Dia Do Forró: Dominguinhos Misturou Ritmos E Polêmicas, Conta Biógrafo

Dia do Forró: Dominguinhos misturou ritmos e polêmicas, conta biógrafo

Brasil

Vem paixão, vem trovar
Pois meus olhos
Ficam querendo chorar
Deixe a mágoa pra depois
O paixão é mais importante a dois

Os versos da música Sanfona Sentida, na voz e acompanhados pelo dedilhar de Dominguinhos (1941-2013), inspiraram o professor de história Gustavo Alonso, da Universidade Federalista de Pernambuco (UFPE), para o título da biografia do artista nascido em Garanhuns (PE). A letra é de autoria de Anastácia, uma das principais parceiras profissionais, e também uma das companheiras de vida do músico.


Brasília (DF), 12/12/2024 - Biógrafo Gustavo Alonso, que fala sobre Dominguinhos. Foto: Gustavo Alonso/Arquivo Pessoal
Brasília (DF), 12/12/2024 - Biógrafo Gustavo Alonso, que fala sobre Dominguinhos. Foto: Gustavo Alonso/Arquivo Pessoal
Biógrafo de Dominguinhos, Gustavo Alonso conversou com a Filial BrasilGustavo Alonso/Registo Pessoal

O livro, que deve ser lançado no ano que vem pela editora Todavia (com previsão de 380 páginas), traz detalhes sobre a inventividade, a mistura de ritmos e até polêmicas da vida do artista que ficou publicado uma vez que uma referência da sanfona e do forró, e um herdeiro músico do “rei do baião”, o também pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989). A data de promanação de Gonzagão, 13 de fevereiro, passou a ser reconhecida uma vez que o Dia Pátrio do Forró

 “[Essa imagem] de ele ser o herdeiro de Gonzagão era uma questão tensa para Dominguinhos pelo menos até a morte do Rei do Baião. Às vezes, ele abraçava essa teoria. Às vezes, não”, disse o biógrafo, que também é músico, em entrevista à Filial Brasil.

“Era um gênio. Muito humano, com fraquezas, carências, dificuldades e capacidades. Um artista intuitivo.”

Pandeiro em Garanhuns

A puerícia humilde em Garanhuns, na dezena de 1940, com os pais camponeses, passou a ter um outro tom quando foi tocar com dois irmãos no meio da cidade, o mais velho, Moraes, e o mais novo, Valdomiro. “No totalidade, a família teve 16 filhos e seis morreram. Em 1949, eles estavam tocando em frente ao Hotel Tavares Corrêa para ter verba para o almoço. A renda da plantação não dava para todo mundo”, explica o pesquisador.


Brasília (DF), 12/12/2024 - Dominguinhos e Anastácia. Foto: Dominguinhos/Arquivo Pessoal
Brasília (DF), 12/12/2024 - Dominguinhos e Anastácia. Foto: Dominguinhos/Arquivo Pessoal
Dominguinhos e Anastácia, parceira de vida e de composições – Dominguinhos/Registo Pessoal

Foi quando o planeta Luiz Gonzaga chamou o trio para tocar com ele. E deu aos meninos um telefone e um endereço no Rio de Janeiro. “Gonzaga fazia e fez isso com muita gente. Na era, o Dominguinhos não tocava sanfona, mas pandeiro”.

Em 1954, a família foi para o Rio. Todos em caminhão pau-de-arara. Dominguinhos ainda era chamado de Neném do Acordeon.

Depois de trabalhar até uma vez que tintureiro com seus 13 anos de idade, Dominguinhos procurou Gonzagão no Rio de Janeiro, ganhou crédito e passou a ser um faz-tudo do experiente músico. “Com o tempo, Dominguinhos passou a buscar um caminho próprio dele, flertando com o pessoal da MPB, por exemplo”. Ia além: misturava forró com jazz e fazia um ritmo de forma mais desconstruída, sobretudo na obra instrumental.

“Asa Branca”

Nas décadas de 1960 e 1970, o artista frustrou quem imaginava que ele poderia ser uma voz contra a ditadura, tal uma vez que Gonzagão, que não enfrentou o regime de exceção em suas obras. A morte de Gonzagão e depois de Gonzaguinha, em 1991, foi, para o pesquisador, fundamental para ele concordar, informalmente, o rótulo de herdeiro do Rei do Baião. Inclusive, nos anos 1990, ele recebeu suporte estatal para um projeto chamado “Asa Branca”, em que ele levava forró pelo país para idolatrar a memória do músico que o descobriu.


