O Parecer de Segurança das Nações Unidas (ONU) aprovou, nesta segunda-feira (25), uma solução para um cessar-fogo repentino e temporário na Filete de Gaza. De concordância com o texto, o cessar-fogo deve resistir os dias que restam do Ramadã, que é o período do ano sagrado para os muçulmanos, que começou em 10 de março e termina no próximo dia 9 de abril.
Os Estados Unidos (EUA), que vinham vetando resoluções que pediam o cessar-fogo repentino, se abstiveram de votar. A Rússia ainda apresentou uma emenda propondo que o cessar-fogo fosse permanente, mas a medida foi vetada pelos EUA.
A solução aprovada foi articulada pelos dez membros não permanentes do Parecer, que não tem recta ao veto. São eles Argélia, Equador, Guiana, Japão, Súcia, Moçambique, Coreia do Sul, Serra Leoa, Eslovênia e Suíça. Com isso, o texto foi autenticado com 14 votos favoráveis, nenhum contrário e uma continência.
O representante da Argélia, Amar Bendjama, comemorou o resultado, ressaltando que finalmente o Parecer de Segurança assumiu sua responsabilidade de promover a sossego internacional.
“A adoção da Solução no dia de hoje não é mais que o princípio, não é mais que o primeiro passo para atender às aspirações do povo palestino. Seguimos pendentes do compromisso e do cumprimento da Solução por secção da potência ocupante de Israel, para que ponham termo ao efusão de sangue sem mais condicionantes, que acabe com o sofrimento do povo palestino”, afirmou Amar.
A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, argumentou que não votou em prol da solução porque ela não expressou uma pena ao Hamas. Ou por outra, reforçou que um cessar-fogo deve estar condicionado à liberação dos israelenses feitos reféns no dia 7 de outubro.
“Estamos convencidos de que era importante que o Parecer se pronunciasse e deixasse simples que o cessar-fogo, qualquer cessar-fogo que tenha esse conflito, passa pela liberação dos reféns”, destacou.
Linda também lamentou que China e Rússia tenham vetado a solução apresentada pelos Estados Unidos na última sexta-feira (22) que condicionava o cessar-fogo à libertação dos reféns israelenses. De concordância com os representantes da China e Rússia, o texto apresentado pelos EUA era dúbio e não determinava o termo das hostilidades de forma imediata, nem cobrava as responsabilidades de Israel.
Sobrestar-fogo permanente
Antes da votação, o representante da Rússia no Parecer, Vassily Nebenzia, pediu uma diferença no texto para tornar o cessar-fogo permanente e não somente durante o período do Ramadã. Ainda segundo o emissário russo, ele somente tomou conhecimento de que a trégua proposta não era permanente uma hora antes do início da sessão.
“Isso é inadmissível. Todos recebemos instruções para a votação do texto que continha a termo permanente e acreditamos que isso é de fundamental relevância. Toda a formulação restante deixa uma secção muito ampla para versão, o que poderia permitir a Israel retomar a sua operação militar na Filete de Gaza a qualquer momento depois o término do cessar-fogo”, destacou.
A proposta da Rússia foi rejeitada pelo poder de veto dos Estados Unidos. A proposta de mudança apresentada pelos russos teve três votos favoráveis, incluindo a China, além de 11 abstenções.
França e China
O representante da França no Parecer de Segurança, Nicolas de Rivière, comemorou a aprovação, acrescentando que o país vai trabalhar para um cessar-fogo permanente depois o termo do Ramadã.
“O Parecer vai ter que se manter mobilizado e de repentino vai ter que colocar mãos à obra. Depois do Ramadã, que termina em duas semanas, vai ter que conseguir um cessar-fogo permanente”, afirmou Nicolas.
A França, assim porquê EUA, Rússia e China, é um dos membros permanentes do Parecer de Segurança.
O representante da China, Lin Jian, comparou a solução aprovada hoje com a da semana passada, apresentada pelos EUA e vetada por China, Rússia e com voto contrário também da Argélia.
“Se se comparam os dois projetos, é verosímil ver a diferença. O projeto atual é inequívoco. Dá instruções e demanda um cessar-fogo repentino sem condicionantes, enquanto o anterior fixava condições prévias ao cessar-fogo” destacou.
Para o porta-voz de Pequim, a trégua no mês do Ramadã é somente o primeiro passo. “Um primeiro passo que deve servir de base, que possa permitir o retorno de todos aqueles que se viram obrigados a fugir de seus lares”, completou.
Palestina e Israel
O representante da Palestina na ONU, Ryiad Mansour, também se manifestou na reunião desta segunda-feira. Ele agradeceu aos países não permanentes da ONU que construíram a solução para o cessar-fogo e pediu que todos se unam para que a decisão seja cumprida.
“Dois milhões de deslocados, centos de milhares de palestinos mortos e mutilados e uma inópia para que o Parecer vote um cessar-fogo repentino”, lamentou o emissário, que afirmou que estão tentando expulsar todo um país.
“Desde 1948 até 2024, temos sofrido, temos sobrevivido. Temos ressuscitado somente para morrer uma vez mais. A vida tem que continuar em Gaza e a liberdade tem que prevalecer na Palestina”, destacou.
Por sua vez, o representante de Israel na ONU, Gilad Erdan, lamentou a aprovação da solução.
“A exigência do cessar-fogo sem estar condiciona à liberação de reféns, não só não ajuda, porquê prejudica os esforços para libertação de reféns. Isso porque dá esperança aos terroristas do Hamas de conseguir o cessar-fogo sem a liberação dos reféns. Todos os membros do Parecer deveriam votar contra essa solução vergonhosa”, criticou.
Texto ampliado às 13h55