Documentário Sobre Lupicínio Rodrigues Alcança Sua Poesia 16/03/2024

Documentário sobre Lupicínio Rodrigues alcança sua poesia – 16/03/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Numa primeira sentimento, “Lupícínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor”, de Alfredo Manevy, é um documentário músico porquê muitos outros. Vemos um empilhamento de imagens de registro com entrevistas de várias épocas e até uma narração do outrora onipresente Paulo César Pereio.

Dois fatores, mas, contribuem para mudar um pouco a avaliação. O primeiro vem de um tropeço: a produção tinha material de entrevistas com o compositor, feitas de 1968 a 1974, ano de sua morte, mas a maior segmento somente em áudio. A saída foi inventar com a dissociação entre imagem e som.

Quando Lupicínio fala dos três meses que passou vendendo samba no Rio de Janeiro para se sustentar, vemos imagens de fotos e filmes da quadra, e principalmente de “Rio Zona Setentrião”, de 1957, longa de Nelson Pereira dos Santos que narra, disfarçadamente, uma história com pontos parecidos, a de Zé Keti.

Essa associação criativa e libertária entre imagens e sons de registro põe o testemunha diretamente em uma ambiência músico de outros tempos, com suas particularidades e precariedades, figuras folclóricas e aproveitadores.

O outro fator vem do próprio biografado. Nesse tipo de filme, é melhor que tenha participado de boas histórias. Lupicínio, compositor de fala mansa e canções marcantes porquê “Nervos de Aço”, “Volta” e “Felicidade”, é protagonista de várias delas. Desde a puerícia e a juvenilidade, na Ilhota, bairro boêmio de Porto Satisfeito, até quando serviu ao Tropa em Santa Maria, no interno do Rio Grande do Sul, e compôs uma cantiga criticando a comida.

As desilusões amorosas que ele transformava em músicas; as amantes e até uma esposa paralela, cuja filha é uma das entrevistadas; os bares e restaurantes que abriu para dar espaço a músicos; a maneira porquê algumas de suas canções viajavam por todo o Brasil e mesmo a Argentina e o Uruguai.

Um de seus sucessos, “Se Casualidade Você Chegasse”, foi até utilizada em um filme de Hollywood, “Dançarina Loura”, de 1944, numa versão instrumental nunca creditada ao verdadeiro compositor.

Um entrevistado informa das duas grandes matrizes da música de Lupicínio: o samba carioca e o tango prateado. Logo depois, uma versão de “Vingança” evidencia essas matrizes, o que mostra um libido de amarrar as histórias, preocupação que esbarra também na constatação de que o compositor hoje seria cancelado.

Suas músicas falam de vingança, dor de cotovelo, mulheres traiçoeiras. Têm texto machista, por vezes até misógino. Falam de um “sentimento da cornitude”, na sentença de Augusto de Campos, e desfilam ideias que já não são mais aceitas.

Argumenta-se, com razão, que o cancelamento desmancharia um importante marcador do tempo e os sinais do que melhorou e do que falta melhorar em nossa sociedade

O filme não desvia do racismo, que perpassa toda a curso do músico e o Brasil da quadra. O bairro de Lupicínio era basicamente habitado por negros, segregados de uma sociedade que ainda guardava o ranço escravocrata. Mas era também onde boa segmento da melhor música da cidade era criada.

Sua relação com o Grêmio, por exemplo, parece ter se oferecido porque o Internacional foi o único clube lugar que não aceitou treinar contra o time amante de seu pai, formado unicamente por jogadores negros. Lupicínio compôs o hino do tricolor de Porto Satisfeito.

Vemos o saudação que músicos de gerações posteriores porquê Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Marisa Monte ou Cazuza tinham por ele. Cazuza chega a expor que Lupicínio talvez fosse sua maior influência.

Somos informados de que os músicos negros tocavam muito nos cinemas da cidade. A partir dessa informação, o filme mostra a modernização do bairro da Ilhota, que coincidiu com a ditadura militar.

Esse passeio que o filme faz, puxado por temas e músicas, pela arte de um grande compositor e o contexto em que ele a criou, traz uma certa perdão caótica que combina com a música de Lupicínio, com o intercepção de influências de que falávamos anteriormente.

Ao fazer coincidir a liberdade da música com a do filme, Manevy alcança uma verso parcialmente eventual, parcialmente arquitetada, elevando o filme a um nível superior no documentário músico brasiliano.

Folha

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