a companhia das constelações, do Sol e da Lua. Quando a estrela-lobo se esquece de que é uma estrela, um incêndio lambe a mata. Sempre no campo da metáfora e do simbólico, a autora cria uma história mitológico sobre a influência da preservação e do zelo. Enquanto isso, a ilustradora Natália Gregorini dá o recado na segmento visual. Nas imagens que criam esse universo, que fica entre a floresta e a astronomia, os seres fantásticos ganham sempre formas humanas. Entendeu quem tem o poder e a responsabilidade de salvar o planeta do queimada?


Eugênio

Everson Bertucci e Juão Vaz retomam em “Eugênio” a parceria já feita em “A Senhora da Lar Azul”, livro lançado no término do ano pretérito. E, mais uma vez, redactor e ilustrador colocam em tarifa a relação entre crianças e idosos. A obra mistura o pontapé de “Fortaleza Rá-Tim-Bum” com o história “A Doida”, de Carlos Drummond de Andrade, para narrar a história de uma moçoila que vê sua pipa permanecer presa no telhado de uma misteriosa morada cor-de-rosa, onde todo mundo juramento viver um bruxo —no caso, o Eugênio do título. É óbvio que ele não é zero disso. O encontro entre a moçoila e o velho se desenrola numa delicada costura sobre o incógnito, a passagem do tempo, a asseveração das identidades, o uso das liberdades e, sobretudo, o paixão à vocábulo, aos livros e às histórias. Finalmente, “o que ninguém sabia é que ele tinha uma enorme livraria em morada”.


Animália: Zoopoesia ou Coisa que o Valha

Cá temos mais uma coleção de bichos, um bestiário poético ou coisa que o valha, porquê diz o próprio título da obra. Segmento também de uma tradição da literatura infantojuvenil que apresenta animais na forma de poemas, “Animália” é constituído por versos sobre camelos com torcicolo, elefantes marombeiros, orangotangos dançarinos e toda uma fauna improvável que arranca risos e dá piscadinhas para o nonsense, o que é potencializado pelas ilustrações de Bruna Lubambo. Apesar de o conjunto ser um pouco irregular, com alguns poemas e rimas mais certeiros do que outros, a coletânea conta com diversos trechos que quebram as expectativas do leitor. É caso de “O Cabrão e a Cabra”, por exemplo, que diz assim: “O masculino da cabra é o cabrão./ A cabra, do cabrão, é a fêmea./ Se o cabrão é cabra-macho,/ portanto a cabra é bode-fêmea.” Aliás, a florilégio tem tempo até para divertir com Drummond e inventar uma versão animalesca de “A Quadrilha” no finzinho do livro, chamada “Matilha”.


Chorar É Porquê Chover

Primeiro vem a imagem. Sem nenhuma vocábulo e unicamente a partir das ilustrações de Lincoln Pelágico, conhecemos uma moçoila que vai ao mar e encontra um peixe recluso numa espécie de piscina originário, sem contato com o oceano por pretexto da maré baixa. Ao ver o bicho ali sozinho, ela decide levá-lo para morada, onde o peixe passa a viver num aquário. A felicidade da moçoila, porém, entre em choque com a tristeza do bicho recluso. É aí, depois desse contraste e já para o meio do livro, que aparecem as palavras escritas por Emília Nuñez, que venceu no ano pretérito o prêmio Jabuti de melhor obra infantil por “Mel”, feita em parceria com Anna Cunha. Numa conexão íntima entre a tristeza do peixe, a chateação da moçoila e as nuvens de chuva que se formam sobre a cidade, texto e imagem deságuam numa mistura de lágrima, garoa, mar revolto e melancolia, mas também felicidade. Finalmente, chorar é porquê chover —e nem toda chuva é ruim ou dura para sempre.

Folha

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