Djamila Ribeiro: Dizzy Gillespie E A Música Brasileira 09/01/2025

Djamila Ribeiro: Dizzy Gillespie e a música brasileira – 09/01/2025 – Djamila Ribeiro

Celebridades Cultura

Noites detrás, fui tomada por um sentimento de profunda realização. Estava com minha filha, vendo-a encantada com a riqueza do jazz, um gênero que aprendi a amar e que, para minha alegria, faz segmento da vida dela.

Estamos em Novidade York para as férias em seguida um semestre letivo na Universidade de Novidade York, e Thulane me disse que gostaria de ver a um show de jazz. Quando ela esteve no Reino Uno, onde seu pai fez doutorado sanduíche, pôde ir a uma vivenda de jazz em Londres, onde amou a experiência.

Bom, já tínhamos outras programações para essa semana de férias e, por possibilidade, a noite disponível no Blue Note, lugar histórico do jazz na Bleecker Street, tanto pelos assentos quanto pela nossa agenda, seria estrelada por Dizzy Gillespie All Star. Eu achei o sumo, pois meu pai, com quem passei a gostar e ouvir o jazz na minha juventude, amava ouvi-lo.

Mas confesso que não conhecia a fundo a história de Dizzy Gillespie, morto em 1993, até essa noite, quando descobri a relação do trompetista com a música brasileira. A orquestra da noite no Blue Note foi formada por John Lee, diretor músico e que, assim uma vez que o baterista Tommy Campbell, se apresentou por anos com Gillespie e segue divulgando seu legado. Outrossim, o All Star traz Charlie Porter no trompete, Erena Terakubo no sax, Abelita Mateus no piano e Roger Squitero na percussão.

O baixista John Lee, que desde os anos 1980 dedica sua vida a manter viva a música de Dizzy, compartilhou histórias entre as músicas, contando uma vez que o trompetista reconhecia a riqueza das influências brasileiras e as integrava ao seu repertório.

Dizzy via a música sul-americana, em próprio a brasileira, uma vez que manadeira de inspiração para seu jazz, desenvolvendo um ritmo absolutamente inovador. Durante a óptimo apresentação, a orquestra tocou músicas de Tom Jobim, João Bosco e Ivan Lins para uma série de aplausos.

Vale manifestar que Dizzy, com sua capacidade de gerar pontes, incorporou influências afro-cubanas, em ritmo e histórias que enriqueceram sua música. Ele também estabeleceu trocas importantes com músicos da Argentina, uma vez que Lalo Schifrin, reconhecendo a profundidade e a flutuação músico do continente americano.

Suas explorações musicais não eram meros detalhes técnicos; elas eram encontros com troca, pois, mesmo partindo de um país imperialista, Dizzy reconheceu a humanidade do latino-americano, estabelecendo conexões, desafiando barreiras e criando música, um caso que deveria ser o setentrião para as trocas culturais contemporâneas entre o país do setentrião e a América do Sul.

Em 1964, ele surpreendeu o mundo ao anunciar sua candidatura independente à presidência dos Estados Unidos. Era uma candidatura simbólica, mas carregada de provocações. Ele prometeu renomear a Lar Branca uma vez que “Blues House” e nomear grandes músicos uma vez que Duke Ellington e Miles Davis para cargos de liderança. Satírica e lançada numa estação de segregação racial, em que pessoas negras geniais se apresentavam para plateias segregadas, sua campanha trouxe reflexões que continuam relevantes.

Hoje, pensando naquele momento único no Blue Note, vejo uma vez que a experiência de estar com minha filha também reflete essa transmissão de valores e histórias. Naquela noite, sentada ao lado dela, percebi que uma melodia que meu pai ouviu e trouxe à minha vida agora ressoa também no coração dela. E pude imaginá-lo conosco, apreciando o espetáculo.

Ela, fascinada pelas melodias e pelo talento dos músicos, é uma extensão de um tanto que eu aprendi a amar. Essa conexão, que atravessa gerações, que a música traz —uma vez que o jazz, o samba, entre outros ritmos— é memória, identidade e partilha antigo.

Dizzy, mesmo mais de 30 anos em seguida sua morte, permanece imortal não exclusivamente por suas contribuições ao jazz, mas pela força de suas ideias e pelo impacto que continua a gerar. Ele nos lembra que as fronteiras entre culturas são, na verdade, pontes esperando para serem atravessadas. E que momentos uma vez que aquele no Blue Note —onde John Lee e seus companheiros mantêm viva a labareda de Dizzy— são celebrações daquilo que é mais humano: a capacidade de nos conectarmos através da arte.

Na sua candidatura à presidência, ele sonhou com um mundo onde a música pudesse inspirar mudanças sociais profundas. Talvez ele soubesse que essas transformações começam justamente assim: com pequenos momentos de invenção, passados de uma geração para outra, no coração pulsante de uma noite de jazz.


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Folha

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