Custo Com Polícias é 4 Mil Vezes Maior Do Que

Custo com polícias é 4 mil vezes maior do que com egressos

Brasil

No Brasil, o gasto com polícias nos estados é 4 milénio vezes maior do que os custos com políticas para egressos do sistema prisional. Para cada R$ 4.389 gastos com policiamento nos estados, R$ 1.050 são destinados para o sistema penitenciário e somente R$ 1 para políticas que garantam os direitos de egressos.

Os dados são do estudo O funil de investimento da segurança pública e prisional no Brasil, do núcleo de pesquisa Justa, que atua no campo da economia política da justiça, com dados de 12 estados em 2022, que juntos somam 68% do totalidade dos orçamentos estaduais do país, obtidos via Lei de Entrada à Informação.

O levantamento revelou que, proporcionalmente, o Rio de Janeiro é o estado que mais gastou com polícias e não investiu nenhum recurso em políticas para egressos do sistema prisional. Em valores absolutos, São Paulo é o estado que mais desembolsou verba para policiamento.

A diretora-executiva da entidade, Luciana Zaffalon, avalia a urgência de inverter o atual funil de investimentos dos sistemas de segurança pública e criminal. Ela destaca que a destinação de recursos hoje favorece o encarceramento em volume em prejuízo de políticas para reinserção dos egressos na sociedade.

“Os estados gastam cada vez mais com o encarceramento, mas se preocupam muito pouco com políticas para as pessoas que cumprem pena e deixam a prisão. Ou por outra, os recursos distribuídos para as polícias estão concentrados no policiamento ostensivo, realizado pela Polícia Militar, deixando de lado o trabalho investigativo e a produção de provas, realizados pelas polícias social e técnico-científica”, explica Luciana, em nota.

Destaque da pesquisa, o Rio de Janeiro destina 10,8% de todo o orçamento público para despesas com as polícias Militar e Social. Dos R$ 87,4 bilhões do orçamento totalidade do estado em 2022, R$ 9,4 bilhões foram gastos com as polícias, sendo a maior fatia, de 80%, o equivalente a R$ 7,6 bilhões, com a Polícia Militar, e o restante, R$ 1,9 bilhão, com a Polícia Social.

Já para o sistema penitenciário, o estado gastou 1,2% do orçamento, equivalente a R$ 1,1 bilhão, e não destinou recursos a políticas exclusivas para egressos do sistema prisional. Ainda que muito subordinado aos gastos com polícias, o valor investido para manter o sistema prisional foi superior à soma de todo o orçamento talhado no estado para as áreas de cultura, saneamento, organização agrária, desporto e lazer e ciência e tecnologia, apontou o Justa.

Encarceramento em volume

Silhueta de presos em presídio. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Silhueta de presos em presídio. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Foto: Wilson Dias/Sucursal Brasil

“Os dados evidenciam uma prioridade de distribuição orçamentária em políticas que comprovadamente não dão resultado e que reforçam o encarceramento em volume em detrimento de políticas públicas que poderiam melhorar a qualidade da segurança pública, a vida dos egressos e de toda a população”, pontuou Zaffalon.

Ela reforça a premência de se trasladar recursos da porta de ingressão para a porta de saída do sistema prisional, o que considera infligir racionalidade para a política criminal. Entre as ações destinadas a egressos, estão programas de ressocialização, formação educacional, capacitação profissional, atendimento social e psicológico, provisão de postos de trabalho, entre outros.

Dos 12 estados, unicamente Ceará, Tocantins, Pará e São Paulo investiram em políticas exclusivas para egressos, mas nenhum atingiu nem 1% de verba do orçamento totalidade do estado. Os montantes foram de R$ 143 milénio, R$ 672 milénio, R$ 3 milhões e R$ 9 milhões, respectivamente.

