Dj Jiraya Uai Mostra Em Barretos A Força Do Funk

DJ Jiraya Uai mostra em Barretos a força do funk – 16/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Zero de Alok ou DJs do TomorrowLand e grifes internacionais. O principal DJ da Sarau do Peão de Barretos 2024 é Jiraya Uai. O goiano de 26 anos, que mistura óculos da Oakley com cinto do Tião Carreiro, é a faceta da novidade maré de funk que vem tomando o interno do país — e ecoando até em capitais porquê São Paulo e Rio de Janeiro.

Mais que um gênero, o funk é um linguagem —corre na velocidade do WhatsApp, finca terreno por onde anda e se transforma ao sabor da gente, porquê uma língua e seus falares. E o dialeto que vem ganhando força no país vem do Meio-Sul do Brasil. “Olha o Trem”, um dos sucessos do Jiraya Uai, tem muro de 25 milhões de visualizações no YouTube.

De cima a insignificante, na região que se estende pela BR-163 e suas franjas —o mais importante galeria do agronegócio vernáculo—, Jiraya faz do seu palco dezenas de feiras agrícolas do país. Ele dá o play numa fita, pula com um dançarino, faz uma perdão para o público e volta ao controle do equipamento antes da próxima música. Tudo é filmado para as redes sociais. “Tem um faceta que faz filmagens unicamente para vídeos de humor”, conta o DJ, que viaja com 20 pessoas na equipe.

O time numeroso estende o show para a internet e para a lona. Jiraya é porquê o rabi de um espetáculo que mistura música e circo, graves potentes e palhaçadas prontas para virar meme com dançarinos fantasiados e pirotecnia. É um estilo peculiar que o DJ toca ao som de eletrofunk. “É a junção do eletrônico com funk”, ele diz. “Tem as vozes dos MCs e o eletrônico, mas também tem o sertanejo, com a voz dos cantores.”

Unir funk e sertanejo não é novo na indústria da música. A teoria é juntar artistas dos dois gêneros musicais mais populares do país para multiplicar lucros. De Ludmilla a Ana Castela, de Gusttavo Lima a MC Daniel, muitos já se lançaram na empreitada. Jiraya Uai, porém, representa um momento em que, em vez de cantores, DJs assumem o protagonismo da cena. Ele e sua turma tocam o dança.

“A galera que escuta o eletrofunk do Jiraya Uai não estava mais se identificando com aquele sertanejo dos caras fortões, camisa apertada, topete, calça colada”, diz Santiago Maia, empresário do DJ. “E aí, depois da pandemia, aparece o Jiraya: um faceta de botina, fivela, chapéu, alargador. Se um show dele tem dez milénio pessoas, 500 delas estão de chapéu, e no show de sertanejo não é assim.”

A hiper-localização da música e esse misto de referências tradicionais e modernas também dão a letra para o sucesso do funk cuiabano. Nos últimos meses, as faixas “Ei Moto Táxi” e “Achei que Era Pagode” entraram no topo das paradas. Ambas têm vocais de MCs cariocas —Monik do Pix e Priscila— e versões de sucesso feitas por DJs cuiabanos.

“Funk cuiabano é aquela batida que rola muito no som automotivo por cá,” conta o DJ Helinho, que assina o funk do mototáxi. “E a gente fez uma pegada para tocar nas baladas que tem em Cuiabá, porque antigamente só tocava funk do Rio cá, portanto a gente fez uma adaptação para render no som automotivo e tocar nas casas de show daqui.”

Nos anos 2000, o funk carioca se embrenhou no Meio-Oeste porquê “pancadão” —encontros de aficionados por som automotivo onde DJs tocavam a dance music do momento. “E também tinha vocais de funk com um outro tipo de grave, com outro tipo de teclado”, afirma Helinho. “A gente dessa geração resolveu mudar isso.”

Toques graves que surgem sempre em quatro tempos e acordes simples marcando o ritmo dão a tônica dos produtores cuiabanos —ao contrário da polirritmia dos cariocas ou do maximalismo dos paulistas. “Um bom funk de Cuiabá tem que ter a marcação muito ritmadinha”, diz o DJ Olliver, de “Achei que Era Pagode”. “Quando a gente toca, é difícil o dança permanecer parado.”

Mais ao sul do país, em Santa Catarina, o que faz sucesso nos bailes é o mega, que também cruza a música eletrônica de pista com vocais de funk. A produção, porém, é mais centrada em trazer o funk para os ritmos de gêneros porquê tech house e minimal, com seu curso mais lento e linhas de base encorpadas.

“Um bom mega funk tem que ter um bom vocal de funk, porque é o que o público canta”, diz a DJ Fedrizzi, conhecida porquê a rainha do mega funk. Nascida em Lages, a jovem vive em Itapema, meia hora de Itajaí. A cidade é considerada a capital do mega funk, um subgênero que nasceu há menos de dez anos.

“O mega funk vem do som automotivo, principalmente nessa região de Itajaí, onde antigamente rolava competição de sege para ver qual tinha o som mais cocuruto —o sege precisava soltar o funk mais poderoso, aí foi se criando o mega funk, que tem um grave muito sedento”, afirma a DJ.

Esse movimento funkeiro pelo centro-sul pode ter sua origem traçada em Curitiba. Na capital paranaense, o funk ganhou novidade forma na viradela dos anos 2000 com a equipe da Eletrofunk Brasil. Misto de selo e escritório de eventos, a empresa tinha porquê principal produtor músico o DJ Cleber Mix, figura tarimbada nas casas da cidade e pioneiro na cena.

“Eu tocava numa morada chamada Big Bowling, e comecei a fazer montagens de funk com dance music”, lembra Cleber Mix. “Coloquei o nome eletrofunk porque, pra mim, era um estilo de música eletrônica — misturar aquele dance do Gigi d’Agostino com funk, porque eu era influenciado por flashback, italo dance, coisas que eu ouvia na Jovem Pan. E depois veio o funk carioca, um pouco que fluía muito cá nas festas de som automotivo.”

Cleber assina a produção de músicas porquê “Ai Uma vez que Eu Tô Bandida”, de MC Mayara, sucesso na internet brasileira em 2011. O clipe se tornou um meme precoce no YouTube com seu ar mambembe, letra atrevida e estilo paródico —uma versão de “Hello”, hit pop da dez. A fita alçou à notabilidade a jovem de 17 anos de um dia para o outro.

“Foi uma coisa muito repentina, eu tive de aprender a fazer show em um mês, e lembro que no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul tinha bastante show”, diz Mayara, que tem notado um prolongamento na procura de suas apresentações na esteira do novo fôlego do eletrofunk. “Deu uma melhorada recentemente, aumentou o número de shows que faço por mês.”

A agenda mais concorrida, não se discute, é de Jiraya Uai. Um dia ele aparece em Paragominas, no Pará, e no outro já está em Apucarana, no Paraná, hasteando a bandeira do Goiás embaixo das picápes. Paraguai e Argentina estão na sua mira e São Paulo e Rio são uma possibilidade. “No primórdio me chamavam de doido, de palhaço, e era um duelo”, ele diz. “Mas a gente gosta de duelo.”

Folha

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