Enem 2024: Tema Da Redação é Atual E Apropriado, Avaliam

Enem 2024: tema da redação é atual e apropriado, avaliam professores

Brasil

O tema da redação do Fiscalização Pátrio do Ensino Médio (Enem) deste ano, “Desafios para a valorização da legado africana no Brasil”, proposto pelo Instituto Pátrio de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), é “pertinente”, “atual”, “propício”, “interessante”, “necessário”, “urgente” e “pedagógico”.

As palavras são de professores ouvidos pela Escritório Brasil em Brasília e em São Paulo, que avaliam que o tema proposto na redação do Enem permite aos alunos demonstrarem suas competências textuais e refletirem sobre a verdade brasileira.


Brasília 03/11/2024  Professora de língua portuguesa do colégio SEB, Analu Vargas. Foto Arquivo pessoal
Brasília 03/11/2024  Professora de língua portuguesa do colégio SEB, Analu Vargas. Foto Arquivo pessoal

Professora Analu Varga diz que tema da redação propõe reflexão sobre funcionamento da sociedade – Foto registro pessoal

Professora de redação do SEB, em Brasília, Analu Vargas avalia que o tema escolhido “propõe reflexão acerca do funcionamento da sociedade”. “Estamos falando de uma urgência de valorizar a legado da cultura africana. Isso abre bagagem para se abordar também preconceito, o racismo, que é um delito, e tratar de processos que chamamos de resquícios pós-escravidão.”

A coordenadora e professora de redação do PB Escola e Curso em São Paulo, Juliana Rettich, acredita que o Enem, com suas temáticas de redação, tem caráter pedagógico para toda a sociedade brasileira; e que nascente ano o Inep acertou novamente ao propor um tema que pode se transformar em tarifa para reportagens de diferentes veículos de informação.

“Sabemos que temos três matrizes culturais no Brasil, mas ainda vivemos sob o que podemos invocar de colonialidade, um regime de poder que continua a subalternizar os povos racializados, porquê os povos africanos. Nas nossas aulas de redação, trabalhamos a partir da perspectiva da descolonização e da decolonialidade, discutindo a problemática dos currículos eurocentrados nas escolas e nas universidades. Diante disso, o nosso primeiro duelo é combater o epistemicídio, o homicídio do conhecimento, história e cultura produzidos pelos povos africanos e afrodiaspóricos”, aponta a docente.

Racismo estrutural

Coordenadora de redação e professora do Escola Lanço, em São Paulo, Nayara de Barros, destaca que há vários tópicos a serem explorados no tema do Enem. “Os estudantes poderiam tratar do debate racial que tem havido no campo da instrução. O próprio concepção de racismo estrutural poderia ser mencionado, em relação ao racismo porquê segmento da estrutura social, um sistema que se manifesta nas relações políticas, econômicas e jurídicas, que vai se apresentar também porquê um duelo à valorização dessa legado nas mais diversas instâncias.”

Colega de trabalho de Nayara no Lanço, Luiz Carlos Dias acrescentou que o tema da redação também diz saudação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Segundo ele, o ODS 18 “prima pela paridade étnico-racial”.

“Portanto, para que haja a valorização da cultura africana, temos que entender que os povos africanos são marginalizados historicamente no Brasil, desde o mercado de escravizados”, afirma o professor.

Para Hagda Vasconcelos, professora do Escola Galois, em Brasília, o tema “não surpreendeu” porque é uma “problemática persistente” no Brasil. “O Enem é uma prova muito democrática. É uma prova que coloca em questão aquilo que é necessário ser discutido.”


Brasília (DF), 30/10/2024 - Professora do colégio Galois, Hagda Vasconcelos, fala com alunos sobre dicas de redação para o Enem 2024. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Brasília (DF), 30/10/2024 - Professora do colégio Galois, Hagda Vasconcelos, fala com alunos sobre dicas de redação para o Enem 2024. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Hagda Vasconcelos, professora em Brasília, avalia que tema da redação não surpreendeu – Bruno Peres/Escritório Brasil

Na avaliação dela, os estudantes brasileiros estão preparados. “Nós temos de trabalhar a instrução antirracista. Valorizar o personagem preto. Valorizar o investigador preto. Eu acredito que os meninos estão muito preparados, muito embasados para produzir esse texto”, diz Hagda, considerando o teor ensinado de convenção com a Base Pátrio Generalidade Curricular (BNCC), que define as diretrizes e os assuntos que devem ser abordados em todas as escolas brasileiras – seja pública ou privada.

“Eu gostei muito do tema. É muito propício. É um tema que ampara as nossas discussões”, avalia Gilmar Félix, professor de língua portuguesa da Secretaria de Ensino do Região Federalista e também do Escola Marista de Brasília. O docente lembra que há uma lei desde 2003 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de cultura africana, além da cultura indígena, nas escolas brasileiras.

“Nós, que somos do movimento preto e que somos professores, queremos uma legitimação desse ensino. O tema não vai permanecer só na questão de falar de ensino da cultura africana, mas vai entrar na questão da instrução antirracista”, ressalta.

Visão hierárquica

O docente, no entanto, aponta que “a sociedade tem uma dificuldade em mourejar com o tema.” E que a abordagem de assuntos em sala de lição pode variar de escola em escola e até conforme a disposição dos docentes. “Alguns professores não querem debater o tema. Na nossa sociedade ainda tem indivíduos que mantêm uma visão hierárquica, de encontrar, por exemplo, que o papel e o lugar do preto são sempre aqueles que teve ao longo da escravidão”, lamenta.


Brasília 03/11/2024  Professor de língua portuguesa Gilmar Félix. Foto Arquivo pessoal
Brasília 03/11/2024  Professor de língua portuguesa Gilmar Félix. Foto Arquivo pessoal

Professor Gilmar Félix diz que tema da redação do Enem ajuda a desconstruir tendência hierárquica – Foto registro pessoal

Para Gilmar Félix, a redação do Enem, ao fazer os estudantes olharem para as heranças culturais africanas e a urgência da valorização, “ajuda a desconstruir essa tendência hierárquica.”

O docente alerta que, caso qualquer aluno não tenha desenvolvido a proposta, ainda que escrevendo sem erros de português e com argumentação, corre o risco de ser eliminado ou ter nota baixa por somente ter “tangenciado o tema.”

“A conhecimento 2 e a conhecimento 3 [exigidas pelo Inep] vão cobrar justamente que ele trabalhe com repertórios legitimados. Não dá para o aluno vir com achismo. O bom repertório é aquele repertório que é legitimado.”

A conhecimento 2 exige que o candidato interprete corretamente o tema e traga uma abordagem integral em relação a todas as palavras-chave contidas no tema e faça uma escolha adequada de repertórios capazes de contextualizar essa tradução contida no tema. A conhecimento 3 é uma adequada formatação de um projeto de texto que prevê a construção de uma introdução que apresente o tema, a tese e os argumentos, que aborde a problematização no desenvolvimento e depois caminho para o desfecho de mediação.

 


Arte Enem competências da redação
Arte Enem competências da redação

Fonte EBC

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