O levantamento mostra que o direcionamento de recursos que prioriza o encarceramento em volume não ocorre unicamente no Rio de Janeiro. Em 2022, os 12 estados que forneceram dados para a pesquisa destinaram para políticas criminais o totalidade de R$ 53,2 bilhões para policiamento, R$ 12,7 bilhões para sistema penitenciário e R$ 12,1 milhões para políticas exclusivas para egressos.

Quando contabilizadas as ações mistas de governo, que incluem recursos destinados a pessoas privadas de liberdade e egressos, os recursos somam R$ 145,6 milhões. Ainda assim, a entidade avalia que o valor é pequeno se comparado com os investimentos na polícia e sistema penitenciário.

Ao considerar todos os estados analisados, a maioria dos gastos com polícias também foi destinada à Polícia Militar, que ficou com 66,5% do totalidade de R$ 53,3 bilhões. A Polícia Social recebeu, desse montante, 22,6% dos recursos, o equivalente a R$ 11,4 bilhões, enquanto a Polícia Técnico-Científica e Judicial ficou com unicamente 2,7%, R$ 1,3 bilhão. Ou por outra, R$ 8,7 bilhões foram destinados para despesas compartilhadas.

O padroeiro Público Diego Polachini, do Núcleo de Situação Carcerária da Defensoria Pública de São Paulo, também avalia que o protótipo de investimento estatal em segurança no país é realizado para encarcerar pessoas. “Isso mostra o fracasso de porquê a política é pensada. O encarceramento praticado pela Polícia Militar – órgão com maiores recursos recebidos – é uma política de aprisionamento de jovens negros pobres”, avalia.

Desigualdade social

Coletiva de Imprensa para apresentar novos equipamentos da Polícia do Estado de São Paulo.
Coletiva de Imprensa para apresentar novos equipamentos da Polícia do Estado de São Paulo.

Câmeras corporais – Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

O padroeiro público ressalta que esse protótipo vai no sentido contrário de uma política de maior paridade social, e que só agrava a desigualdade já instalada. “Investe-se numa política que mata ou prende uma parcela já vulnerável da população”, acrescentou. Ele ressalta que a escassez de políticas específicas para os egressos os deixa ainda mais suscetíveis a uma novidade prisão, devido ao estigma e à falta de oportunidades na vida fora do cárcere.

“Além de os egressos não terem políticas voltadas para si, ao serem condenados recebem uma multa. Depois a sua liberdade, eles têm uma dívida com o Estado, limitando os seus direitos básicos de cidadania, porquê a possibilidade de votação e dificuldade para a retirada de documentos. Ou seja, o investimento estatal é voltado à perseguição da população preta e pobre, não havendo políticas públicas em seu obséquio”, disse.

O investimento na segurança pública da forma porquê é realizado pelos estados não impacta de maneira relevante na subtracção da violência, avaliou Polachini, acrescentando que há um investimento em policiamento ostensivo e repressor e pouco investimento em investigação e políticas públicas mais benéficas.

Segundo o padroeiro público, pesquisas indicam que a utilização de câmeras corporais pelos policiais reduziu o número de mortes causadas pela polícia e o número de policiais mortos. “Uma política eficiente que reduz a violência e de dispêndio relativamente inferior que não é ampliada”.

“A polícia mata muro de 18 pessoas por dia no Brasil, de convénio com o Anuário de Segurança Pública, indicando que ela é também uma secção causadora do problema de segurança. Seria prudente que um aumento ou mesmo a manutenção desses elevados valores viessem associados com uma redução da violência e da mortandade policial”, defende.

São Paulo

Viatura da Polícia Militar com câmeras instaladas e conectadas ao sistema de monitoramento Detecta Móvel, no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em Bom Retiro.
Viatura da Polícia Militar com câmeras instaladas e conectadas ao sistema de monitoramento Detecta Móvel, no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em Bom Retiro.

Viatura da Polícia Militar com câmeras instaladas e conectadas ao sistema de monitoramento Detecta Traste – Foto: Rovena Rosa/Sucursal Brasil

Em São Paulo, para cada R$ 1.687 gastos com polícias, R$ 527 foi gasto com o sistema penitenciário e R$ 1 foi talhado a políticas exclusivas para egressos.

