A jornalista Juliana Dal Piva é a convidada desta terça-feira do programa DR com Demori, da TV Brasil. Ela falou sobre os bastidores de suas investigações envolvendo a família Bolsonaro e os desafios enfrentados ao longo do processo. Durante a conversa, ela também apresentou seu novo livro, que trata do assassínio de Rubens Paiva durante a ditadura militar e discutiu a valimento da responsabilização por crimes contra a humanidade.
Conhecida por seu trabalho investigativo, Juliana foi responsável por reportagens que deram origem ao podcast A Vida Secreta de Jair e ao livro O Negócio do Jair. Ao conversar com o jornalista Leandro Demori, ela afirmou que o material reunido revelou a existência de um esquema de meandro de salários envolvendo gabinetes da família Bolsonaro desde os anos 1990. “Era um esquema único em que o pai botou os filhos na política para enriquecer e produzir tanto um poder político quanto um poder financeiro”, afirmou.
A investigação, que começou com o relatório do Juízo de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), sobre Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, revelou uma estrutura mais ampla. Segundo Juliana, ao menos 286 funcionários passaram pelos gabinetes da família ao longo de 30 anos. “A ex-cunhada dele, a Andréa Siqueira Valle […] ficou 20 anos porquê funcionária fantasma entre o gabinete do Bolsonaro, do Flávio e do Carlos, devolvendo 80%, 90% do salário dela durante todos esses 20 anos.”
Segundo Juliana, o uso de quantia em espécie era uma prática permanente nos esquemas envolvendo os gabinetes da família. “A família Bolsonaro tem alergia ao sistema bancário”, afirmou, em tom crítico.
“Nosso querido Pix, embora diga que criou – o que não é verdade -, mas tem alergia. TED, Pix, não chega, não gosta, dá urticária, entendeu?”
De combinação com a jornalista, imóveis e outros bens eram adquiridos com grandes quantias em quantia vivo, numa tentativa de driblar os sistemas de controle financeiro e dificultar o rastreamento das operações.
As denúncias também geraram reações. Juliana contou que passou a tolerar ameaças em seguida a publicação de reportagens, incluindo mensagens ofensivas, processos judiciais e ataques em redes sociais. Em 2022, uma decisão judicial censurou temporariamente uma reportagem assinada por ela sobre os bens da família Bolsonaro. “Ele só pede a increpação, a retirada das matérias do ar”, disse, ao comentar a ação do senador Flávio Bolsonaro. A decisão foi revertida pelo Supremo Tribunal Federalista.
Juliana relatou um dos episódios mais graves enfrentados por ela no ano pretérito, quando teve sua imagem usada em uma montagem forjada. “Forjaram conversas, usando a minha imagem, porquê se fosse uma conversa minha com uma pessoa que eu sequer identifico”, contou.
A montagem circulou por três meses e, segundo ela, gerou uma vaga de incitação ao ódio. “Recebi mensagem de gente dizendo que me via perto da minha lar, incitando o suicídio, esse tipo de coisa.”
Para Juliana, as consequências vão além do impacto profissional. “Esse tipo de coisa é uma situação que nunca é só você, é você e sua família. […] Vai cansando, você só quer trabalhar, eu só queria trabalhar em tranquilidade, fazer meu trabalho.”
Ela afirma que segue tomando medidas legais. “Aos criminosos, a lei. Eles foram denunciados, estão sendo investigados, também estou processando boa secção dessas pessoas por dano moral. Mas tudo isso também te toma tempo, te toma força.”
Além das reportagens sobre a família Bolsonaro, Juliana também se dedicou à cobertura do assassínio da vereadora Marielle Franco. Ao comentar as investigações, Juliana Dal Piva afirmou que o caso expôs falhas estruturais no sistema de segurança pública do Rio de Janeiro.
Segundo ela, a transporte inicial da apuração demonstrou sinais claros de contaminação e preterição. “O vestuário dessa investigação não ter conseguido esclarecer desde o início mostra a contaminação dela em si”, disse.
Juliana destacou ainda que, já à era do delito, havia conhecimento público de que a Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro não investigava determinados assassinatos ligados a bicheiros e milicianos. “Eles eram tratados porquê heróis”, afirmou, referindo-se a figuras porquê Ronnie Lessa e Adriano da Nóbrega.
A jornalista também lembrou que foi a partir da investigação do caso Marielle que vieram à tona informações sobre o “escritório do delito”, grupo de ex-policiais militares acusados de execuções por encomenda. Para ela, o caso funcionou porquê uma porta de ingressão para revelações mais amplas sobre uma rede de crimes sustentada por agentes públicos.
No final da conversa, Juliana apresentou seu novo livro, Violação sem penalidade – Porquê os militares mataram Rubens Paiva, publicado pela Matrix Editorial. A obra reconstrói as quatro décadas de procura da família Paiva por justiça, revelando documentos até portanto inéditos sobre a repressão durante a ditadura militar.
Segundo a jornalista, o caso é emblemático por ser o primeiro homicídio do período ditatorial a ser processado judicialmente no Brasil e pode perfurar caminho para reinterpretações da Lei da Anistia. “Pode perfurar agora justamente a possibilidade da discussão do alcance da lei de anistia, para que realmente os torturadores possam ser julgados por crimes que não devem ser anistiados”, afirmou.
Juliana ressaltou que a discussão deve ir além do desaparecimento forçado, considerado um delito permanente. A jornalista defendeu que o Supremo Tribunal Federalista amplie o entendimento para incluir todos os crimes contra a humanidade, porquê assassinatos, estupros e tortura. “Todos os graves crimes de violações de direitos humanos […] sejam todos passíveis de julgamento”, concluiu.
O programa DR com Demori vai ao toda terça-feira, às 23h, na TV Brasil, no aplicativo TV Brasil Play e no YouTube da emissora pública. Também é veiculado nas rádios Pátrio FM e MEC.