Deputadas estaduais paulistas são ameaçadas de morte

Deputadas estaduais paulistas são ameaçadas de morte

Brasil

Deputadas estaduais da Tertúlia Legislativa de São Paulo (Alesp) receberam no último sábado (31) mensagens de e-mail com ameaças de morte e de estupro. O texto guiado às deputadas paulistas tinha texto violento e ofensivo e citava nominalmente algumas parlamentares.

A deputada Andréa Werner (PSB) conta que recebeu o e-mail e que estava em Brasília quando foi informada por sua assessoria sobre as ameaças. 


São Paulo (SP), 03/06/2025 - Deputada estadual Andréa Werner durante sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo Alesp. Foto: Alesp/Divulgação
São Paulo (SP), 03/06/2025 - Deputada estadual Andréa Werner durante sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo Alesp. Foto: Alesp/Divulgação

Deputada estadual Andréa Werner recebeu e-mail de texto violento e com ameaças de morte e estupro. Foto: Alesp/Divulgação

“Minha assessora foi a primeira que viu e notou que todas as deputadas estavam copiadas e me comunicou. Em princípio, o meu dirigente de gabinete não queria me deixar ler, mas eu insisti para ler e é um teor extremamente violento, com ameaças de morte e de estupro, com coisas muito detalhadas e de uma forma até estranha, que chocam mesmo quando você lê. Eu sempre brinco que eu estou acostumada a ser xingada, pois sou ativista há muito tempo, mas eu nunca tinha recebido zero parecido com isso”, relatou.

“O que ficou muito evidente com essa prenúncio, principalmente porque foi direcionada para todas as deputadas da Alesp, é que a misoginia e o ódio para com uma mulher nos espaços de poder não tem preferência política do tipo: ‘Ah, eu vou ameaçar só as da esquerda’. Não, esta prenúncio foi para todo mundo. Eles têm ódio a todas as mulheres no espaço de poder e eu acho que isso ficou muito evidente com esse e-mail”.

Em entrevista à Dependência Brasil, a deputada Marina Helou (Rede) avaliou o ataque porquê “inadmissível” e exige uma resposta da Vivenda. 


São Paulo (SP), 03/06/2025 - Deputada estadual Marina Helou durante sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo Alesp. Foto: Alesp/Divulgação
São Paulo (SP), 03/06/2025 - Deputada estadual Marina Helou durante sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo Alesp. Foto: Alesp/Divulgação

Deputada estadual Marina Helou avaliou o ataque porquê “inadmissível” e exige uma resposta da Vivenda. Foto: Alesp/Divulgação

“Esse foi um ataque inadmissível que prenúncio todas as deputadas da Vivenda no corpo do e-mail. Foram ameaças bastante violentas e literais, tornando-se uma questão importante e que exige resposta institucional, de investigação e de protecção para que não fique sem resposta esse ataque frontal à democracia e à participação das mulheres na política”, defendeu.

As duas parlamentares disseram já ter sofrido ameaças outras vezes, mas nunca com essa amplitude, direcionada às deputadas de direita e de esquerda.

“Foi realmente um ataque direcionado às deputadas mulheres mostrando que existe uma procura por intimidar mulheres na política e para mostrar que esse lugar não deve ser ocupado por mulheres. E isso é absolutamente inadmissível. É preciso prometer que todos se sintam seguros e que as mulheres se sintam seguras no treino de sua função”, ressaltou a deputada.

Algumas parlamentares não quiseram conversar com a prelo sobre o caso. Outras estavam em viagens ou em reuniões e não puderam falar com a reportagem da  Dependência Brasil que esteve nesta terça-feira (3) na Alesp. 

A deputada Ana Carolina Serra (Cidadania) se pronunciou por meio de nota e manifestou “seu mais firme repúdio a toda e qualquer forma de violência e tentativa de intimidação dirigidas às deputadas da Tertúlia Legislativa do Estado de São Paulo”.

“Diante da sisudez dos fatos, e com o objetivo de não prejudicar as investigações em curso, a parlamentar informa que, por orientação de sua assessoria jurídica, não emitirá declarações públicas sobre o caso neste momento. Reafirma-se, por termo, o compromisso inegociável com a legitimidade, o saudação às instituições democráticas e a proteção da integridade de todas as mulheres no treino de seus mandatos”, informou a assessoria da deputada.

Também por meio de nota, o presidente da Alesp, André do Prado (PL), manifestou solidariedade às deputadas estaduais. Ele afirmou que “nenhuma agressão pode ser tolerada”, e determinou que as polícias Social e Militar fossem acionadas para investigar o caso.


São Paulo (SP), 03/06/2025 - Deputada estadual Ana Carolina Serra durante sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo Alesp. Foto: Alesp/Divulgação
São Paulo (SP), 03/06/2025 - Deputada estadual Ana Carolina Serra durante sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo Alesp. Foto: Alesp/Divulgação

A deputada estadual Ana Carolina Serra repudiou qualquer tipo de intimidação às parlamentares do estado. Foto: Alesp/Divulgação

Já a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que está investigando um suspeito, de 28 anos de idade, que teve seu computador e telefone celular apreendidos. 

O caso foi registrado porquê prenúncio, injúria racial e falsa identidade pela Assessoria da Polícia Social junto à Tertúlia Legislativa do Estado de São Paulo.

Violência política

Em uma revelação coletiva, as deputadas da Alesp escreveram que as ameaças foram “aviltantes”.

“Além de atingir a todas, ainda citava nominalmente algumas parlamentares. Infelizmente, casos de violência política porquê esse, organizados por grupos na internet, têm sido cada vez mais comuns. Segmento das parlamentares da Alesp já tinha sofrido ameaças similares, porém, é a primeira vez que um ataque é direcionado a todas as mulheres da Vivenda – o maior parlamento estadual do país”, diz a nota coletiva.

Para as deputadas, as ameaças foram uma tentativa de silenciamento de mulheres que ocupam espaços de poder. 

“Trata-se de uma nítida tentativa de silenciar mulheres em um ataque misógino, racista e capacitista em uma situação que, embora nos cause choque, infelizmente, é mais uma frase de ódio e de violência a mulheres que buscam ocupar espaços de poder na política de nosso país”, escreveram. 

Segundo as parlamentares, o caso demonstra que é urgente que se adotem políticas públicas de enfrentamento à violência política de gênero.

Para a deputada Andréa Werner, normas internas da Alesp precisarão ser repensadas e readequadas para que as parlamentares possam se sentir seguras no envolvente de trabalho. 

“Por mais que a gente pense que geralmente esse tipo de coisa não se leva a sério, não dá para não ter temor. E cá na Alesp, a gente tem uma dificuldade que é o traje da Vivenda não poder impedir a ingresso de ninguém. Portanto, se você tem um stalker, alguém que está te perseguindo ou que te assedia, se você não tem uma ordem de restrição judicial, ele pode entrar cá”, alertou.

Andréa Werner informou que estão conversando com o presidente da Vivenda para estudar mudanças nas regras. Ela lembrou que da mesma forma os espaços na Vivenda foram mudados quando as mulheres chegaram à política, ou instalaram  banheiro feminino no Senado, em 2016, as regras internas da Alesp devem ser mudadas. 

“A verdade é que os homens não sofrem esse tipo de prenúncio, quem sofre são as mulheres. Portanto a gente vai ter que readequar as regras internas pensando nisso também”, defendeu.

Fonte EBC

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