O governo paulista destina 4,7% de todo o orçamento público para despesas com as polícias, o equivalente a R$ 14,7 bilhões; 1,5% com sistema penitenciário, R$ 4,6 bilhões, e 0,003% com políticas exclusivas para egressos do sistema prisional, R$ 9 milhões. Para as ações mistas, que incluem os egressos e outros recortes, foram R$ 58 milhões.

Do totalidade talhado às polícias, 66,6% ficou com a Polícia Militar. Para a Polícia Social, foram 27,5% do montante e, para a polícia técnico científica, 5,1%. O percentual de 0,8% foi talhado a despesas compartilhadas entre as polícias.

Para base de confrontação, o levantamento identificou que a manutenção do sistema prisional superou os gastos somados do estado com as áreas de organização agrária, de R$ 102 milhões; indústria, R$ 112 milhões; comunicações, R$ 105 milhões; desporto e lazer, R$ 399 milhões; vigor, R$ 202 milhões; assistência social, R$ 1,6 bilhão; cultura, R$ 1,2 bilhão, e trabalho R$ 505 milhões.

Governos

Policiais civis do estado discutem possibilidade de entrar em greve em assembléia no pátio da Cidade da Polícia Civil, na zona norte (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Policiais civis do estado discutem possibilidade de entrar em greve em assembléia no pátio da Cidade da Polícia Civil, na zona norte (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Cidade da Polícia Social, na zona setentrião do Rio de Janeiro – Foto: Fernando Frazão/Sucursal Brasil

O governo do estado do Rio de Janeiro informou, em nota, que já investiu mais de R$ 2,5 bilhões, na atual gestão, na segurança pública e que somente na Polícia Social recebeu R$ 615 milhões, empregados em tecnologia, treinamento, novos equipamentos e estruturas. No último ano, o estado adquiriu 21.571 câmeras operacionais portáteis.

“Em 2022 foi criada a Sucursal Medial de Lucidez, que concentra, em um único prédio, setores de lucidez, contrainteligência, procura eletrônica e interceptações telefônicas. O serviço de lucidez da Polícia Social foi reforçado com a inauguração do Gabinete de Comando de Operações Policiais – um espaço equipado com tecnologia de última geração para a coordenação de monitoramento e gestão estratégica”, diz a nota do governo do estado.

O governo do Rio de Janeiro informou que a Secretaria de Gestão Penitenciária (Seap) tem termos de cooperação técnica voltados especificamente para os egressos e que a secretaria vai investir R$ 799 milénio em projetos voltados para serviços de atenção à pessoa egressa e mais R$ 712 milénio, oriundos do Funpen.

Vinculada à Seap, a Instalação Santa Cabrini teve destinação orçamentária, em 2023, de R$ 55,5 milhões, com verba investida em programas de qualificação e incentivos ao trabalho, resultando na formação de mais de 1.197 egressos e pela reintegração no mercado de trabalho de 1.262 profissionais em cumprimento de pena.

O governo de São Paulo informou, em nota, que a atual gestão manteve e até ampliou os recursos destinados a egressos, porquê foi o caso da verba destinada ao trabalho com pessoas egressas, que aumentou de R$ 13,8 milhões em 2023 para R$ 15,04 milhões na Lei Orçamentária de 2024. O governo destacou que o orçamento da Secretaria de Gestão Penitenciária (SAP) é proporcional à população prisional paulista, hoje estimada em 197.387 pessoas.

“Esse trabalho é feito por meio principalmente de 59 centrais de Atenção ao Egresso e Família (Caef) espalhadas pelo estado, que realizam ações voltadas para orientação e encaminhamento para programas de capacitação profissional e geração de trabalho e renda, compra ou regulamentação de documentos, espeque psicossocial, auxílio jurídico e orientação na retomada do processo de escolarização/ensino”, diz o governo paulista em nota.

Fonte EBC

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