A noite muito fria do sábado (7), primeira do Best of Blues and Rock Festival, que tem quatro dias de programação no parque Ibirapuera em dois finais de semana seguidos, terminou deixando uma sensação de um show individual, com uma única estrela.
Praticamente todo mundo sabia que o grupo americano Dave Matthews Band era uma atração muito maior do que os outros artistas escalados para o dia inicial do evento. Mas o que se viu e ouviu foi uma diferença brutal.
Os brasileiros que abriram os shows à tarde, a filarmónica de rock Cachorro Grande e o cantor pop Vitor Kley, se apresentaram para um público ainda pequeno. Os ingressos estavam esgotados para a plateia na espaço externa do auditório Ibirapuera, mas a imensa maioria foi comprada por fãs de Dave Matthews. E esses chegaram mais tarde e tiveram uma noite para não olvidar.
O show foi dançante, mistura de rock, jazz e pop, uma vez que ele sempre faz. E foi muito longo, uma vez que ele quase sempre faz, duas horas e 40 minutos. Uma apresentação para manter a máxima do show business de que Dave Matthews Band é muito melhor ao vivo do que no estúdio.
Na verdade, uma injustiça aos ótimos álbuns da filarmónica, sete deles chegando ao primeiro lugar nas paradas americanas. Mas é realmente no palco que Matthews e sua turma entram em outra rotação.
E nem dá para fincar que essa força venha dos quase 35 anos de estrada. Na primeira vez no Brasil, no Free Jazz de 1998, o impacto dos shows já foi tremendo. E ali estavam dois músicos que formam até hoje uma cozinha rítmica impecável, o baixista Stefan Lessard e o baterista Carter Beauford. Os dois seguram uma pulsação intensa do início ao término da apresentação, liberando Mathews e seus outros colegas para derivações melódicas muito interessantes.
As músicas do álbum mais recente, “Walk Around the Moon”, estão completamente entrosadas com o repertório que é décadas mais idoso. Em sua proposta habitual, o líder da filarmónica parece escolher as canções na hora, pela resposta do público. Ele vai criando sequências em que as batidas fortes vão aumentando de intensidade, criando vários blocos pesados.
Esse desapego com uma setlist rígido e recluso às músicas de maior sucesso faz com que todo show da Dave Matthews Band tenha uma fardo de surpresas. Mas também abre espaço para algumas decepções pessoais. Na saída do Parque Ibirapuera, alguns fãs reclamaram de uma ou outra música que ficou fora do show. Alguma coisa originário para um artista que já colocou 21 singles no topo da paragem americana.
Deixando de lado as preferências de repertório, foi uma performance incrível, de alguém que com certeza está se divertindo tanto quanto a plateia. Matthews é um músico seguro e esperançado do que tem a oferecer ao público.
Uma curiosidade é que nas conversas antes do início do show de sábado, muita gente no gramado do Ibirapuera comentava que retornaria para o show de domingo. “Se fossem três ou quatro, eu viria em todos. São sempre ótimos e um dissemelhante do outro”, disse o biólogo Marçal Agnello, escoltado da mulher, a também bióloga Agnes Santiago.
Às 17h30, o britânico Richard Ashcroft subiu ao palco e, apesar de pouco divulgado no Brasil, conseguiu empolgar os fãs de britpop espalhados pelo gramado. Aos 53 anos, o cantor tem status de medalhão na Inglaterra. Mas, no resto do mundo, as pessoas conhecem mais o seu trabalho uma vez que vocalista do Verve, um dos pilares do rock inglês dos anos 1990. A filarmónica teve vários sucessos, mas, para o grande público, foi coadjuvante em uma cena que tinha Oasis, Blur, Radiohead e Suede.
Ele incluiu no setlist coisas de sua curso solo, na qual ostenta seis álbuns que chegaram ao top cinco da paragem britânica. Mas o público paulistano deu uma resposta muito mais entusiasmada para o repertório do Verve. Muita gente cantou junto “Bitter Sweet Symphony”, a música que deu origem a um dos clipes mais vistos da dez de 1990, no qual Ashcroft vai andando marrento pelas ruas, derrubando as pessoas.
Diante da plateia paulistana, ele não foi marrento. Simpático, surpreendeu a todos na quarta música, quando tirou o blusão, exibindo uma camiseta com a imagem do penacho de Ayrton Senna. É provável que ele retorne ao Brasil no final do ano, abrindo os shows da volta do Oasis, no Morumbis.
O próprio Ashcroft reconhece sua tempo no Verve ainda uma vez que a mais popular, principalmente no sucesso do grande álbum da filarmónica, “Urban Hymns”, de 1997. Dele, além de “Bitter Sweet Symphony”, no grande final, ele coloca no show “Lucky Man”, “Sonnet” e “The Drugs Don’t Work”. O bastante para aprazer qualquer fã do britpop.
A programação do Best of Blues and Rock Festival escalou Dave Matthews Band e Richard Ashcroft para fechar o primeiro final de semana, repetindo seus shows nos dois dias. No próximo, o americano Alice Cooper fecha a noite de sábado (14). Um dos grandes nomes do glitter rock, ele reuniu novamente os músicos que o acompanhavam no início dos anos 1970, fazendo uma revisão dos primeiros e principais álbuns de sua curso, retomando canções de “Love It to Death” (1971) e “School’s Out” (1972).
No domingo (15), os ingleses do Deep Purple voltam ao Brasil. Entre várias turnês no país, a última foi no ano pretérito, quando eles se apresentaram no Rock in Rio e mostraram muitas canções do logo recém-lançado álbum “=1”. Mas certamente o público no Ibirapuera vai querer ouvir clássicos uma vez que “Smoke on the Water” e “Highway Star”, hinos roqueiros que eles tocam há mais de 50 anos.