Cop30: Justiça Climática Vira Pauta De Artistas Em Belém

COP30: Justiça climática vira pauta de artistas em Belém – 22/09/2024 – Ambiente

Celebridades Cultura

As músicas do carimbó, ritmo tradicional do Pará, falam sobre o cotidiano dos ribeirinhos —o que vai de assuntos uma vez que paixão, folclore, religião e comida à relação com o território. “Se por fora, eu pareço gente/ Por dentro, eu sou natureza”, diz a música “Eu Venho de Longe”, cantada pelo grupo Carimbó Ofídio Venenosa.

A multiartista do grupo, Priscila Ofídio, diz que prefere esse caminho para falar sobre a crise climática do que uma militância mais direta. “O carimbó canta os passarinhos, as árvores, a maré. Se você disser para alguém não jogar lixo de forma proibitiva, talvez ela nem ligue, mas se sentir o quanto a natureza é formosa e valiosa, provavelmente vai compreender que, por fora, é gente, mas por dentro é natureza”, afirma.

Ofídio foi uma das curadoras do Fórum de Arte pela Justiça Climática, que aconteceu da última segunda (16) até oriente sábado (21) em Belém, com patrocínio do Prince Claus Fund e da Open Society Foundations. O evento levou artistas de 20 países em desenvolvimento para um barracão de mestres do carimbó —uma vez que segmento de um intercâmbio de práticas artísticas que denunciam a injustiça socioambiental.

Com a COP30, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, marcada para sobrevir em Belém em 2025, todos os olhos se voltam à capital paraense. E os artistas se preparam para discutir de forma global o que já falavam internamente.

Essa foi a teoria do Prince Claus Fund, segundo o diretor-executivo, Marcus Desando. Para ele, “preparar as comunidades locais com meios para falarem sobre as questões [da mudança climática] é muito mais importante do que eles exclusivamente chegarem na COP30 com cartazes”. Enfim, diz, “a arte é a linguagem mais direta às pessoas”.

Os problemas que as comunidades de Belém enfrentam, afirma, sejam direitos à terreno, racismo ou questões climáticas, também são enfrentados por outras pessoas ao volta do mundo, que têm diferentes formas de solucioná-las.

“É uma oportunidade para Belém deixar sua própria voz mais potente para trespassar ao mundo”, afirma, em seguida ressaltar que “não é que eles já não saibam se expressar” e que os paraenses também têm muito a ensinar.

Durante os dias de troca, os artistas fizeram uma visitante à Mãe Márcia de Xangô, na Ilhota de Cotijuba, superfície de preservação na região isolar de Belém. O coletivo da moradia de axé promove instrução ambiental na comunidade por meio de oficinas de imagem, música e verso.

“As mudanças climáticas, que já não são mudanças porque estão no auge, fazem a gente precisar passar um alerta, e através da arte se torna mais rápido e mais ligeiro”, diz.

Eles participaram de uma gira de umbanda, o que o argelino Mohamed Labat definiu uma vez que “relação com entidades e com a natureza”. No fórum, Labat apresentou o projeto visual “PhosFATE”, que aborda o fósforo e o impacto de sua exploração sobre os indígenas do Saara, além de desafios ambientais, as mudanças climáticas e a eutrofização (poluição gerada por excesso de nutrientes na chuva) do mar causada por fertilizantes.

O fósforo do deserto do Saara é um nutriente que chega à amazônia através da poeira transportada pelo vento e compensa a falta de fertilizantes naturais no solo da floresta brasileira, além de influenciar na formação e no volume de chuva na região.

Em uma roda de conversa, a moçambicana Yara Costa afirmou que as pessoas das diferentes comunidades representadas estão vivendo há muito tempo as mesmas crises.

“A gente só não está falando a mesma língua e não estamos falando do mesmo lugar”, disse. A arte, para ela, seria uma maneira de apresentar a verdade do chamado Sul Global, concepção usado para definir países em desenvolvimento.

Costa expôs a instalação “Nakhoda e a Sereia”, uma experiência imersiva que alerta para a forma uma vez que populações costeiras africanas do oceano Índico, que durante séculos mantiveram uma relação harmoniosa com o mar, estão sendo afetadas pelas consequências do aquecimento global —um problema pelo qual não são responsáveis.

Os grupos vulneráveis que não contribuíram para a emissão de gases do efeito estufa são os mais afetados pela mudança climática, segundo diversos estudos do IPCC (Pintura Intergovernamental sobre Mudança Climática, na {sigla} em português). Esse é o concepção ao qual se refere o termo injustiça climática.

Os termos justiça e injustiça climática, usados pelo IPCC e entre pesquisadores, estão sendo adotados agora no exposição já recorrente das comunidades do Pará sobre ativismo socioambiental.

“A gente sempre fez [ativismo] dessa forma. Agora estamos nomeando dentro desses termos de conferências, de fóruns, mas sempre falamos sobre, porque não tem uma vez que separar uma mulher negra da periferia do seu território. É a nossa raiz”, diz Joyce Cursino, fundadora da produtora Negritar Filmes.

No fórum, ela apresentou o documentário “A 7 Palmas da Liberdade”, sobre uma produtora de óleo de palma que se apossou de um cemitério quilombola e proibiu a comunidade de venerar seus mortos.

A produção do açaí para exportação e seu continuado encarecimento, a poluição dos rios por empresas, o descarte incorreto do lixo, a exploração do cacau, a falta de saneamento capital em Belém, o racismo, o descaso com os povos indígenas, a gentrificação e o olhar do Sudeste sobre a região foram temas abordados no fórum.

A própria preparação para a COP30 foi questionada. “Há todo um projeto de reforma dos centros da cidade, mas não existe um pouco evidente sobre qual vai ser o recurso investido nos bairros mais pobres para que depois da conferência eles possam não tolerar com alagamentos e falta de saneamento capital”, diz a carimbozeira Priscila Ofídio.

Thiago Maiandeua, coordenador executivo do grupo de jovens pela justiça climática Rede Cuíras, se diz não muito entusiasmado para a COP30. Segundo ele, as pessoas do seu território, suplente indígena e superfície de proteção ambiental Algodoal-Maiandeua, não sabem o que significa o termo e até perguntam se tem a ver com a Despensa, de futebol.

O rapper Pelé do Manifesto tem um olhar mais positivo. Segundo ele, o evento pode mudar a teoria das pessoas de que a amazônia é uma espécie de “quintal” do país e do mundo.

Ao final do evento, neste sábado, o foco do fórum foi em “reimaginar futuros”. Para a artista multidisciplinar Deborah Jack, de São Martinho, há jovens sonhando com um porvir em que a natureza vence. “Acho que esse é o trabalho da arte”, disse.

A repórter viajou a invitação do Prince Claus Fund.

Folha

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