De repente, sem que ninguém saiba a razão, aparelhos de ar-condicionado começam a despencar do basta dos prédios de Luanda em “Ar Condicionado”, filme da Geração 80, produtora de jovens diretores angolanos que se arriscam em toques de realismo mágico à tendência africana.
Em uma cidade do Mali, rebeldes islâmicos ameaçam a vida de uma família em “Timbuktu”, drama de feições mais clássicas do veterano e multipremiado Abderrahmane Sissako, nascido na Mauritânia.
Sissako, a Geração 80 e outros africanos avante de criações cada vez mais originais, embora muito pouco conhecidas por cá, estão na primeira temporada da série “Encontros com o Cinema Africano”, que estreia neste sábado, dia 2, na TV Brasil.
Porquê diz Joel Zito Araújo, idealizador e principal responsável pela produção, a série é um “projeto de vida”.
“Os africanos escravizados que chegaram ao Brasil trouxeram grandes culturas, mas fomos educados para crer que só trouxeram a força bruta. Difundir o cinema africano é dar visibilidade a esta rica história civilizatória, que integra o jeito brasílico de ser”, diz o diretor de longas porquê “As Filhas do Vento”, de 2004.
Embalado pela curso bem-sucedida do documentário “A Negação do Brasil”, lançado em 2001, Joel Zito passou a viajar com frequência para os países do continente e foi convidado a integrar a Federação Pan-Africana de Cineastas.
Porquê curador do Encontro de Cinema Preto Zózimo Bulbul, função que exerceu de 2013 a 2018, ele levou ao Rio de Janeiro diretores porquê Andrew Dosunmu, da Nigéria, um contato que aguçou ainda mais seu interesse pelo tema.
A partir de 2018, Joel Zito começou a viajar para as entrevistas de “Encontros com o Cinema Africano”. Aproveitava as brechas entre um trabalho e outro, e não parou desde logo.
O primeiro dos cinco episódios tem porquê fio condutor uma entrevista com Abderrahmane Sissako, um dos mais admirados nomes do cinema africano da atualidade.
O diretor de “Bamako”, com Danny Glover, lembra pioneiros da produção de filmes no continente, porquê o senegalês Ousmane Sembène, e comenta os estereótipos associados à vida e à cultura africana. “Construímos uma imagem de continente de guerra e de miséria. A África é muitas outras coisas, mas foi reduzida a isso.”
Além de “Timbuktu”, o mais famoso dos seus filmes, a série exibe passagens de “A Vida sobre a Terreno”, de 1998, e “Heremakono: À Espera da Felicidade”, de 2002.
O segundo incidente aborda a curso de um parelha de cineastas, o etíope radicado nos EUA Haile Gerima e a americana Shirikiana Aina. Integrantes do L.A. Rebellion, movimento de diretores negros que durou de 1967 a 1989, eles lançaram filmes de tom contundente, porquê “Sankofa”, de Gerima, e “Through the Door of No Return”, de Aina.
Os três episódios seguintes encontram a África lusófona. Ao enfocar Moçambique, a série lembra Maputo porquê capital do cinema na África entre as décadas de 1970 e 1990, quando Samora Machel liderava o país. “Machel via o cinema porquê um fator de reconstrução do país. Foi ele quem levou para Moçambique diretores porquê Ruy Guerra, Godard e Jean Rouch”, diz Joel Zito.
Segundo o diretor, “não tenho a pretensão de esgotar o tema em episódios com muro de 28 minutos cada um. Por isso, chamo de ‘encontros’, é uma teoria de primeiro contato”.
O cinema angolano aparece no quarto incidente. Joel Zito ressalta inicialmente os filmes de caráter realista de Zezé Gamboa, divulgado pela comédia “O Grande Kilapy”, com Lázaro Ramos.
Retrata em seguida o trabalho da Geração 80, que concilia denúncias políticas e sociais, e intervenções nonsenses. “Esse coletivo é uma espécie de Conspiração Filmes de Luanda”, conta o diretor em referência à produtora carioca, de onde saem filmes de ficção, documentários, trabalhos de publicidade e clipes.
O último incidente é devotado a Cabo Virente, país de diretores experientes, porquê Leão Lopes, e jovens em subida, porquê Samira Vera-Cruz.
Joel Zito procura viabilizar uma segunda temporada para falar de países porquê Nigéria, África do Sul e Senegal. E ainda Burkina Fasso, que sedia o Fespaco, o maior festival de cinema da África. Tão grande que a início acontece em um estádio com capacidade para 30 milénio pessoas em Ouagadougou, a capital do país.