Dono Da Osklen Faz Arte E Fala Da Briga Com

Dono da Osklen faz arte e fala da briga com Caetano Veloso – 14/11/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

O encontro entre o preto e o branco das pedras do calçadão de Ipanema, no Rio de Janeiro, é o ponto de partida para uma série de pinturas sobre papel que extraem somente o forçoso do pavimento que é um cartão-postal brasiliano. Formas e contraste.

Os desenhos de Oskar Metsavaht são exibidos na exposição “Neotropical”, na galeria Om.art, fundada por ele próprio em frente ao superabundante Jardim Botânico da Cidade Maravilhosa. A capacidade de decantar símbolos cariocas foi o que levou a Osklen, grife do empresário, ao sucesso nos anos 2000, quando a praia e o surf viraram estampa de camisetas e moldaram coleções de roupas da marca.

O bom resultado dos negócios permite que Metsavaht se dedique à arte desde 2017. Com três andares e em formato de cubo branco, a Om.art guarda também o ateliê do designer. “Fiz uma marca de sucesso porque ela tem um espírito de artista por trás, de liberdade. A Osklen é uma plataforma de sentença de conceitos meus”, diz Metsavaht, em meio a telas, pincéis e arames retorcidos.

Vestido inteiramente de preto, ele diz que pede aos seus funcionários que usem somente roupas escuras. “O nosso trabalho é visual e com cores. Para focar a atenção, neutralizo o resto.”

As obras exibidas em “Neotropical” foram pensadas a partir de fotografias e filmes em 16 mm produzidos por ele há anos, agora repensados com a pintura, porquê uma tentativa de materializar fotogramas que são, para o artista, fragmentos de memórias. “As pedras brancas e pretas retratam o contraste entre asfalto e areia, urbano e natureza”, diz Metsavaht.

O empresário conta que mostrou suas fotografias pela primeira vez a Vick Muniz, seu companheiro, e à editora da revista da Art Basel de Miami, Sue Hostetler, em 2010. Os dois gostaram do que viram, e a partir daí Metsavaht decidiu que iria exibir suas criações fora das coleções da Osklen.

A retrato, de uma forma ou de outra, deu início a sua curso. Formado em medicina, Metsavaht partiu para uma expedição científica na Serrania dos Andes durante a sua residência, aos 25 anos. Sua tarefa era fotografar a pesquisa e pensar em vestimentas que protegessem os colegas do indiferente. Foram 30 dias na serra, sob 30°C negativos. Ele pensava na sobrevivência, mas as roupas ficaram esteticamente agradáveis.

“Sou da geração National Geographic, com o espírito de curiosidade de saber o mundo”, diz. Em seguida, foi estudar em Paris, onde foi convidado para participar de outra expedição —dessa vez, no Mont Blanc, a serra mais subida dos Alpes. A equipe gostou das roupas.

Na capital francesa, fez amizade com os filhos de François Lesage, costureiro queridinho das grifes parisienses, e viu um ateliê de costura pela primeira vez. “Ele trabalhava para a Saint-Laurent, e conheci o estúdio dele. Vi mesonas com bordados coloridos, cheios de pedras, aquelas coisas majestosas.”

De volta ao Brasil, decidiu trocar Caxias do Sul, onde nasceu e cresceu, pelo Rio de Janeiro. Abriu uma loja em Búzios com US$ 9.000. Nos anos 2000, a Osklen se tornou uma das marcas brasileiras mais badaladas do mundo, com peças usadas por celebridades porquê Madonna e Naomi Campbell.

Na dez de 1980, quando os produtos estrangeiros ainda eram cobiçados por um Brasil que há pouco se abrira para o resto do mundo, mais turistas começaram a desembarcar no país. “Eu tinha feito uma coisa brasileira, o que era muito vanguardista para a idade”, diz, relembrando uma das primeiras estampas de camiseta de sucesso da marca, “Pround and Brazilian”, ou orgulhoso e brasiliano.

“Não comparando, mas o que Tom Jobim, João Gilberto e Vinicius de Moraes fizeram foi olhar para Ipanema e gerar uma linguagem estética universal com seus elementos, porquê o vento, os coqueiros, os pedestres e suas expressões. A camiseta é uma sentença panfletária”, diz.

Em 1994, foi para a Amazônia pela primeira vez e, quatro anos depois, a Osklen se comprometeu com princípios de produção sustentável que endossa até hoje. Paralelamente, Metsavaht fotografou os indígenas ashaninka, lançando, em 2016, uma coleção inspirada na comunidade, e apoiando algumas iniciativas de conscientização e arrecadação de recursos para a preservação das florestas.

No ano pretérito, anunciou, ao lado do DJ Alok, um curso de tecnologia e empreendedorismo para jovens indígenas.

“Não tem porquê você voltar da Amazônia sem querer virar um ativista. Ensinei ao Brasil e a muita gente do mundo a entender sobre sustentabilidade através das frases em minhas camisetas”, diz. “O meu sobrenome quer expressar guardião da floresta.”

O uso de ícones culturais que Metsavaht labareda de ativismo pela voga, porém, já envolveu a Osklen em uma série de polêmicas. Em 2020, durante a pandemia, a marca vendeu kits com duas máscaras de proteção estilizadas por R$ 147. A teoria, segundo a empresa, era doar uma cesta básica de R$ 70 para a comunidade do Jacarezinho, na zona setentrião do Rio, para cada item vendido.

No ano pretérito, a marca foi processada por Caetano Veloso por lançar uma coleção inspirada na tropicália. Na idade, os advogados do cantor pediram uma indenização de R$ 1,3 milhão, argumentando que a Osklen usou “a imagem do movimento criado pelo responsável para impulsionar as vendas”. Caetano perdeu a ação.

“Fiquei desapontado. Ele não é possuinte da tropicália, que foi um movimento cultural brasiliano. É normal se inspirar. A intenção era homenagear a tropicália”, diz Metsavaht. “Não preciso de glória e quantia, porque isso eu já tenho.”

“Existe muito preconceito contra a voga. A sociedade vê porquê se fosse só marketing, mercantil. Mas a voga também é uma sentença artística. É a sentença visual das pessoas.”

Se a voga é uma categoria entre a cultura e o corpo, para Metsavaht, seus últimos trabalhos exploram os limites entre corpo e natureza. “As palmeiras em frente aos prédios modernistas, a exuberância tropical, o estabilidade entre urbano e natureza. A potência do asfalto e da arquitetura modernista de uma grande cidade e o hedonismo da ourela de praia. O Brasil é isso.”

Folha

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