Dori Caymmi Celebra Humor Do Pai No Disco Prosa E

Dori Caymmi celebra humor do pai no disco Prosa e Papo – 11/04/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Dori Caymmi lembra sempre do jeito uma vez que seu pai Dorival, nas conversas cotidianas, brincava com as palavras —misto de humor e verso, muitas vezes captado da sabedoria popular. “Ele usava termos uma vez que ‘boca de afofô’, que nunca soubemos ao manifesto o que era”, conta o compositor. “Papai era muito criativo, inventava personagens. Falava com as crianças de um dragão muito indómito, furioso, que era o Dragu, o dragão que não cagava, essas coisas”.

Conversando sobre isso com seu parceiro Paulo César Pinho, Dori chamou a atenção principalmente para duas expressões que Dorival sempre repetia: “carrapicho é mato, carrapato é bicho” e “entre por onde saiu e faça de conta que nunca me viu”.

Cada uma delas gerou uma letra de Pinho, musicadas depois por Dori. A primeira virou “Prosa e Papo”, na qual o letrista embarca na reinação de Dorival e segue em versos uma vez que “Bananeira é fêmea, mamoeiro é másculo/ Farolete é foco, flashlight é facho”.

A outra deu origem a “Plano” (“Vá ver se estou na esquina/ Se eu tiver, não me chame/ Não toque cima a buzina/ Que é para não dar vexame”).

Ambas foram o ponto de partida de “Prosa e Papo”, disco que Dori lança nesta sexta-feira pela Biscoito Fino. O álbum traz oito inéditas em meio às 11 faixas —duas têm letras de Roberto Didio, o restante foi feito com Pinho, seu parceiro mais leal.

Em muitas delas, o artista tem a participação de convidados, entre colegas de geração e nomes mais jovens: MPB4, Joyce Trigueiro, Zé Renato, Mônica Salmaso, Renato Braz e João Cavalcanti.

Talvez inspirado pela memória das brincadeiras verbais de seu pai, Dori fez um disco que ele define uma vez que “otimista”. Uma perspectiva principalmente marcada em duas canções: “Um carioca vive morrendo de paixão”, ode ao Rio de Janeiro; e “Evoé Região”, celebração do Brasil de “Verger, Carybé”, “Garrincha e Pelé”, “Vitalino e Quelé”, “Buarque e Vandré”.

“Aos 20 anos, eu disse pela primeira vez numa entrevista uma frase que repeti ao longo da vida inteira: ‘esse não foi o país que me prometeram’”, lembra Dori. “Cresci com Dorival Caymmi, observando gente uma vez que Jorge Estremecido, Moacir Santos, Ary Barroso. Aí quando me vi adulto olhei em volta e me veio essa frase”.

Dori diz, porém, que não quer seguir no lamento. “Tem uma hora que você tem que parar de entregar os pontos e ser mais otimista, dar uma chance”. Mesmo assim, ainda guarda resistência, caracterizada por sua bem-humorada ranzinzice, contra aspectos da sociedade contemporânea — da qual se mantém semoto morando no serra de Petrópolis, numa moradia cercada de virente.

O compositor não tem telefone celular, por exemplo. “Não me dou com eles. Quando encosto num celular, ele desliga”. E se irrita vendo a maneira uma vez que os telejornais incorporaram o vício de sobressair sílabas tônicas de forma equivocada: “Estão fazendo pré-proparoxítonas, tudo falso: ‘os sêrvidores’, ‘os bênefícios’. É um português ordinário”.

Dori também não tem paciência contra o que labareda de “patrulhas” que apontam posturas machistas em canções antigas. “Não pode mais trovar ‘Marina’, ‘Amélia’… Portanto a gente faz o seguinte: joga fora Dorival e Mário Lago, destrói os castelos feudais da Europa, aquelas igrejas todas, e fica com esse presente de merda”.

Em “Prosa e Papo”, Dori deplora, com tristeza, o progresso que destrói a natureza em “A Chuva do Rio Gula” (“A chuva que segue correndo em ramal/ Riscando seu leito de um jeito arredio/ Tem pânico de gente no seu rodopio/ E o pânico que sente não é desvario Que é gente que mata a chuva do rio”). Mas, em sua música e nas letras de seus parceiros, o tom universal é solar, de asserção do Brasil e do mundo no qual acredita.

Esse tom de asserção não aparece somente no disco, aliás. “Tenho feito uma série de vídeos (postados em sua conta no Instagram) chamada ‘Saudade e memória’, lembrando figuras que têm que ser lembradas, uma vez que Billie Holiday, Luizinho Eça, Maria Clara Machado, Braguinha…”, conta Dori.

Em “Prosa e Papo”, essa postura aparece também em “Esquina para Mercedes Sosa”, devotado à cantora argentina, um símbolo da esquerda latinoamericana. “Sou de esquerda, da esquerda que conheci jovem, no teatro, com gente uma vez que Vianinha”, afirma Dori.

“Mas acredito que um ditador de esquerda segue sendo um ditador. Não se pode estribar um sujeito uma vez que Maduro, alguém que na verdade nem é de esquerda, é um louco desvairado”, diz o compositor, que não comenta uma vez que suas diferenças políticas afetam a relação com a mana Nana, que já manifestou escora a Bolsonaro e pasmo por Olavo de Roble.

No novo álbum, Dori, que sempre pilotou sozinho seus discos, está trabalhando ao lado de um produtor, no caso o músico, arranjador e compositor Jorge Helder. Não foi fácil, lembra o herdeiro de Caymmi. “Uma vez que sei muito o que quero, resisto aos palpites e às vezes até saio do sério. Jorge Helder foi um herói por me sustentar, com uma gentileza e um reverência que em certos momentos não mereci”, brinca.

Aos 80 anos, Dori faz questão de seguir produzindo de forma incessante. Além das composições, ele atualmente trabalha num livro de partituras das canções praieiras de Dorival: “Foi minha formação, minha primeira percepção músico”.

“O corpo tá meio baleado, mas a cabeça está muito criativa”, define Dori, que exercita a mente com palavras-cruzadas, hábito que cultiva há décadas, e escrevendo novas músicas.

“Não sabor de me repetir, gravar o que já gravei. Quero seguir aprendendo, apesar de ser um péssimo aluno, ter dificuldade de me concentrar no estudo. Tive aulas com Moacir Santos e a única coisa que aprendi foi uma vez que a música dele é formosa”.

Folha

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