Bc: Contas Públicas Fecham Novembro Com Saldo Negativo De R$

Entenda a relação entre pleno emprego, inflação e juros do BC

Brasil

Uma das preocupações manifestadas pelo Banco Medial (BC) para manter a inflação sob controle tem relação com o nível de serviço e salários no Brasil. Em enviado publicado nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC citou as “pressões nos mercados de trabalho” mundiais uma vez que um fator considerado para diminuir a velocidade da redução dos juros básicos da economia. O comitê acrescentou que, no Brasil, o mercado de trabalho está apresentando “maior dinamismo que o esperado”.

Para entender a relação entre pleno serviço, inflação e juros do Banco Medial, a Dependência Brasil entrevistou quatro professores de economia de diferentes escolas de pensamento, desde aqueles vinculados a uma fluente mais liberal, até os mais heterodoxos. Isso porque a relação entre empregos, salários e inflação vem influenciando o debate sobre a taxa de juros no Brasil. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que, apesar de o pleno serviço ser desejado, existe a preocupação de a elevação dos salários gerar inflação.

“A preocupação vem quando as empresas não conseguem contratar, e você tem que principiar a subir o salário. Se você sobe o salário para o mesmo nível de produção, isso significa que você está iniciando um processo inflacionário. Portanto, a preocupação vem daí”, destacou em entrevista exclusiva à CNN Brasil. A sintoma gerou críticas de políticos e analistas.

Nesta semana, o Banco Medial BC reduziu a velocidade do golpe da taxa básica de juros. Em seguida seis cortes consecutivos de 0,5 ponto percentual, os diretores votaram, por 5 votos a 4, para reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto, para 10,5% ao ano. A decisão, apesar de esperada pelo mercado financeiro, gerou críticas de políticos ligados ao governo e de setores do negócio e da indústria, que avaliaram que a queda podia ser maior. O Brasil tem hoje a segunda maior taxa real de juros do mundo, detrás unicamente da Rússia, de convénio com o site MoneYou.

A taxa básica de juros, definida pelo BC, influencia as demais taxas de juros, uma vez que a dos bancos, impactando também o nível de atividade econômica do país. Quanto maiores os juros, menor o incentivo para se investir na produção, que gera serviço e renda.

Brasília (DF) 25/09/2023 - O presidente do CORECON/DF, César Bergo, é o convidado do programa Brasil em Dia da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Brasília (DF) 25/09/2023 - O presidente do CORECON/DF, César Bergo, é o convidado do programa Brasil em Dia da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

 César Bergo, professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB) – Joédson Alves/Dependência Brasil

Curva de Phillips

O professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB) César Bergo afirmou que a relação entre pleno serviço e inflação vem da teoria econômica da curva de Phillips, criada há mais de 60 anos, que diz que, quando o desemprego diminui, a inflação cresce, e vice-versa.

Segundo Bergo, quando o desemprego chega a níveis historicamente baixos, “você acaba tendo algumas pressões inflacionárias em função, primeiro, da melhoria de toda a renda e também acaba havendo um aumento de salário porque a oferta de serviço está praticamente esgotada e não tem mais pessoas para assumir postos de trabalho e aí você aumenta o salário”.

O professor da UnB acrescentou que essa teoria monetária afirma que o consumo pode gerar inflação porque aumenta a procura, e a oferta fica metódico, levando ao aumento de preços. “É por isso que tem essa relação entre pleno serviço e inflação. A preocupação do BC é olhar se esse pleno serviço é sozinho capaz de explicar o aumento de preços”, disse.

Bergo destacou ainda que há outras variáveis que são levadas em conta pelo BC para antecipar pressões inflacionárias, uma vez que o valor do dólar em relação ao real, o preço das matérias-primas no mercado global e os juros do Banco Medial dos Estados Unidos.

Brasília (DF) 10/05/2024 -  Professora de economia da UnB, Maria Lourdes Mollo.
Foto: UNB/Divulgação
Brasília (DF) 10/05/2024 -  Professora de economia da UnB, Maria Lourdes Mollo.
Foto: UNB/Divulgação

Professora de economia da UnB Maria Lourdes Mollo – UnB/Divulgação

Visão dominante

Para professora de economia da UnB Maria Lourdes Mollo, o Brasil não está nem perto do pleno serviço e essa visão expressa pelo BC e por Campos Neto é conservadora e equivocada. “Ainda que seja uma visão dominante, não é a única visão”, disse.

Segundo ela, essa visão supõe que, ao injetar numerário na economia, por meio de salários ou crédito, não haverá aumento da capacidade de produção. Porém, a economista destaca que o aumento da produção compensa as pressões inflacionárias causadas pelo prolongamento da demanda.

