O Música em Letras entrevistou Pedro Serra (diretor) e Rod Roble (produtor e diretor), responsáveis pelo documentário “Quem são Arnaldo Brandão?” que levará ao público, no final de 2025, a trajetória músico do talentoso instrumentista, arranjador e compositor carioca Arnaldo Brandão.
Brandão, que no próximo dia 2 de dezembro completará 73 anos de vida, é contrabaixista desde 18 anos. Fez secção das bandas The Bubbles e a Bolha, antes de ir morar em Londres, no primórdio dos anos 70, tornou-se companheiro de Caetano Veloso e Gilberto Gil e conviveu com os Rolling Stones, mais especificamente com Mick Taylor, guitarrista da filarmónica entre 1969 e 1974.
De volta ao Brasil, Brandão tocou, entre outros, com Raul Seixas (1945-1989), Jorge Benjor, Jorge Mautner, Gonzaguinha (1945-1991), Luiz Melodia (1951-2017), Caetano Veloso e Gal Costa (1945-2022), além de ter feito secção das bandas dos Doces Bárbaros, A Outra Margem da Terreno, Blitz, Brylho e Hanoi-Hanoi.
Entre os hits compostos por Brandão figuram “Noite de Prazer”, com Claudio Zoli “O Tempo Não Para”, com Cazuza; e “Rádio Blá”, com Lobão e Tavinho Paes, além de vários arranjos marcantes uma vez que o que escreveu para “Odara”, música de Caetano Veloso.
Leia, a seguir, a entrevista exclusiva que os diretores do documentário “Quem são Arnaldo Brandão?”, Pedro Serra e Rod Roble, concederam ao blog Música em Letras, revelando, entre outras informações, que a maconha responsável por levar Gilberto Gil à prisão, em 1976, era de Arnaldo Brandão.
“Quem são Arnaldo Brandão?” é o primeiro documentário que vocês realizam juntos?
Já fomos parceiros antes em projetos comerciais, mas leste é nosso primeiro filme juntos.
Há quanto tempo estão gravando “Quem são Arnaldo Brandão?”?
Começamos há murado de um ano.
Quantas entrevistas foram realizadas e quantas ainda faltam para finalizar o doc?
Já fizemos murado de 20 entrevistas e ainda temos muitas pela frente. Talvez umas 15. O Arnaldo é um faceta que passou por muitas fases importantes da música desde os anos 70, participando da vida e curso de muita gente nesse período, portanto precisamos de um grande elenco para narrar essa história uma vez que ela merece ser contada.
Quem são os entrevistados?
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé, Nelson Motta, Frejat, Samuel Rosa, Leoni, George Israel, Guto Goffi, Dadi, Rodrigo Santos, Paulinho Moska, Vinicius Cantuaria, Tomas Improtta, Claudio Zoli, Zé Ibarra, Dé Palmeira, Charles Gavin e Evandro Mesquita já foram entrevistados, além de uma primeira sessão com o Arnaldo Brandão.
Ainda temos uma série de entrevistas pré-marcadas com Lobão, Baby do Brasil, Kika Seixas, Oferecido Villa Lobos, Liminha, Leone, além de jornalistas especializados e alguns nomes que, uma vez que ainda não estão 100% marcados, preferimos não vulgarizar.
Além das entrevistas, estamos organizando encontros entre o Arnaldo e alguns de seus parceiros. Já promovemos o encontro dele com o Jards Macalé, em uma cena engraçadíssima onde eles leem as críticas de jornal da era do show da Gal Costa na boate Sucata, escoltado pela The Bubbles e produzido pelo Macalé. Fizemos também o encontro do Arnaldo com o Cláudio Zoli, seu parceiro na filarmónica Brylho, com quem compôs um de seus grandes hits [“Noite de Prazer”] .
Estamos acompanhando também o Arnaldo nos bastidores de alguns shows, uma vez que o do Blue Note, onde o acompanhamos no camarim com Paulinho Moska, Evandro Mesquita, George Israel e Milton Guedes, e uma vez que o do Circo Volátil, com Lobão. A teoria é que o documentário vá além de depoimentos e imagens de registo, mas que mostre quem é o Arnaldo também hoje em dia, um músico que continua produzindo, compondo e se fazendo importante no cenário músico brasiliano.
Qual testemunho desses entrevistados surpreendeu vocês e por quê? Em qual deles há uma revelação? O que foi revelado?
O que mais nos surpreendeu em todas as entrevistas foi a pasmo de todos pelo Arnaldo e a unanimidade em descrevê-lo não só uma vez que um grande músico, mas uma vez que uma grande pessoa. São depoimentos emocionantes e recheados de boas lembranças.
Dé Palmeira [um dos integrantes originais do Barão Vermelho], por exemplo, diz que decidiu virar baixista depois que viu o Arnaldo tocando com o Caetano, na Outra Margem da Terreno. Já o Samuel Rosa lembrou emocionado da magnanimidade do Arnaldo no primórdio da curso do Skank, quando a filarmónica ainda chamava Poso Cima, chamando-o para tocar e apresentando pessoas. E o Dadi Roble lembrou que foi com um insignificante emprestado do Arnaldo que ele fez o teste para entrar no Novos Baianos.
Arnaldo chegou a nos perguntar: “Mas não vai ter ninguém para falar mal de mim?”. Bom, continuamos procurando, mas até agora, zero…[risos].
