Donatinho Lança Disco Com João Donato, Morto Há Um Ano

Donatinho lança disco com João Donato, morto há um ano – 10/01/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Era 2020, auge da pandemia, quando Donatinho decidiu, movido pelas saudades que sentia do pai João Donato, que iria visitá-lo. Morando em São Paulo, alugou um carruagem para evitar ao sumo a proximidade com outros naquele momento em que a vacina ainda não existia.

Aproveitou portanto para levar com ele uma bagagem próprio: “Levei meu estúdio portátil: laptop, placa de som, monitores, teclado e microfone”, lembra o músico. “Daí a gente começou a gravar despretensiosamente, só para se divertir. Depois de vários desses encontros, quando eu vi, tínhamos um álbum novo.”

Quatro anos depois daquela primeira jam, e pretérito um ano da morte de Donato, Donatinho lança “Sintetiza2”, o tal álbum novo da dupla, com participações de Russo Passapusso, Joyce Mulato e Bluey, do Incognito. O disco dá sequência ao encontro anterior de pai e fruto, “Sintetizamor”, de 2017.

“A maior diferença, além das participações especiais que ‘Sintetizamor’ não teve, é o indumento de o primeiro ter sido planejado e esse ter nascido de forma espontânea”, avalia Donatinho. “Porque os dois álbuns têm a mesma estética sonora: parcerias nossas, com beats eletrônicos, sintetizadores e formato pop dançante.”

“Sintetizamor”, o primeiro, nasceu quando Donatinho teve a teoria de invocar o pai para gravarem juntos em seu estúdio recém-montado, o Synth Love. “É um estúdio devotado a teclados vintage, que eu já colecionava desde a juvenilidade”, conta o músico.

“Donato não lançava um disco cantando desde 2002”, explica Donatinho. “Tive essa teoria e falei para ele: ‘Você topa fazer só eu e você, de um jeito que você nunca fez antes? Com beats eletrônicos, sem piano acústico, sintetizadores, nós dois compondo e cantando?’. Ele disse: ‘Só se for agora!’. Propus trazê-lo para o meu universo, tanto músico quanto visual. Isso fica evidente na capote que tem a arte do Allan Jefferson, desenhista da DC Comics.”

Já “Sintetiza2” teve sua espinha dorsal construída na vivenda de Donato, nessas visitas de 2020, em gravações despretensiosas. “Ali, a gente compôs quase tudo e eu montei as bases da pré-produção”, lembra Donatinho. “Ao longo da pandemia, as músicas foram evoluindo, as bases ficaram mais elaboradas, e a gente começou a invitar parceiros para participar e fazer as letras.”

Finda a pandemia, Donato aproveitava as idas a São Paulo —para shows ou outros compromissos— para encontrar o fruto e prosseguir no projeto do disco. “Eu pedia para ele estender alguns dias e permanecer na minha vivenda, onde tenho meu estúdio, para a gente gravar os teclados e vozes definitivas dele. Nesse momento, as bases já estavam todas definidas, próximas do resultado final.”

Depois da morte de Donato, em julho de 2023, Donatinho convidou o produtor Habacuque Lima para produzir o álbum com ele. “Para mim é fácil produzir outros artistas, mas produzir o meu próprio trabalho não”, explica o músico. “É bacana ter uma visão de fora, de alguém que você confia e admira, para te ajudar a chegar no melhor resultado.”

As bases foram portanto aperfeiçoadas e instrumentos porquê sopros e percussão foram adicionados. Nessa tempo entraram também novidades no repertório.

“Ivone Belém, que foi a parceira de muitos anos do Donato, encontrou uma partitura que ele não finalizou mas deixou para mim. O título era ‘Cantiga de ninar para o Donatinho’”, conta Donatinho, que sugeriu a Habacuque incluí-la no disco.

“Ele topou na hora”, lembra Donatinho. “No dia seguinte, quando chego no estúdio, ele me apresenta uma caixinha de música que toca partituras que você mesmo pode grafar, e ele pôs a melodia dessa cantiga”.

O panelinha de “Donatinho’s Lullaby” evoca, em sua estética 8 bits, as trilhas sonoras de videogames antigos. Não é por eventualidade, explica Donatinho.

“Foi porquê eu tive o meu primeiro interesse pela música: jogando jogos de RPG no videogame com meu pai. Eu tinha exclusivamente sete anos, e ele traduzia os textos em inglês para me ajudar, enquanto ficava curtindo as trilhas desses jogos. Apesar de sonoramente parecerem para alguns exclusivamente ‘musiquinha de videogame’, elas tinham muita dificuldade em termos de melodia e panelinha.”

“Morotó”, outra que entrou nessa reta final do disco, também evoca a estética dos videogames. “Achei um áudio do celular, de um refrão que eu deixei para ele finalizar e que infelizmente não deu tempo de ele concluir”, lembra Donatinho.

“Achei que seria um linda homenagem aproveitar esse áudio, mesmo que tenha sido captado pelo celular, para fazer uma novidade cantiga”.

Mais do que simplesmente participar das gravações, Russo, Joyce e Bluey são parceiros nas canções em que aparecem —respectivamente, “Marina”, “Imperador” e “Love Law”. Donatinho comenta a ingresso de cada um no disco.

“Já admirava Russo, que convidei por sugestão do DJ Machintal, responsável pelos beats de ‘Marina’, ‘Intuir’ e ‘Imperador’. Joyce é grande amiga nossa, e foi teoria do Donatão chamá-la para fazer a letra de ‘Imperador’. A cantiga, aliás, é em homenagem à Letícia Imperador, minha mulher e amiga de Donato. O Bluey, desde a minha juvenilidade o ouvia nos discos do Incognito. Pensei em chamá-lo para entrar na parceria de ‘Love Law’. Ele topou na hora, fez secção da melodia e da letra e gravou tudo lá de Londres”.

Outra parceria ilustre é “Intuir”, escrita a quatro mãos por Donato, Donatinho, Tulipa Ruiz e Gustavo Ruiz. A assinatura inconfundível do rabi, com sua pegada latina e melodia de frases curtas, está ali, em diálogo com as gerações mais jovens.

“Nós tínhamos 50 anos de diferença e em nenhum momento parecia subsistir isso”, diz Donatinho. “Donato era atemporal, estava sempre crédulo a novas possibilidades. Por isso o nome do álbum, ‘Sintetiza2’. Pai e fruto, com sintetizadores, mais uma vez.”

Folha

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