“Em um primeiro momento, você aumenta a demanda devido ao aumento dos salários. E, num segundo momento, você vai afetando também a capacidade produtiva que vai aumentando. Portanto, a médio prazo, o impacto disso é aumentar a produção e reter o prolongamento dos preços”, argumentou.

Maria Lourdes Mollo acrescentou que essa visão conservadora permite manter a taxa de juros subida para evitar o prolongamento da economia. “Uma vez que se todo prolongamento fosse prolongamento inflacionário, o que é discutível”, completou.

Mercado mundial

Visão semelhante tem a professora de economia política da Universidade Federalista do Rio de Janeiro (UFRJ) Maria Mello de Mamparra. Para ela, o menor desemprego e maiores salários não geram necessariamente mais inflação. “Esse tipo de inflação, que é a inflação de demanda, no capitalismo, ele não dura muito tempo porque o numulário quer lucrar numerário. Mesmo que houvesse esse projecto de serviço, que não há, o que numulário ia fazer? Ele ia produzir mais para atender à demanda, ele quer lucrar esse numerário.”

Brasília (DF) 10/05/2024 - Professora de economia política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maria Mello de Malta
Foto: Maria Mello de Malta/Arquivo Pessoal
Brasília (DF) 10/05/2024 - Professora de economia política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maria Mello de Malta
Foto: Maria Mello de Malta/Arquivo Pessoal

 Professora de economia política da UFRJ Maria Mello de Mamparra – Maria Mello de Mamparra/Registo Pessoal

Maria Mello de Mamparra acrescentou ainda que o Brasil não é uma economia fechada, estando ligada ao mercado mundial. Com isso, ainda que a produção interna não pudesse recompensar a pressão inflacionária de um aumento do serviço e salários, a produção mundial poderia.

“O país que tem a maior produção mundial, que é a China, está com a capacidade ociosa subida, e a China está louca para atender à demanda mundial. A relação entre inflação e desemprego, ela só é do jeito que está querendo a cabeça do presidente do Banco Medial se todo mundo estiver empregado, todo capital estiver empregado e todas as terras estiverem empregadas produzindo coisas. Nesse caso, sim, quando você tem o aumento do serviço, você poderia ter um resultado por um período de aumento de preços”, argumentou.

Taxa estrutural de desemprego

O professor de economia da Universidade Federalista de Minas Gerais (UFMG) Mauro Sayar explicou que a preocupação com o aquecimento do mercado de trabalho existe em todos os bancos centrais do mundo. Segundo o técnico, o problema ocorre quando o salário cresce supra da produtividade do trabalho.

A produtividade é a relação entre os bens produzidos e os meios usados (trabalho, matérias primas, etc.) para produzir determinado muito. Ou seja, a produtividade aumenta quando uma empresa, ou uma economia, consegue expandir a produção com a mesma quantidade de mão de obra, por exemplo.

“Quando o salário cresce na mesma velocidade da produtividade, ou seja, da capacidade de gerar produtos, aquele prolongamento de salário é sustentável, ele não gera pressão inflacionária”, destacou.

Brasília (DF) 10/05/2024 - Professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mauro Sayar.
Foto: Mauro Sayar/Arquivo Pessoal
Brasília (DF) 10/05/2024 - Professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mauro Sayar.
Foto: Mauro Sayar/Arquivo Pessoal

Professor de economia da UFMG Mauro Sayar – Mauro Sayar/Registo pessoal

Sayar explicou que as economias têm taxas estruturais de desemprego que, quando diminui inferior desse nível estrutural, há risco de pressões inflacionárias. O técnico sustenta que essa taxa estrutural – que tem relação com o nível de escolaridade da população e com a legislação trabalhista, entre outros fatores – não é exata no Brasil devido à descontinuidade da série histórica da taxa de desemprego.

Porém, Sayar diz que a maioria dos economistas avalia que a taxa estrutural do desemprego gira em torno dos 8% no Brasil.  “Quando ela está inferior de 8%, isso acende uma luz amarela”, comentou. A taxa de desemprego no Brasil fechou o primeiro trimestre do ano em 7,9%, tendo chegado a 7,4% no final de 2023.

O economista da UFMG defendeu que a atuação do BC tem sido prudente porque o risco de a inflação trespassar do controle existe e pode prejudicar toda a economia de forma estrutural. “E, se o Banco Medial vacilar, acontece aquilo que a gente já passou. A inflação sobe e perde controle. Depois o dispêndio é muito mais ressaltado. E aquele proveito de salário não vai permanecer com a sociedade. Ele vai subir preços de forma universal e preços que nunca mais caem”, completou.

Fonte EBC

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *