O que deveria ser uma celebração foi ofuscado por ataques homofóbicos.
No último dia 11 de junho, o jovem espanhol Dennis González Boneu, de 20 anos, ganhou duas medalhas de ouro no campeonato europeu de natação artística comemorado em Belgrado.
A dupla vitória, nas categorias solo e duo misto, com Emma García, ganhou as manchetes junto com um vídeo em que o desportista denuncia insultos recebidos nas redes sociais logo depois da publicação de vídeos com sua performance campeã.
“Não entendo se estamos no século 21 ou no século 10 antes de Cristo”, desabafou.
“Sereia’, ‘bicha [truta]’, ‘vaya pluma’” são algumas das ofensas que ele menciona no vídeo.
“Essas pessoas [que criticam] nunca ganharam zero em sua vida, não sabem o que é a disciplina, o trabalho, não sabem o que é ser vencedor da Europa, não sabem o que implica tudo isso”, diz.
No vídeo, que desde logo viralizou em todo o país e foi notícia nos principais órgãos de prelo, González afirma que não se importa com os comentários, mas que decidiu denunciá-los para evitar que outras pessoas, principalmente jovens atletas uma vez que ele, passem pela mesma situação.
“Me dá muita raiva que se digam essas coisas. Sei que comentários assim vão afetar um jovem que comece a fazer natação artística, e não quero isso”.
Em entrevista para a revista Men’s Health depois do incidente, González conta que sempre sofreu bullying no escola e que “foi complicado iniciar nessa disciplina”, porque pensava que poderia lhe trazer ainda “mais problemas”.
Nesse cenário de muita pressão e constantes críticas, diz, foi fundamental o espeque de sua família e equipe. “É complicado, mas creio que ao menos tenho as ideias claríssimas”, diz.
‘ACONTECEU MAIS VEZES’
González está longe de ser a primeira vítima de homofobia no esporte espanhol. Em 2021, por exemplo, o vencedor de waterpolo Víctor Gutiérrez denunciou o jogador Nemanja Ubovic, logo do CN Sabadell, por provocações homofóbicas durante e depois de uma partida.
“Aconteceu mais vezes, mas eu não quis compartilhar antes porque pensei que era mais positivo lançar uma mensagem conciliadora do que negativa”, disse, entre lágrimas, num vídeo publicado em suas redes sociais NA quadra. “Mas não quero deixar passar mais”.
“Estou muito orgulhoso de ser uma vez que sou… minhas lágrimas são de raiva e insuficiência. Raiva e insuficiência de que isso passe nas piscinas, campos de futebol, pistas de tênis… e que nós, profissionais, tenhamos que suportar com isso, mas também as crianças. Basta de homofobia impune no esporte”.
DESISTÊNCIA PRECOCE
No futebol masculino, a situação é ainda mais sátira. Até hoje, nenhum jogador espanhol assumiu sua homossexualidade em público.
O envolvente machista, o pânico da reação dos colegas ou da perda de patrocínios, as punições veladas dos clubes e as torcidas que normalizam insultos homofóbicos explicam em segmento essa situação.
O único caso sabido é o de um louvado. Em 2016, Jesús Tomillero assumiu sua homossexualidade por meio de um post em espeque ao dia internacional contra a #LGBTfobia.
Um mês depois, cansado das ameaças, perseguições e insultos, deixou de vez a arbitragem — com somente 21 anos de idade.
A situação é um pouco dissemelhante no futebol feminino. Atletas uma vez que Lola Gallardo, atual Olympique de Lyon, ex-Atlético de Madrid, e Mapi León, do Barcelona, assumiram-se lésbicas em 2017 e 2018, respectivamente.
Em outros esportes, a Espanha também conta com pioneiros uma vez que Kike Sarasola (hipismo), que se declarou gay em 2003, e Izaro Antxia, a primeira mulher transexual federada de futsal.
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Infelizmente, Tomillero não é o único espanhol a deixar o esporte devido a ataques homofóbicos.
O ex-nadador olímpico espanhol Carlos Peralta, por exemplo, não aguentou a pressão e deixou de competir com somente 24 anos.
“Sofri preconceitos desde pequeno por ser homossexual”, disse, em entrevista ao portal Marca em 2022. “Passei uma puerícia horroroso, e o único motivo por que fui protegido foi por ser o melhor nadador da Espanha… o que teria ocorrido comigo se não pudesse justificar isso com minhas vitórias esportivas?” [sic].
“Trocaria todas as minhas medalhas por ter tido uma puerícia normal e feliz”, disse.
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