Brasília (DF), 12/12/2024 - Dominguinhos. Foto: Dominguinhos/Arquivo Pessoal
Brasília (DF), 12/12/2024 - Dominguinhos. Foto: Dominguinhos/Arquivo Pessoal
José Domingos de Moraes, o Dominguinhos – Dominguinhos/Registo Pessoal

Dominguinhos, diferentemente do Gonzaga, nunca parou de gravar música instrumental. “Nessas músicas, eu diria que estão as mais virtuosísticas obras dele”, avalia o pesquisador. Depois, o artista passou a assumir a imagem com um chapéu de vaqueiro e nunca deixou de usar. “Era mais generalidade ele comparecer com roupas modernas, camisas floridas, cabelos grandes em um flerte com os tropicalistas”.

Paixão e mágoa

O biógrafo explica que foi Anastácia (que era mais conhecida do que o parceiro) quem o ensinou a trovar. Era uma relação profissional e amorosa em que as letras também mergulhavam em empolgação ou melancolia.

“Anastácia é uma compositora que ele conhece em 1967 e tem um caso amoroso com ela. Eles viram amantes e ficam juntos até 1978”.

O término íngreme deixou mágoa na artista, que foi entrevistada pelo pesquisador. Hoje ela tem 83 anos de idade, vive em São Paulo (SP) e, segundo o pesquisador, revela detalhes da vida com Dominguinhos.


Brasília (DF), 12/12/2024 - Dominguinhos e Anastácia. Foto: Dominguinhos/Arquivo Pessoal
Brasília (DF), 12/12/2024 - Dominguinhos e Anastácia. Foto: Dominguinhos/Arquivo Pessoal
Dominguinhos e Anastácia – Dominguinhos/Registo Pessoal

Ela guardou tristeza profunda, destruiu fotografias com o idoso parceiro, mas reconhece que foi o paixão da vida dela. As traições recorrentes do artista, além de a desanimarem, foram inspirações para composições. Ficaram 30 anos sem se comunicarem e só se encontraram quando Dominguinhos descobriu o cancro que iria matá-lo.

 A história de paixão clandestina começou em uma turnê com Luiz Gonzaga. Depois, passaram a viver e se encontrar em São Paulo. “Foi lá, inclusive, que compuseram Eu Só Quero um Xodó, que é um grande clássico”.

“Antes, era Anastácia quem o levava para saber as pessoas. Ela era uma compositora. Ele compunha temas instrumentais”. A artista explicava uma vez que escolher e desenvolver um tema, e voltar para o refrão. “Ela deu a régua e o compasso para ele no mundo da cantiga”, diz o biógrafo. A parceria ganha os sons de baiões, xotes, forrós e também boleros.

Sonoridades

A união músico rendeu discos uma vez que Domingo, Menino Dominguinhos (1976). Outros álbuns que o pesquisador destaca são Apôs, tá Claro (1979), Querubim (1981) e Simplicidade (1982).

“São os meus preferidos. A discografia dele é longa. Depois tem a parceria com o Nuno Cordel também, em meados dos anos 1980, quando ele não tem mais a Anastácia. Ele se separa dela em 1978 e também da esposa no Rio de Janeiro porque ele se apaixona por outra artista, Guadalupe, com quem ele ficou casado por muro de dez anos”.

Dominguinhos, sem Anastácia, passou a procurar compositores uma vez que Alceu Valença, Chico Buarque, Djavan e Gilberto Gil. “Ele teve grandes parceiros”. Mas o artista apreciava aqueles que respondiam rapidamente. Por isso, sentia falta da antiga companheira.


Brasília (DF), 12/12/2024 - Milton Nascimento e Dominguinhos. Foto: Dominguinhos/Arquivo Pessoal
Brasília (DF), 12/12/2024 - Milton Nascimento e Dominguinhos. Foto: Dominguinhos/Arquivo Pessoal
Milton Promanação e Dominguinhos – Dominguinhos/Registo Pessoal

Protagonismo

Dominguinhos, na avaliação do biógrafo, trouxe uma modo novidade para o gênero do Luiz Gonzaga. A sanfona que ele usou mais tempo na vida foi um protótipo Giulietti, ítalo-americana, que ele comprou usada na Inglaterra.

“Ele se encantou com aquela sonoridade”. E isso fez segmento das transformações musicais dos anos 1970. “Ele é um agente fundamental desse momento”.

O forró misturado a outras influências entoaram uma novidade história para a música nordestina. O pesquisador afirma que não houve um batismo solene de Rei do Forró, mas considera que Dominguinhos ajudou a moldar o ritmo que é ouvido no século 21.

“Hoje em dia, todo sanfoneiro quer ter o instrumento igual do Dominguinhos”. E também a inventividade de uma sanfona que não parou, que cantava o paixão, comemorado com xodós, que “contente meu viver” e pela procura de estar “de volta para um aconchego”.

*Com colaboração de Cibele Tenório, da Rádio Pátrio

Fonte EBC

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