Débora bloch: odete roitman reflete gente como elon musk

Débora Bloch: Odete Roitman reflete gente como Elon Musk – 28/03/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Débora Bloch, que encarna Odete Roitman no remake de “Vale Tudo”, afirmou à Folha que vê sua personagem porquê um arquétipo do conservadorismo tão presente na sociedade hoje quanto em 1988, quando a versão original da romance foi exibida na Orbe, três anos depois o termo da ditadura militar.

A atriz, que começou a gravar as cenas da família Roitman na semana passada, disse que a vilã representa “um pensamento procrastinado, conservador, de extrema direita” e pode ser vista porquê um revérbero de figuras que clamam pela volta do regime ditatorial ou fazem apologia do nazismo.

“Acho tremendo porquê esse tipo de pensamento pode voltar a qualquer momento. É tremendo o Elon Musk fazer uma saudação nazista e isso ser normalizado. É tudo muito tremendo, e a Odete é uma personagem que representa esse tipo de pensamento”, afirmou a atriz, lembrando a posse de Donald Trump, em janeiro. Na ocasião, o empresário fez um gesto com o braço que foi visto por segmento do público porquê o mesmo que era feito pelos apoiadores de Adolf Hitler.

Em entrevista enquanto se arrumava para a sarau de lançamento do folhetim da Orbe, que aconteceu no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, na semana passada, Bloch contou ainda porquê recebeu o invitação para o papel e discutiu elementos porquê a vida sexual ativa de sua personagem mesmo na terceira idade, um tanto que impressionava o público nos anos 1980.

“A gente está tão avezado a ver atores fazerem par romântico com atrizes 20, 30 anos mais novidade, mas você está avezado a ver, numa romance, uma mulher permanecer com um varão 20 anos mais jovem?”, questionou a atriz.

Porquê é sua rotina de gravações?

Odete só aparece no capítulo 24, dizendo que vai chegar, e chega no 25, portanto comecei a gravar muito depois. Fiz a preparação junto com o elenco em novembro, aí teve caracterização, com cabelo e figurino, mas estou começando a gravar agora.

A preparação envolve conversar com o diretor e a autora sobre a personagem. Você pediu um tanto a eles sobre sua Odete?

Não pedi zero. Parti do texto para erigir minha Odete, mas o DNA da personagem é o mesmo. Acho engraçado que as pessoas estejam especulando sobre porquê ela vai ser, porque isso mostra que elas estão envolvidas e têm expectativa. É uma torcida —ainda que tenha torcida contra também. São três novelas no ar só na Orbe e sempre entra uma detrás da outra, portanto acho legítimo esse envolvimento do público. Estamos falando de um clássico, por fim, e de uma personagem que infelizmente ainda é muito atual.

O que mudou na sua Odete em relação à da Beatriz Segall?

A personagem é a mesma, mas sou outra atriz, e todo artista acrescenta seu repertório. Sou uma mulher de 61 anos em 2025, o que já soa dissemelhante do que seria há 37 anos, quando o original foi exibido. A autora está contando a mesma história, mas num outro Brasil. Falar mais do que isso seria dar spoiler.

Você citou a questão da idade. Odete é uma mulher mais velha com uma vida sexual ativa. Será que isso ainda choca o Brasil?

Será? Veremos. A gente está tão avezado a ver atores fazerem par romântico com atrizes 20, 30 anos mais novidade, mas você está avezado a ver, numa romance, uma mulher permanecer com um varão 20 anos mais jovem? E a Odete não faz par romântico. A relação dela com os homens mais novos não é romântica. Não é uma relação de afeto. É uma relação de troca, na qual ela usa seu poder financeiro. É uma relação sexualizada.

O público diz ter pavor de que Odete não vá proferir coisas politicamente incorretas no remake. Existe um filtro na novidade versão?

Eu não lembro exatamente porquê era, porque não assisti novamente à versão original e estou trabalhando somente em cima do texto da adaptação. Talvez algumas coisas não se repitam, mas ela diz horrores. Ela fala barbaridades politicamente incorretíssimas, mas que não parecem tão estranhas, porque a gente ainda vê as pessoas falando essas coisas.

Mas a gente não vê mais essas coisas serem ditas na televisão —o que inclusive é objectivo de críticas de segmento dos espectadores.

A gente está fazendo, com Odete, uma representação de um tipo de pensamento. É um pensamento conservador, retrógrado, preconceituoso, e que ainda está por aí.

Hoje tem mais ou menos Odetes no Brasil, em relação àquela quadra?

As pessoas estão muito mais loucas. Elas assumem mais esse pensamento. Eu não imaginei que a gente voltaria a um pensamento tão procrastinado, conservador, de extrema direita, com pessoas pedindo a volta da ditadura.

Isso vem com uma grande ração de ignorância, mas quando a gente imaginou que ia ter um deputado no Congresso defendendo torturador? Que haveria pessoas indo para a rua tutelar a ditadura? Depois de tudo o que a gente passou, depois da redemocratização, da conquista do voto, de uma geração que sofreu, foi torturada, exilada ou morta nas prisões. Acho tremendo porquê esse tipo de pensamento pode voltar a qualquer momento. É tremendo Elon Musk fazer uma saudação nazista e isso ser normalizado. É tudo muito tremendo, e a Odete é uma personagem que representa esse tipo de pensamento.

Acha que a personagem pode impactar até mais hoje do que nos anos 1980?

Naquela quadra, a gente estava menos letrado em relação a algumas questões, porquê os preconceitos. Talvez hoje seja mais chocante, mas não sei. Estou divagando.

Porquê foi o invitação para a romance?

Foi, voltou, foi, voltou, mas quando fui convidada aceitei imediatamente. Achei que era uma personagem privativo, rara e muito saborosa de interpretar.

Você teve qualquer receio?

Receio de quê? Não tive nenhuma incerteza. Achei que ia ser um delícia, e está sendo. Estou me preparando há 45 anos, portanto quando vem uma personagem boa quero mais é fazer. O que não quer proferir que eu vá fazer muito. A gente nunca sabe. Mas quando tem um bom texto e uma boa personagem já é meio caminho trilhado.

O jornalista viajou a invitação da Orbe

Folha

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