D edge sai com imagem arranhada após culto evangélico 13/03/2025

D-Edge sai com imagem arranhada após culto evangélico – 13/03/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Quando eu tinha 20 e poucos anos, ir na D-Edge com os meus amigos toda sexta-feira era um ritual religioso —não faltávamos nunca. Naquela caixa preta com paredes piscantes e som cristalino, paquerávamos outros rapazes e ouvíamos house music da melhor qualidade enquanto praticávamos o literato ao DJ.

O DJ era o todo-poderoso que embalava a pista com a sua seleção músico, enquanto vivíamos nossa sexualidade sem susto de sermos julgados. Isto era antes de 2010, nos primeiros anos do clube, uma estação sem pautas sociais afirmativas em relação à sexualidade e em que as baladas se dividiam em duas categorias excludentes —hétero ou gay.

Viver naquela boate o que nem sempre era provável fora dali era só secção do atrativo. Havia ainda o delícia sensorial da D-Edge, com suas paredes de LED de ares futuristas do início do século 21 e um sistema de som à estação considerado a Ferrari das caixas acústicas, por permitir a audição pura da música em volumes não ensurdecedores. O clube apontava para a frente.

Mais de 15 anos depois, no literato religioso que aconteceu na D-Edge na última segunda-feira (10), nenhum dos elementos de vanguarda do clube estava presente. Ao terebrar sua balada para seguidores de Jesus, o empresário e DJ Renato Ratier fez da mansão noturna um simulacro de igreja e, com isso, permitiu a ingresso de pensamentos há muito ultrapassados, porquê a tratamento gay.

A certa fundura do literato, um leal que se definiu porquê “mona” disse que cogitou se jogar no rio Tietê. “Mona não morre, vira purpurina”, afirmou, antes de recontar à plateia que Jesus o “pegou pelas mãos” e o curou “daquela doença”. Ele contou ainda que está casado com uma mulher há 38 anos. “Deus patroa o pecante, não patroa o perversão.”

A pista de dança foi eliminada e deu lugar a fileiras de cadeiras para os fiéis sentarem. O envolvente estava iluminado por uma luz branca, daquelas de panificação, emprestando a tudo um ar de termo de sarau. Zero a ver com os LEDs charmosos, alto-astral e coloridos que são uma das marcas do clube.

As batidas da house e do techno, mandadas para as caixas de som por DJs brasileiros talentosos ou pelos principais nomes da eletrônica do cenário internacional, deram espaço à uma margem com guitarra e bateria de valor artístico duvidoso —o papel do grupo, no literato, era fazer música incidental porquê base para a cantora Baby do Brasil pregar.

Enquanto isso, Ratier, o possuidor, uma das pessoas que mais fizeram pela cena eletrônica do Brasil —lançando DJs hoje com carreiras estabelecidas e sempre indo detrás do que havia de mais moderno na música para dançar— passeava pelo lugar, de Bíblia na mão, vestindo uma camiseta com a vocábulo “aleluia” escrita em letras gigantes nas costas.

Comentei com um colega com quem frequentei por anos a D-Edge que o clube ia em direção ao pretérito ao dar espaço para ideias conservadoras enquanto, ao mesmo tempo, abraça sem pudores a pobreza estética, seja ela visual ou sonora. Ele respondeu, ironicamente mas com uma pitada de seriedade, que talvez seja justamente o oposto.

No contexto de um mundo que se volta para valores tradicionais, impulsionado pela explosão das igrejas evangélicas e uma sucessão de governos de extrema direita dentro e fora do Brasil, a D-Edge estaria, na verdade, antenada com o espírito do tempo e, quiçá, indo em direção a um triste porvir subjugado pelo conservadorismo.

É de se perguntar por que um clube que foi símbolo da vanguarda na tarifa de costumes agora dá espaço para valores do ideário de Donald Trump e por que, tendo entrado em listas de melhores baladas de música eletrônica do mundo, aceita a miséria estética. Já não há uma infinidade de lugares no Brasil para quem reza por estas cartilhas?

Por um momento, todo mundo que frequentou o clube e teve com o lugar uma relação afetiva se perguntou se a D-Edge iria substituir o techno pelo gospel, o literato ao DJ pelo literato a Jesus. Com a maré de reação negativa que Ratier recebeu, devido ao exposição da tratamento gay e a uma fala de Baby do Brasil durante o literato na qual ela defende que se perdoem abusos sexuais, a resposta parece ser não.

Menos de 48 horas depois do literato, com a imagem arranhada, ele divulgou uma missiva na qual se distancia dos discursos e reafirma o compromisso do seu clube com a inconstância sexual, além de se posicionar claramente contra a violência sexual e a fala de Baby. O empresário também afirmou que nunca mais fará cultos na D-Edge.

Mas agora o estrago foi feito. A nuvem do fundamentalismo estacionou sobre o D-Edge, e os frequentadores vão permanecer com a incerteza se aquela pista de dança —antes um lugar hospitaleiro a todos, porquê deve ser na noite eletrônica—, é de veste laica.

Folha

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