O Rio de Janeiro está em alerta levante termo de semana por justificação da ocorrência de temporais, que levam à população o temor de deslizamentos e desmoronamentos. O desabamento de uma residência em Petrópolis, município da região serrana, na sexta-feira (22), deixou quatro mortos.
Entre quinta-feira (21) e sábado (23), tinham ocorrido na cidade 113 deslizamentos. Em Teresópolis, município vizinho, foram feitas 15 notificações em dois dias seguidos.
Na localidade Granja Flora, em Petrópolis, o reunido de chuva chegou a 307,6 milímetros (mm) em 24 horas. Isso equivale a proferir que caíram, em média, 307,6 litros de chuva, em cada metro quadrângulo da região.
A Escritório Brasil conversou com especialistas para entender, tecnicamente, porquê a ocorrência de fortes chuvas afeta o solo e pode promover desastres.
O profissional em geotecnia Marcos Barreto de Mendonça, professor da Escola Politécnica da Universidade Federalista do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que deslizamento “é um processo procedente, é a evolução procedente das encostas. O problema é o ser humano estar exposto.”
Pressão no solo
O professor detalha que os terrenos são porosos. Durante as chuvas, secção da chuva é escoada para a rede pluvial e secção se infiltra no solo.
“O solo fica lá na encosta paradinho, o que a gente labareda de encosta fixo, porque o solo é resistente, ele fica fixo. Quando a chuva se infiltra, a pressão aumenta. Isso é normal, infiltra-se e vai nutrir os aquíferos, que são os lençóis d’chuva. Esse é o processo procedente, faz secção do ciclo hidrológico”, pormenoriza.
“Mas, se aumentar muito a quantidade de chuva se infiltrando no terreno, pode gerar uma pressão tão grande que vai fazer com que o solo perda a resistência e deslize”, complementa.
Mendonça acrescenta que, em regiões onde há habitações, a situação se agrava. “O problema é a forma porquê a sociedade se organiza no território, que expõe a população a essas ameaças de deslizamento.” Ele critica a falta de infraestrutura em regiões notadamente ocupadas pela população mais pobre, porquê favelas.
“Se eu não tenho nenhum sistema de drenagem superficial para coletar essa chuva e direcionar rapidamente para o pé da encosta, o que vai ocorrer é que mais chuva vai se infiltrando no terreno. Logo essas áreas que são desprovidas de infraestrutura são mais suscetíveis a deslizamentos”, explica.
Aliás, o próprio esgoto sanitário dessas comunidades, não coletado de forma correta pela infraestrutura urbana, acaba contribuindo para o aumento de pressão da chuva no solo.
“O esgoto é porquê se fosse uma chuva antrópica, ou seja, o varão que está provocando essa infiltração de chuva, e não a natureza”, afirma.
Mapeamento
Segundo o professor Mendonça, as áreas mais suscetíveis a deslizamentos são as regiões montanhosas. Ele cita a região serrana no Rio, desde Catadupa de Macacu, Teresópolis, Petrópolis, Novidade Friburgo e Cantagalo. Em janeiro de 2011, chuvas provocaram a morte de muro de milénio pessoas em municípios serranos.
De convenção com Mendonça, outro ponto de atenção é a região metropolitana do Rio de Janeiro, porquê morros na capital, em São Gonçalo e em Niterói.
Apesar de as principais intercorrências causadas por temporais na Baixada Fluminense serem inundações, Mendonça adverte que há problemas com deslizamentos também. “Os municípios da Baixada Fluminense têm problemas também de deslizamentos – Duque de Caxias, Belford Roxo, Novidade Iguaçu. Não tão grandes quanto Rio de Janeiro, Niterói e São Gonçalo.”
Na lista de localidades suscetíveis, estão ainda Baía dos Reis, na Costa Verdejante, e o entorno de Barra Mansa (sul fluminense) e Rio Simples (Médio Paraíba).
Baixa renda
O professor entende que condições socioeconômicas “pressionam” populações mais pobres e vulneráveis a habitar essas áreas, deixando-as expostas a riscos aumentados de desmoronamentos.
A opinião é compartilhada pela pesquisadora Thêmis Aragão, do Observatório das Metrópoles – um instituto pátrio de ciência e tecnologia ligado ao Parecer Pátrio de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Thêmis cita, por exemplo, vários pontos de alerta no Multíplice do Germânico, conjunto de favelas na zona setentrião do Rio de Janeiro, e vê sisudez também na região serrana, onde qualquer expansão da população esbarra nas condições geográficas dos municípios. “Para onde a mancha urbana se expande, estará se expandindo por áreas íngremes”, ressalta.
Para a pesquisadora, o problema tem se agravado ao longo dos anos por questões demográficas, isto é, pelo aumento da população. A pesquisadora do Observatório das Metrópoles labareda a atenção para lacunas na atuação do poder público em relação a moradias.
“A ocupação irregular vai ocorrer principalmente pela falta de política pública de habitação. O Estado não pode permanecer ao largo dessas questões porque, de uma maneira universal, os territórios vulneráveis são resultados da falta do Estado”, avalia Thêmis, que também vê falhas na infraestrutura dessas localidades.
“A gente tem tecnologia e engenharia que possa mourejar com esse risco, mas você tem que ter uma política pública de monitoramento e uma agenda para promover essa infraestrutura, esses muros de contenção, a secção de drenagem”, conclui.
Poder público
Questionada pela Escritório Brasil sobre infraestrutura e política de habitação relacionadas a áreas de risco, a prefeitura do Rio de Janeiro informou que tem protocolos de acionamento das equipes operacionais sempre que existe a previsão de eventos chuvosos, porquê sirenes, além de oferecer treinamento de segurança para moradores.
“Desde 2011, foram realizados 54 exercícios simulados, 12 deles exclusivamente nos últimos quatro anos. São 164 sirenes instaladas em 103 comunidades. O sistema tem ainda 194 pontos de suporte cadastrados”, informou.
A prefeitura acrescenta que, desde 2021, as aplicações em ações preventivas somam R$ 2,1 bilhões. Aliás, a Instalação Instituto de Geotécnica do Município (Geo-Rio) vem recebendo grande investimento para obras e mitigação de risco em encostas da cidade. Desde 2021, “a Geo-Rio realizou mais de 150 obras com investimento vindo de recursos próprios, de muro de R$ 215 milhões.”
Também procurado pela Escritório Brasil, o governo do estado informou que monitora em tempo real, por meio do Núcleo Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden-RJ), as condições meteorológicas e os níveis pluviométricos em todo o território fluminense, enviando alertas para os municípios, quando necessário.
Segundo a nota, o governo vem investindo, desde 2021, por meio do programa PactoRJ, R$ 4,3 bilhões em obras de infraestrutura.
O Projecto de Contingência para as Chuvas do verão de 2023/2024 prevê investimento de mais de R$ 3 bilhões em equipamentos de última geração, tecnologia e treinamento das equipes que atuam em situações de emergência. “Somente ao Corpo de Bombeiros, foram destinados muro de R$ 1 bilhão em novas tecnologias, renovação, modernização de viaturas, equipamentos e treinamentos especializados.”