Em Belford Roxo, Moradores Tiveram As Casas Completamente Inundadas

Em Belford Roxo, moradores tiveram as casas completamente inundadas

Brasil

Em Belford Roxo, um dos municípios atingidos pelas fortes chuvas deste final de semana, moradores ainda se recuperavam da última enchente, em 2022, quando mais uma vez, tiveram as casas e os estabelecimentos comerciais invadidos pela chuva e pela lodo. Pelas ruas ainda alagadas e cheias de barro, pedaços de móveis, colchões e utensílios domésticos estão amontoados. Pessoas fazem filas para conseguir se cadastrar nos programas do governo e receber auxílios.  

Belford Roxo (RJ) 16/01/2024 – Danielle Almeida Ferreira teve sua casa alagada nas chuvas em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, com a enchente do rio Botas. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Belford Roxo (RJ) 16/01/2024 – Danielle Almeida Ferreira teve sua casa alagada nas chuvas em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, com a enchente do rio Botas. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

 Danielle Almeida Ferreira teve a morada alagada em Belford Roxo e conseguiu salvar exclusivamente um colchão. Foto: Fernando Frazão/Dependência Brasil

As irmãs Noemia Almeida Ferreira e Danielle Almeida Ferreira estão sentadas na passeio, em frente as casas que foram completamente inundadas.

“É o que nos resta fazer, só tem cá para permanecer”, dizem.

Na morada de Noemia pouca coisa se salvou. Ela e a filha estão dividindo um sofá, ainda úmido para dormir: “Estou sem zero”, diz, mostrando os cômodos da morada com o fogão destruído e o armário com as portas inchadas pela chuva.

Danielle Ferreira mora na morada detrás da mana. Ela conseguiu salvar o colchão. Mas a geladeira, que acabou de comprar foi perdida. “Passei muito mal. Lá no posto, me atenderam muito muito. Vou te mostrar a receita. Ainda agora minha voz está meio afetada. É tudo por justificação da enchente”. Em um quina, ela colocou em cima de uma mesa todos os pertences que conseguiu salvar das águas que chegaram até a metade da parede. “Disseram para ainda não encolher porque ter mais chuva.” 

Em uma morada ao lado, está a mãe delas, Maria da Sossego, de 64 anos. Ela está deitada no pavimento. Em um cômodo com o que restou depois da enchente.

Belford Roxo (RJ) 16/01/2024 – A idosa Maria da Paz teve sua casa alagada nas chuvas em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, com a enchente do rio Botas. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Belford Roxo (RJ) 16/01/2024 – A idosa Maria da Paz teve sua casa alagada nas chuvas em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, com a enchente do rio Botas. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

 A idosa Maria da Sossego teve a morada alagada nas chuvas em Belford Roxo. Foto: Fernando Frazão/Dependência Brasil

“Olha isso cá, pega aí. Meus remédios caros foram tudo na chuva. Estou sem remédio, estou passando mal. Aí não há remédio, não tenho zero”, diz Sossego.

Ela olha em volta: “A gente está vivendo a vida de porco. Não tem nem chuva, desde sábado que desligaram a chuva de noite”. 

A terceira mana, que também mora próximo ao restante da família, Nágila Almeida Ferreira, varria morada, com o que restou. “Vamos dando um jeitinho”, diz. Ela viveu também ali a enchente de 2022, mas disse que esta foi pior. A chuva chegou na profundidade do peito do marido, que ela diz ser bastante elevado.

“Foi muito rápido. Encheu e tava dando choque. Pra gente não morrer cá dentro, a gente teve que trespassar fora e deixar tudo. Eu mesma não queria nem pisar cá dentro, porque eu não queria nem ver. Entendeu?”, conta. 

As irmãs dizem ter dificuldades para acessar os benefícios e receber itens de emergência porquê cestas básicas. A procura é grande e quando chega na vez delas, já acabou. Elas estão com algumas garrafas de chuva mineral e estão sem comida. A região onde moram é próxima ao Rio Botas, que transbordou. 

Filas no sol 

Com os termômetros marcando 40 graus Celsius, uma fileira de pessoas espera, no sol, por atendimento para obter o cartão Reencetar, um favor oferecido em parcela única pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do governo do estado. 

Mariana Rodrigues da Silva tenta acessar o número dos documentos. “Para fazer o cadastro pra tentar pegar o cartãozinho, preciso de número de PIS [Programa de Integração Social], mas os meus documentos, tudo foi, minha carteira de trabalho, tudo foi na enchente, porquê é que eu vou pegar número agora?,” diz. 

Ela mora sozinha em um cômodo. “Perdi tudo moça, dentro da minha morada, tudo mesmo. Moro num quartinho e perdi tudo. E estou na luta para conseguir fazer esse negócio cá [cartão Recomeçar]. Em todo lugar que vai, zero dá. Está tudo referto, não dá pra pegar zero em lugar nenhum.”

Logo detrás dela, Marcos Antônio Cruz compartilha a internet do próprio celular para ela possa acessar os números do documento na internet. Ele também perdeu tudo na enchente. “A chuva quando veio, veio mesmo com vontade. Eu moro no meio do Belford Roxo, na segmento baixa, ao lado do balão. E a chuva encheu tudo. Dentro da minha sala a chuva estava batendo na cintura. Eu tenho netos pequenos, a gente teve que botar eles em cima de alguma coisa. Perdemos tudo. Armários de cozinha, colchão, roupa de leito, roupa de vestir. A gente perdeu tudo, iguaria… Foi uma coisa surreal,” relata.  n

Márcia da Rocha, que também aguardava na fileira, teve a morada inundada pela primeira vez depois de 62 anos na mesma residência. “A gente não esperava porque nunca encheu assim. É muito revoltante, você luta para ter as coisas e perder assim rápido. É muito ruim, muito triste. Só quem passa que sabe. E eu é a minha primeira vez, imagina que já perdeu da outra vez”.  

Segunda enchente  

Esta é a segunda enchente que destrói a lanchonete Trailer do Moisés. Joice Coelho, esposa de Moisés de Araújo, limpava o que restou posteriormente a enchente. Ela mostrou alguns refrigerantes e uma estante com alguns pães. Os refrigeradores e o computador foram completamente danificados. Esta é a segunda vez que a lanchonete passa por uma enchente. Em 2022, Araújo usou até um navio com motor para ajudar as pessoas durante a enchente. 

“Sábado a gente fez compra pra trabalhar. Chegamos cá no domingo de tarde, quando a chuva começou a encolher. Foi o material tudo embora. Freezer, geladeira, as compras que a gente vende, né? Pizza, hambúrguer, tudo, tudo. Foi tudo, lá está, tudo no lixo, bacon, queijo, presunto, muçarela, tudo, tudo que você imagina.”

Fonte EBC

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