Nos últimos três anos, Ellen DeGeneres esteve afastada do público. Sob acusações de comportamento imperdoável e assédio moral, ela precisou terminar seu programa de entrevistas diárias que por 19 anos foi uma das atrações mais assistidas na TV americana.
A única coisa boa em tudo isso é ela ter armazenado mágoas e reflexões para gerar um dos melhores shows de comédia stand-up nos últimos tempos, que acaba de estrear na Netflix.
O primórdio de “Ellen DeGeneres: For Your Approval” sugere que os ataques recebidos possam dominar o texto do programa. E é verdade. Ela diz que foi expulsa do show business duas vezes. Primeiro, quando se declarou homossexual e ficou temporadas sem convites para trabalhar. Depois, quando as histórias sobre um envolvente tóxico nos bastidores de seu programa pipocaram na mídia.
Afiada em suas piadas, diz que aprendeu duas lições —”Você não pode ser gay no show business. Nem má. Não há lugar para gays e gente má no show business!” Mais adiante no espetáculo, ela avisa que se prepara para sua terceira expulsão, quando permanecer velha. “Gay, má e velha. Aí estarei acabada!” E aí está a introdução para um dos blocos mais engraçados do peculiar, que fala dos problemas incontornáveis da vetustez.
No palco, Ellen não repete o comportamento quase histérico que muitas vezes exibiu nos estúdios de TV. Cá ela faz o tipo da intelectual serena, tranquila, do qual ela não desgruda mesmo em momentos nos quais esbarra ou ultrapassa o limite do politicamente correto. Mas faz isso de uma maneira tão inteligente que a plateia nem se dá conta. O melhor exemplo é quando passa a falar da mãe, com diagnóstico de demência.
Sua narrativa sobre um mágico fuleiro que vai a uma clínica tentar fazer um show de prestidigitação diante de 13 senhoras com graus diferentes de demência é simplesmente espetacular. Porquê é na secção final do peculiar, fica a incerteza se Ellen é realmente capaz de tratar de um tema desses de forma carinhosa ou se o público já está tão rendido a seu talento que pode perdoar qualquer excesso.
Há uma traço recorrente em toda a apresentação. Ela fala bastante sobre uma vez que mourejar com as coisas que as pessoas falam dela. Ellen tenta provar que atualmente, aos 66, não liga mais para isso. Mas, em seguida, desata a emendar uma piada detrás da outra para revelar que a coisa não é muito assim. Esses trechos acabam deixando transparecer uma fragilidade da comediante, que só faz aumentar a empatia do público.
É muito interessante ver uma vez que Ellen consegue usar lembranças de preconceitos evidentes e ataques diretos uma vez que munição para boas piadas. No entanto, são incríveis os momentos em que ela deixa um pouco de lado seu calvário midiático para se destinar simplesmente a histórias engraçadas.
É quando fica facilmente comprovado aquilo que já não precisa de nenhuma confirmação: ela é uma comediante incrível, um tanto que seu trabalho uma vez que apresentadora de programa de auditório deixou escondido por um bom tempo.
O trecho do peculiar em que ela fala sobre seu paixão pelos animais e a preocupação de resgatá-los é uma obra-prima de humor. Para isso, conta sua paixão pelas galinhas que adotou uma vez que animais de estimação no período de solidão do trabalho. As especulações sobre uma vez que funciona o cérebro das galinhas é de morrer de rir.
Ela convence a plateia rapidamente de uma real preocupação com todos os bichos, para depois recontar episódios que mostram uma vez que ela não tem a mínima capacidade necessária para cuidar deles. Relatos sobre uma pomba de uma perna só e um cachorro desabitado na rua são daqueles que quem assiste ao espetáculo faz questão de recontar para os amigos.
As preocupações modernas da sociedade, termo que ela mesmo utiliza, também são objectivo de seus disparos certeiros de descaramento e sarcasmo. Quando ela fala sobre sua tentativa de se destinar à jardinagem para desapoquentar o estresse, as pessoas evidentemente se identificam com os perrengues e aplaudem de pé.
A plateia dá um caráter muito emocionante ao final do show. Numa espécie de bis, Ellen retorna ao palco para agradecer, ovacionada, e admite que não tinha certeza do sucesso do stand-up. Afirma que não sabia se as pessoas ainda se interessavam por ela. Se depender de outros textos de humor tão arrasadores quanto oriente, certamente sempre terá esse carinho do público.