A Livraria Mário de Andrade, na capital paulista apresenta, do término da tarde desta sexta-feira (16) até o de amanhã (17), a CryptoRave, maior evento gratuito e franco sobre segurança e privacidade do mundo. Serão 24 horas ininterruptas de uma programação muito diversa, que espelha a pluralidade de campos que a tecnologia tem afetado mais significativamente, uma vez que o dos movimentos sociais, o de questões de gênero e étnico-raciais, o de segurança da informação e o de arte.
A CryptoRave atrai público não exclusivamente pela relevância dos temas, mas pela junção com o inusitado, já que os participantes passam a noite na livraria, podendo levar colchonetes e cobertores para se acomodar. As pessoas também poderão buscar auxílio para instalar em seus computadores sistemas operacionais livres, que não são produzidos por grandes corporações e mantêm os dados dos usuários mais protegidos, sem apropriações, nem tanta vigilância. Aliás, esse tipo de software permite alterações em suas configurações e análises de seu funcionamento. O serviço será feito em um espaço do InstallFest.
O evento mantém o lema escolhido desde o início, que se originou nos movimentos cyberpunks: “Privacidade para os fracos, transparência para os poderosos”. Uma vez que autonomia, autodemarcação territorial e auto-organização são termos que explicam o modo de pensar dos organizadores do evento. O outro termo, autodeterminação, é muito esparso entre integrantes de movimentos indígenas e indigenistas.
A vocábulo designa o recta de viver do modo que se considera adequado, livremente, e, por isso, é tão relacionada aos povos originários. A autodeterminação diz reverência ainda a outro contexto de vexame e violência, que é o genocídio dos palestinos.
Nascente ano, a organização recebeu 153 propostas de atividades, que foram submetidas a uma curadoria para fechar a grade de programação definitiva. Inscreveram-se uma vez que voluntárias 111 pessoas, o que reforça o tino de coletividade em torno da Cryptorave, uma vez que o financiamento que a viabilizou.
Da mesa de sinceridade, participarão TC Silva, músico, fundador da Vivenda de Cultura Tainã, de Campinas (SP), e militante do Movimento Preto Unificado e a mexicana Yunuen Torres Ascencio, indígena p’urhépecha, de Cherán, cidade conhecida pelo potente protagonismo das mulheres, que se articularam para tutorar o território do tráfico, dos abusos policiais e da ação de madeireiros. O tema escolhido foi Da autonomia tecnológica ao autogoverno: Experiências comunitárias no Jardim São Luís, Vila Fortaleza Branco e Cherán, que encampa debates sobre o poder das big techs e a oposição que infraestruturas autônomas fazem diante dele.
A pesquisador social Elisa Ximenes conta que, quando a CryptoRave não tinha ainda nome, ela e outras pessoas quiseram se confirmar de que haveria público para colocar o projecto em prática. Uma das confirmações veio justamente com a repercussão do caso do exegeta de sistemas Edward Snowden, que trabalhou para a Dependência de Segurança Pátrio (NSA) e a Dependência Mediano de Perceptibilidade (CIA), dos Estados Unidos, e denunciou violações de direitos cometidas por chegada praticamente irrestrito a celulares e computadores de quem quer que fosse, desde importantes líderes a pessoas anônimas, desconhecidas.
Em 2013, foi realizada a primeira edição da CryptoRave, quando a prefeitura de Fernando Haddad mantinha a política de funcionamento 24 horas, quesito próprio que caracteriza o evento.
“Foi se formando uma comunidade em torno da CryptoRave. Pessoas que eram da mesma universidade se juntaram, montaram grupo de estudos, começaram a organizar caravanas para vir do interno e de outros estados, e a CryptoRave tem desenvolvido nessa base comunitária. É um evento autônomo, totalmente independente”, disse a pesquisador social, em entrevista à Dependência Brasil. Elisa ressalta que não se aceita imposto de empresas, nem do governo, para certificar que poderão se expressar e se organizar livremente, sem interferências.
A proposta da CryptoRave destoa da maioria dos eventos desse tipo e tenta se solidificar extrapolando a noção da “tecnologia pela tecnologia”.
“Geralmente, são pagos, financiados por big techs, empresas. É um evento que procura ser o mais inclusivo provável. Tem um código de conduta, para evitar qualquer atitude preconceituosa, desrespeitosa. Tem muita mulher, sendo que evento de tecnologia é masculino e branco”, afirma.
A CryptoRave procura inclusão e multiplicidade no debate da segurança, da privacidade e da criptografia. Segundo os organizadores do evento, é fundamental que todas as pessoas se sintam à vontade para compartilhar seu trabalho, opiniões e perspectivas.
No ano pretérito, a organização convidou amazônidas para participar do evento, uma vez que forma de quebrar padrões hegemônicos e reafirmar o papel emancipador da tecnologia.
“A gente quer uma tecnologia libertadora”, declara Elisa.
Quem batizou o evento foi o sociólogo Sergio Amadeu da Silveira, que vai lançar, em debate com a jornalista Yanca Palumo, o livro Tecnopolítica: Um Guia para Entender a Relação entre Poder, Economia, Cultura, Novas Tecnologias e A Luta Democrática contra as Big Techs. No sábado, às 13h, Silva vai coordenar uma atividade sobre machine learning (aprendizagem da máquina), com o título Além das Big Techs: Uma Infraestrutura Soberana, Distribuída e Participativa para o Aprendizagem de Máquina.
Serviço
Cryptorave
Quando: 16 e 17 de maio, das 18h às 18h
Lugar: Biblioteca Mário de Andrade | R. da Consolação, 94 – República, São Paulo – SP
Ingressão gratuita, com credenciamentos até as 21h desta sexta-feira e a partir das 9h de sábado.
Quem estiver com a pulseira de identificação poderá entrar e transpor livremente durante a madrugada.
Venda de mantimentos será feita somente no período da madrugada.
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