Antes mesmo das portas abrirem no Shopping Novidade América, na zona setentrião do Rio de Janeiro, crianças e adolescentes acompanhados pelos responsáveis já chegavam ao sítio. Às 10 horas, uma fileira agitada aguardava em frente ao cinema pela primeira sessão do dia. Assim, com pedestal da rede de cinemas Kinoplex, jovens pacientes em tratamento no Instituto Vernáculo de Traumatologia e Ortopedia (INTO), no Instituto Vernáculo de Cancro (INCA) e no Instituto Vernáculo de Cardiologia (INC) puderam ter uma pausa na rotina de cuidados médicos para aproveitar um momento de lazer nesta terça-feira (16).
Fruto de uma parceria entre os institutos e a rede de cinemas, o projeto reuniu muro de 45 jovens — 15 de cada instituição — entre cinco e 15 anos, além dos familiares que os acompanhavam. O objetivo do projeto, segundo a assistente social do INTO, Natália Martins Mota, é proporcionar aos pacientes, que enfrentam o tratamento de doenças graves, um momento de descontração e lazer fora do envolvente hospitalar. “Todos os institutos tratam de doenças de subida complicação, logo são pacientes que têm doenças graves. No caso do INTO, vemos as questões ortopédicas, no INCA, os tratamentos de cancro, e no INC, os tratamentos cardiológicos”, explica.
“Ações uma vez que essa são importantes porque sabemos que são crianças que passam muito tempo em tratamento nas unidades hospitalares, logo é fundamental trazer cultura e diversão para elas”, defende a assistente social e integrante da assessoria da Coordenação Assistencial do INTO. “Para as famílias também, porque não só a menino fica envolvida em todo o tratamento, uma vez que a família, logo é fundamental trazer essas pessoas para esses espaços, principalmente porque são crianças que nem sempre têm aproximação a esses espaços”.
Mãe de Andryelly Vitória Mesquita, de 10 anos, Andrea Mesquista conta que a filha nasceu com escoliose — inflexão assimétrica da poste vertebral — e hemivértebra — malformação vertebral. Para ela, ações que proporcionam diversão para os pacientes da lado pediátrica são relevantes por permitirem que vivam a puerícia: “Esse ano minha filha passou por duas cirurgias na poste. Faz três meses da última operação”, compartilha, “fiquei muito feliz de estar participando, porque trabalho e a (ação) me proporcionou mais um dia com a minha filha. Tirei uma folga para estar com ela e sei que ela está muito contente. É uma forma de proporcionar distração para a menino, que fica muito focada no tratamento médico; não pode passar, pular, e menino é sempre menino. Não para”.
Já Karla Santos de Brito, mãe do pequeno Kaleb Cezário de Brito da Silva, de 8 anos, destaca a relevância do lazer para o tratamento galeno: “Deixa um pouco mais ligeiro. Traz momentos agradáveis, não que ele não tenha, mas traz memórias boas, porque na cabeça da menino é mais difícil de gerir essa questão de tratamento”, reflete. “Na cabecinha dele, hospital é inspecção, consulta, internação. É todo esse clima tenso, porque a vida inteira dele foi no hospital. Presenciar a um filme é uma atividade extracurricular ótima para ele. Para mim também, sem incerteza, alivia bastante a trouxa de todo esse pânico e toda essa preocupação que tenho”.
Kaleb é cardiopata congênito multíplice, tem ventrículo único e passou por três cirurgias. “Ele faz tratamento há oito anos, a primeira cirurgia foi quando ele tinha por volta dos 2 anos, a segunda, com 7 anos, e a terceira três meses detrás. Eu particularmente vivo com pânico regular, porque, palavras dos próprios médicos que acompanham ele, a vida do Kaleb é um ‘fiozinho de cabelo’. Por conta de toda complicação do caso dele, é uma coisa meio sem explicação ele ainda estar vivo. Quem olha não imagina o tanto de coisa que ele passa”. A última vez que Kaleb esteve no cinema foi no natalício do irmão mais velho, em março de 2023. Além do Kaleb, Karla é mãe de mais dois meninos, Pedro, de 12 anos, e Ruan, de 13.
Para a assistente social do INTO, além da distração das idas e vindas constantes ao hospital, a integração com outras crianças em espaços culturais e de aproximação livre é forçoso para a perenidade do tratamento e para incentivar crianças e, também, os responsáveis que as acompanham diariamente. “[É difícil] para quem está ali todos os dias, tendo que levar e voltar do médico, sendo que são consultas, exames e tratamentos dolorosos, que dificultam a acessibilidade”, observa, “vemos o quanto os pacientes retornam ao instituto conversando sobre uma vez que foi o evento e o quanto foi importante. Vemos famílias que nunca tiveram aproximação e conseguiram trazer os filhos a uma atividade cultural, logo são ações super importantes que trazem alegria para esses pacientes que às vezes têm uma história de vida muito sofrida”.
Na sessão, Thalyta Ferreira, com 15 anos, estava acompanhada pela avó Claudia Daiane Ferreira. Sorridente, a jovem paciente do INCA, que passou por sessões de quimioterapia, radioterapia e por um transplante, aprovou a experiência. “Muito bom, porque a gente fica muito tempo no hospital, e a gente não tem tempo de transpor”. “Respirar um pouco”, complementa a avó, “respirar, essa é a verdade”, reforça.
*Estagiária sob supervisão de Vinícius Lisboa