Em seguida muro de dez anos de espera, a orquestra Detonautas vai enfim embarcar em uma turnê acústica. A série de apresentações tem início neste sábado (2), no Tokio Marine Hall, na capital paulista, e passará por Curitiba, Rio de Janeiro, Juiz de Fora e Belo Horizonte.
“Vamos tocar canções que o público gosta e que fizeram bastante sucesso. A teoria é passar por baladas, mas também por músicas mais agitadas. Queremos ter um estabilidade”, diz Tico Santa Cruz, vocalista da orquestra.
Durante o governo Bolsonaro, o Detonautas lançou músicas de protesto contra os rumos da política pátrio, uma vez que “Não Existe Salvador da Pátria”, “Roqueiro Reaça” e “Político de Estimação”.
O próprio Tico tecia com frequência críticas ao bolsonarismo, uma vez que no Rock in Rio de 2019. À idade, ele xingou Bolsonaro e disse que o Brasil passava por um momento de ódio e intolerância. Em 2021, publicou um vídeo no Instagram defendendo o impeachment do ex-presidente.
Em seguida os anos de ativismo político, Tico diz que agora quer priorizar a música. “A turnê é uma celebração. É um momento em que a gente coloca a música avante de qualquer opinião e posicionamento, até porque todo mundo já sabe o que nós pensamos.”
A mudança de postura se deve, diz ele, ao sazão. “Entendi que talvez tivesse me excedido comigo mesmo. Isso me trouxe um cansaço incomensurável do ponto de vista mental. Se eu continuasse naquele ritmo, não ia sustentar mais muitos anos de trabalho.”
Estão no repertório da turnê sucessos que fizeram a cabeça dos jovens dos anos 2000, uma vez que “Outro Lugar”, “Quando o Sol se For” e “Olhos Certos”. “Queremos que as pessoas possam trovar junto e trazer hits que lembrem momentos especiais da vida delas.”
O projeto, porém, demorou a trespassar do papel. Em 2009, eles gravaram um show acústico para ser veiculado na televisão.
Ocorre que a emissora e gravadora deles, a Sony, não entraram em combinação sobre a transmissão. O projeto, que também envolvia uma turnê acústica, acabou engavetado. Em seguida o imbróglio, os músicos saíram da gravadora e trabalharam de forma independente por quase uma dezena.
As gravações, porém, foram disponibilizadas no ducto que a orquestra tem no Youtube. “Aí, elas começaram a dar frutos por conta própria e de forma orgânica.” Sem investimento ou divulgação, os registros acumularam milhões de visualizações na plataforma. Exemplo disso é o vídeo de “Olhos Certos”, visto mais de 80 milhões de vezes.
Para Tico, o sucesso aconteceu porque o material atraiu a atenção de pessoas que, em universal, não escutam rock. “Às vezes, o face não é tão ligado a esse estilo por não gostar tanto de guitarra, mas escuta música no violão, porque faz mais sentido para ele. A gente conseguiu atingir públicos variados.”
Ao perceber o potencial das gravações, a Sony recontratou o quinteto em 2019 para um disco acústico e uma turnê baseada no trabalho. Quando começaram a ensaiar, foram surpreendidos por um novo prorrogação, dessa vez causado pela pandemia. Em razão da crise sanitária, eles só conseguiram lançar a obra no ano pretérito.
Intitulado “20 anos – Acústico”, o trabalho celebra as duas décadas de lançamento de “Detonautas Roque Clube”, primeiro disco do quinteto.
“Tudo tem seu tempo”, diz Tico. “A gente está vindo agora mais maduro, com mais experiência e com um repertório maior. No final das contas, até valeu a pena não ter lançado o acústico naquela idade.”
Além de sucessos antigos, o disco trouxe a inédita “Aposta”, música apaziguadora na qual Tico canta que está apostando no paixão. É uma mudança drástica em conferência aos trabalhos anteriores.
A proposta da novidade turnê faz lembrar a leveza dos anos iniciais do grupo, que surgiu nos primórdios da internet.
Em 1997, Tico perguntou em um chat popular na idade se alguém queria formar uma orquestra. Recebeu respostas positivas e decidiu entrar no estúdio. “Ninguém sabia tocar. Era tudo na vontade de querer fazer as coisas acontecerem.”
Levou cinco anos para que eles conseguissem lançar o primeiro disco, trabalho que trouxe hits com versos despretensiosos. Naquele momento, os sucessos do grupo passavam ao largo da sátira social. No lugar disso, ganhava relevo letras cheias de esperança e romantismo.
Não à toa, algumas de suas músicas viraram trilha da romance jovem “Malhação”, exibida entre 1995 e 2019 na TV Orbe. Exemplos são “Só por Hoje”, “Verdades do Mundo” e “Quando o Sol se For”—possivelmente o hit mais espargido do grupo.
São canções que tocavam à exaustão na antiga MTV Brasil e que fazem secção da memória afetiva dos fãs. “Ainda que possam tanger um pouco ingênuas, elas têm um paisagem emocional muito potente na vida das pessoas”, diz Tico. “É esse o poder da música. Ela funciona uma vez que uma máquina do tempo.”