É um tema muito atual o de “O Varão dos Sonhos”. As celebridades instantâneas, erigidas artificialmente nas redes sociais, são o outro lado dos cancelamentos irresponsáveis, das ondas de ódio que dominam essas redes.
Em seu terceiro longa, o diretor norueguês radicado nos Estados Unidos, Kristoffer Borgli, investe mais diretamente contra essa cultura doente que tem escravizado a sociedade no século 21, a cultura do algoritmo e dos “trending topics”.
Paul Matthews é um professor de biologia de uma pequena universidade, interpretado por Nicolas Cage. Gorado por não conseguir ortografar um livro sobre a perceptibilidade das formigas, ele vê suas ideias roubadas por uma colega que botou a mão na tamanho e publicou artigos.
Nesse vórtice, uma vez que se uma coisa tivesse a ver com a outra –e deve ter mesmo– sua filha, alguns alunos e outros conhecidos começam a sonhar com ele.
Paul aparece nesses sonhos sempre uma vez que uma testemunha que zero faz, mesmo diante de situações drásticas uma vez que um atropelamento ou um corpo derribado do firmamento. Aos poucos, ele é informado que muita gente sonha com ele. Gente que nunca o tinha visto.
Essa posição faz com que sua imagem viralize nas redes. Ele passa a ser um professor pop. Agências de publicidade querem explorar sua imagem. Programas de TV o procuram para entrevistas. Paul torna-se um varão de meia-idade e muito sucesso.
Sua esposa parece desconfiada dessa glória incerta e meio injusta, porque surgida pelos motivos errados, e está certa. A qualquer momento o jogo poderia virar. E vira, de traje.
As mesmas pessoas que sonhavam com um Paul observador, começam a sonhar com um Paul ofensivo e violento, estuprador e mesmo criminoso. Passam a odiá-lo, pois confiam mais em seus sonhos, uma outra face do mundo virtual em que estão absortas, do que na real vivência com o professor.
É uma vez que se Paul saísse de um gênero, a comédia de costumes, para outro, o horror. Em ambos, há uma grande porção de fantasia, mas talvez a maior fantasia seja a que todos nós fazemos nas redes sociais, vestindo personalidades que não são as nossas, erguendo e afundando reputações com perigosa facilidade.
“O Varão dos Sonhos” mostra uma sociedade totalmente refém das ondas momentâneas, presa aos “trending topics” do X, o velho Twitter, ou coisas parecidas. Temos o melhor e o pior à nossa disposição, e muitas vezes escolhemos o pior.
Vamos de um tema ao outro sem nos aprofundarmos devidamente. Somos levados a reagir antes de pensar, a aderir a uma ou outra desculpa sem tarar as consequências. E, de uma hora para a outra, o altar que construímos para alguém dá lugar à sepultura virtual do cancelamento.
Essa é a vida maleável, de comportamentos pouco confiáveis que as redes sociais incentivam e que o filme mostra com moderado sucesso. O que acontece com Paul pode ocorrer com qualquer um que tenha a sorte, ou o má sorte, de viralizar.
Borgli não é um bom diretor. Além da forma frouxa do filme, com uma montagem falsamente acelerada em alguns momentos e uma alternância de ritmo que não parece muito muito pensada, podemos nos concentrar no modo uma vez que a trama se desenvolve.
É um tanto tola a maneira uma vez que Paul lida com sua própria superexposição. Ele não está incorrecto, obviamente, em preferir publicar um livro científico a aproveitar a glória. Por que, logo, frequenta reuniões com gente que zero tem a ver com sua história de vida?
Sua inocência na reunião com a escritório publicitária, por exemplo, pode até funcionar uma vez que caricatura, lembrando o que o diretor havia feito em seu primeiro longa, “DRIB”, de 2017, mas poderia ter sido muito mais sátira.
Pensemos, a título de verificação, na reunião de Nanni Moretti com os executivos da Netflix italiana em seu recente “O Melhor Está para Vir”. A sátira é implacável. Não fica pedra sobre pedra.
Ou seja, quando Borgli poderia fazer uma sátira realmente impactante sobre esse mundo de viralizações e celebridades, ele prefere a intervalo, deixando de explorar as possibilidades que a premissa trazia com um claro comodismo.
O diretor tem dois longas muito ruins em seu currículo, “DRIB”, de 2017, e “Doente de Mim Mesma”, de 2022. Ironicamente, realiza agora um longa minimamente digno com um ótimo ator, que tem protagonizado muitos filmes indignos.