Foi para uma viagem no tempo que a Ateneu de Televisão dos Estados Unidos convidou os espectadores na noite desta segunda-feira, dia 15, quando enfim entregou os troféus da 75ª edição do Primetime Emmy, o mais importante prêmio americano de TV e streaming.
Quatro meses atrasada, a sarau em Los Angeles honrou os melhores das telinhas entre 2022 e 2023 e seguiu uma fórmula equilibrada de humor, política e nostalgia em sua cerimônia. Devido às históricas greves de atores e roteiristas em Hollywood, ela precisou ser adiada de setembro para esta semana, causando confusão na lista de indicados.
Muitos dos que deram as caras no tapete vermelho, uma vez que Jena Malone, num vestido de história de fadas que causaria náuseas em Wandinha, e Evan Peters, já embelezado meses depois de viver o surrado Jeffrey Dahmer, estavam lá para simbolizar séries das quais já havíamos esquecido.
“The Crown”, por sua vez, competia por sua quinta temporada, gravada ainda sob o reinado da rainha Elizabeth 2ª, e não a mais recente, que chegou à Netflix em dezembro. E enquanto rumores sobre elenco e locações para o terceiro ano de “The White Lotus” se alastram pela internet, a crestomatia da HBO só colheu os louros pela aclamada segunda temporada.
Mas a longa intervalo entre seu lançamento em outubro de 2022 e nascente janeiro de 2024 não enfraqueceu a candidata –até porque os votos foram enviados ainda em agosto. Por sua temporada ambientada num hotel em Taormina, “The White Lotus” arrematou cinco estatuetas, incluindo as previamente recebidas no Creative Arts Emmy, seção do prêmio dedicada a categorias menores, em sua maioria técnicas, anunciadas na semana passada.
A sensação, no entanto, é que unicamente uma trinca de séries celebrou de verdade nas festinhas pós-Emmy. Todos os anos, parece que os votantes assistem todos ao mesmo punhado de produções. Nesta temporada, a percepção ficou ainda mais potente, talvez porque o fenômeno se repetiu pouco em seguida o Mundo de Ouro tomar um caminho semelhante.
Quebrando o recorde de vitórias para uma comédia numa única edição, “O Urso” levou dez troféus; o drama “Succession”, seis; e a minissérie “Treta”, oito. Houve pouco espaço para talentos que não tenham trabalhado nessa trinca. Não que elas não sejam merecedoras, mas não deixa de ser um tanto frustrante e monótono ver os mesmos rostos subindo ao palco.
Até por isso, com “Succession” tendo vencido melhor drama pela terceira vez, a cerimônia pareceu um retorno ao pretérito, reforçado por colegas de elenco se reencontrando muito tempo depois das despedidas no set de filmagem e, em mansão, com os espectadores tendo a chance de rever personagens queridos uma última vez.
Também foi um retorno ao pretérito pelas infinitas referências às grandes séries de anos detrás, ao longo de toda a sarau. Houve homenagens a “Família Soprano” e à icônica Carol Burnett, por exemplo, em discursos moldados para a celebração de 75 anos do prêmio.
Enquanto a crise de audiência televisiva na temporada de premiações de Hollywood se aprofunda, é urgente que apresentadores exerçam um papel para além do decorativo, uma vez que o fiasco do Mundo de Ouro, na semana passada, deixou evidente.
Jo Koy, comediante responsável por apresentá-lo, assumiu o papel de metralhadora de bobagens, constrangendo o público presente. Neste domingo, o Critics Choice Awards não se saiu muito melhor –apresentadores à segmento, nascente evidenciou que o problema começa ainda na sala de roteiro.
Bella Ramsey, estrela de “The Last of Us”, ao apresentar uma categoria, teve que ler no teleprompter, visivelmente desconfortável, que há atores que fingem ser também cantores, alfinetando Ryan Gosling e Ariana DeBose.
Só faltou avisar que ele começou a curso cantando e dançando ainda moçoilo, antes de ser indicado ao Oscar pelo músico “La La Land”, e que ela recentemente fez uma bem-sucedida transição dos palcos da Broadway para as telas de Hollywood, vencendo o homenzinho dourado pelo remake de “Paixão, Sublime Paixão”.
No Emmy, não houve fiasco. Mostrando inteiro preparo e domínio do microfone, o ator e produtor de “Black-ish” Anthony Anderson entreteu um público difícil –e aterrorizado em seguida as demonstrações de mau paladar da semana passada–, com piadas mais inteligentes e imenso carisma, com destaque para quando insinuou a resistência em premiar tramas que exaltam cultura e vivências negras.
A asserção se somou a diversos outros momentos politizados, equilibrados em meio ao clima de sarau. As tiradas escritas para quem apresentava categorias também arrancaram risadas sem esforço –”Kieran Culkin me encheu de porrada”, disse Pedro Pascal sobre seu ombro lesionado, mencionando a disputa dos dois em melhor ator dramático, na qual o chileno vem sendo seguidamente preterido.
Os discursos de congratulação seguiram fórmula semelhante, arrancando aplausos efusivos de um auditório que parecia em sintonia e que, enfim, mostrou que a indústria segue unida em seguida as paralisações do ano pretérito.
O número de rombo de Anderson pode até ter encontrado resistência devido à subida complicação, mas a verdade é que, com seu detido e a novidade data em janeiro, o Emmy só deixou a sarau do Mundo de Ouro, regada a álcool e com debandada de convidados conforme a noite passava, ainda mais patética.