Mas para além dos depoimentos dos entrevistados, nos surpreendeu a forma ensejo e sincera com que o Arnaldo fala de todos os períodos da sua vida, uma vez que a convívio com os Rolling Stones e o final da relação com o Mick Taylor, portanto guitarrista da filarmónica no início dos anos 70. arnaldo também fala sobre sua relação com as drogas, que foram manadeira de seu sustento em Londres por um tempo, e histórias maravilhosas, uma vez que a de quem era a maconha que estava com Gilberto Gil quando ele foi recluso em 1976, em uma turnê dos Doces Bárbaros em que o Arnaldo era baixista.
Spoiler: a maconha era do Arnaldo.
E o engraçado é que alguns entrevistados [para o documentário] dizem, durante algumas histórias, “mas tem uma secção que eu não posso narrar”, e aí falamos que o Arnaldo liberou tudo.
Uma dessas histórias foi contada pelo Frejat e pelo Paulinho Moska (os dois depois de falar que não podiam narrar): Arnaldo estava viajando com cocaína para Londres e foi parado no aeroporto. Revista daqui, revista dali, já quase chegando na droga, o policial encontra um objeto que tinha um formato fálico. Aí ficou tão constrangido que mandou o Arnaldo ir embora. O artefato era uma estátua que alguém tinha mandado de presente.
“Quem são Arnaldo Brandão?” é um documentário feito para as telas dos cinemas ou para as plataformas de streaming? Qual será sua duração?
O documentário será finalizado com versões de 90 e 52 minutos. Vamos percorrer festivais com a versão de 90 minutos, antes de lançar em streaming ou TV. E aí a duração vai depender do meato ou da plataforma. Estamos em negociação ainda. De qualquer forma, queremos fazer ao menos algumas sessões em cinemas do Rio, São Paulo e Belo Horizonte, onde o Arnaldo tem um de seus maiores públicos.
Qual o dispêndio totalidade do documentário?
O documentário está sendo produzido pela produtora Do Rio Filmes [de Pedro Serra], com investimento próprio. É uma história que não queríamos esperar para narrar e, uma vez que temos toda a estrutura, iniciamos as filmagens.
Agora estamos fechando financiamento para a pós-produção e, principalmente, a compra dos direitos das músicas e vídeos que precisamos usar no filme. O Arnaldo participou de tanta coisa, tocou com tanta gente e compôs tantos hits que é impossível não usar pelo menos umas 15 músicas famosas (e caras) no documentário. Porquê ainda estamos em negociação, prefiro não prezar esse valor.
Qual a maior dificuldade encontrada na realização do documentário?
Nessa tempo de produção, o documentário vem acontecendo sem dificuldades. Algumas entrevistas foram mais difíceis de marcar. Por exemplo, tivemos que esperar o término das “férias radicais” do Caetano no primórdio do ano, o término da turnê do Gil etc. Mas temos conseguido todas as entrevistas que queremos.
Nossa maior dificuldade acho que vem agora, na negociação dos direitos de músicas e imagens. Mas já temos algumas boas conversas iniciadas e estamos confiantes que conseguiremos liberar a maior secção do material que precisamos.
Em qual momento da produção encontra-se “Quem são Arnaldo Brandão?”
O filme encontra-se na tempo de produção. Até o primórdio do ano que vem queremos terminar todas as entrevistas. Enquanto filmamos já estamos analisando o material, preparando alguns edits, mas só vamos entrar mesmo na edição a partir de março [2025].
Qual a data prevista para o lançamento do documentário?
Nosso objetivo é lançar o filme até o final de 2025, primeiramente passando por alguns festivais e sessões no cinema, antes de chegar em streaming ou TV.
Em que “Quem são Arnaldo Brandão?” se destaca de outros documentários que abordam a obra e a trajetória de músicos?
O principal destaque do documentário acaba sendo o personagem em si, porque o Arnaldo é uma pessoa que não é muito conhecida, mas todo mundo o conhece e está em todo lugar. Quando você ouve o insignificante de “Odara”, ali está o Arnaldo. Quando você vai no barzinho e tem um faceta tocando “Noite de Prazer”, ali está o Arnaldo. Esse é um documentário em que você vai descobrindo que tem uma intimidade com o personagem durante o filme. O Arnaldo é tipo o Ronaldinho Gaúcho com os rolês aleatórios. Margem Blitz? Ele foi da primeiríssima formação. Rolling Stones? Ele estava lá com os caras quando eles estouraram. Caetano e Gil no exílio? Ele tava lá, tocando com os caras no famoso festival da Ilhéu de Wight. Eu podia permanecer listando várias outras conexões, mas prefiro que vocês assistam ao filme.
Quem assina a trilha sonora de “Quem são Arnaldo Brandão?” ?
A trilha original vai ser muito secundária. A teoria é que as músicas do Arnaldo, seus parceiros e amigos ajudem a narrar a história. Mas queremos que o Arnaldo grave em estúdio algumas versões também (mas ainda não contamos isso pra ele).
Quais músicas fazem secção da trilha?
Além das composições mais famosas do Arnaldo, uma vez que “O Tempo Não Para”, “Rádio Blá”, “Noite de Prazer” e “Totalmente Demais”, teremos músicas da tempo da Bolha, Doces Bárbaros e da A Outra Margem da Terreno, uma vez que, por exemplo, “Odara”.
O que as pessoas devem ter em mente quando forem ver ao documentário “Quem são Arnaldo Brandão?”?
Que elas vão fazer um passeio pela história músico do país através de um músico incomparável, que participou ativamente de alguns dos períodos mais efervescentes dessa história. Um músico admirado por alguns dos maiores músicos desse país. E que elas vão se surpreender com o quanto elas já conhecem o Arnaldo Brandão.