Encerramento Troca Ousadia Por Formalidade E Confusão 11/08/2024

Encerramento troca ousadia por formalidade e confusão – 11/08/2024 – Esporte

Esporte

Paris trocou a ousadia e a grandiosidade da sinceridade por uma cerimônia de fecho mal costurada, que oscilou entre o protocolar e o confuso.

O receio de uma polêmica semelhante à da sarau incipiente, em que as referências à pluralidade obrigaram o comitê organizador a negar a intenção de provocar, parece ter impactado o teor do espetáculo no Stade de France, muito mais controlado e morno. O adjetivo serve inclusive para a aguardada participação do ator americano Tom Cruise.

O resultado: muitos atletas, jornalistas e espectadores saíram à francesa, sem observar à apresentação final, a versão de “My Way” (música consagrada por Frank Sinatra, mas composta por um gálico, Claude François) pela cantora Yseult, e aos fogos de artifício.

Um dos momentos mais curiosos foi quando os atletas invadiram o palco, que representava o mapa-múndi. Estava previsto que ficassem em torno do palco, e não em cima dele. Pelos alto-falantes, os organizadores tiveram que pedir que descessem, para o espetáculo continuar, arrancando risos da plateia.

A quebra de protocolo por secção dos atletas acabou trazendo, ironicamente, um respiro de espontaneidade a um espetáculo engessado.

Depois de um início respeitoso da tradição das cerimônias de fecho —ingressão dos atletas, cerimônia do pódio da maratona feminina, realização do hino da Grécia, criadora das Olimpíadas—, veio o espetáculo do diretor de teatro Thomas Jolly.

Batizado “Records”, o show durou meia hora e despertou aplausos educados do público, com suas referências herméticas ao promanação dos Jogos modernos, em um congresso na universidade Sorbonne, em 1894. Gigantescos aros acrobáticos subiram ao firmamento, formando os anéis olímpicos e simbolizando o triunfo do ideal do barão Pierre de Coubertin.

O trecho da cerimônia que mais empolgou o público gálico, paradoxalmente, foram os discursos do presidente de Paris-2024, Tony Estanguet, e do presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach.

“Vocês nos lembram que estamos vivos. Precisamos muito disso”, disse Estanguet, que citou os recordes da olimpíada —inclusive o de pedidos de casório de atletas. Bach louvou a resiliência dos atletas em um mundo referto de guerras e não resistiu a um trocadilho infame, qualificando os Jogos de “Sena-sacionais”.

A transição de Paris para Los Angeles também ocorreu aos solavancos. Começou com o tradicional: a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, entregando a bandeira olímpica para sua par americana, Karen Bass. Simone Biles também apareceu no palco, mas sua participação limitou-se a segurar o pavilhão enquanto Tom Cruise descia de rapel do teto do estádio.

O planeta de “Missão Impossível”, sitiado pelos atletas, subiu ao palco, pegou a bandeira da ginasta e deixou o estádio em uma moto. Uma licença e tanto para a cidade que construiu quase 500 km de ciclovia e se vendeu porquê palco mais sustentável da história dos Jogos.

A atenção portanto foi para os telões, com Cruise logo sumindo, e a bandeira olímpica viajando até pontos icônicos da cidade californiana pelas mãos de nomes antigos e novos do esporte americano —porquê Michael Johnson, quatro ouros no atletismo de Barcelona-1992 a Sydney-2000, e Jagger Eaton, um bronze no skate em Paris.

Enquanto Red Hot Chili Peppers, Billie Eilish e Snoop Dogg embalavam um pequeno público diante de um posto de salva-vidas estilizado em uma praia de Los Angeles, o do Stade de France começava a deixar as arquibancadas. Atletas, há muito, fugiam por um portão lateral pouco iluminado.

Porquê na sinceridade, muito prejudicada pela chuva, a transição entre o ao vivo do estádio e a transmissão nos telões não funcionava. O espetáculo só voltou ao Stade de France e ao normal quando Léon Marchand subiu ao palco com a labareda olímpica. O show havia começado horas antes, com o planeta da natação francesa, de terno, gravata e óculos escuros, coletando o símbolo em uma pequena lanterna no Jardim das Tulherias —o balão com a pira olímpica sempre foi só um cenário.

Unicamente mais uma secção desconjuntada da sarau francesa. O {aperitivo} de Los Angeles não fez melhor.

Folha

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