Os primeiros acordes de “Sunshine of Your Love” ecoando no estádio Estádio da Baixada, em Curitiba, pontualmente às 21h desta terça-feira (24), quebraram o jejum de 13 anos sem apresentações do consagrado guitarrista e cantor britânico Eric Clapton no Brasil.
A música, de 1967, remete aos primeiros anos de curso do artista, ainda na filarmónica Cream, e veio seguida de outros clássicos, porquê “Badge”, parceria com George Harrison. A introdução deu o tom da noite repleta de sucessos, grandes solos instrumentais, pouca interação com a plateia, e uma pitada política, com Clapton finalizando o show com uma guitarra estilizada com a bandeira palestina.
O público de 30 milénio pessoas que foi ao estádio esperando por um show de Clapton foi agraciado também com a filarmónica que apareceu tanto quanto o artista principal. Destaques para o guitarrista Doyle Bramhall II e os tecladistas Tim Carmon e o veterano Chris Stainton, que conduziram vários momentos do espetáculo.
Com a ajuda dos músicos, o planeta transitou —e brincou— entre o rock e o blues, mas também conversou com outros estilos, mostrando que continua inovador e dando espaço ao novo. Em um momento do show, pareceu até que a filarmónica ameaçou alguns acordes de samba.
Antes mesmo da apresentação solene, o público foi inficionado pela preâmbulo de Gary Clark Jr., guitarrista e cantor americano, que vem sendo comparado a Jimi Hendrix. A plateia, no início tímida, acabou entregue à habilidade do cantor em fundir blues, rock, soul e elementos de hip hop.
Clapton foi um dos propulsores da curso de Clark, que ganhou mais visibilidade depois se apresentar no Crossroads Guitar Festival, organizado pelo britânico em 2011. O músico, hoje já solidificado porquê um dos maiores nomes contemporâneos de blues, abre todos os shows de Clapton no Brasil. Em Curitiba, ele também participou da última música do espetáculo.
O setlist na capital paranaense não fugiu muito do que Clapton havia apresentado em Buenos Aires na sexta-feira (20), transitando entre diversos momentos da sua trajetória músico. Mas passou longe dos primeiros shows da turnê, que estreou em Londres, em maio.
A preâmbulo com clássicos foi seguida de um segundo conjunto intimista, com o cantor ao violão sentado no meio do palco, cuja decoração se limitava a poucos pendentes luminosos. Dessa secção vieram “Kind Hearted Woman Blues”, “Running On Faith”, “Change the World”, “Nobody Knows You When You’re Down and Out” e “Believe in Life”.
Das versões acústicas surgiu um dos pontos altos da noite, com um dos maiores sucessos do artista: “Tears in Heaven” (1992), parceria com Will Jennings, lançado originalmente na trilha sonora do filme “Rush”, de 1991. A melodia, vencedora de três Grammys, é uma homenagem ao rebento de Clapton que morreu aos quatro anos depois tombar de um prédio.
O público formado essencialmente por grisalhos acendeu as luzes dos celulares e entoou a melodia, apesar da pouca interação do artista. Em somente dois momentos ele soltou um “obrigado”, deixando simples que a atração principal do show era a música, o que parece não ter afetado a leal e antiga plateia de fãs.
Nem mesmo o calor fora de quadra em Curitiba, acrescido da sensação térmica maior com o estádio de teto retrátil fechado, e das oscilações acústicas do espaço diminuíram o exaltação do público em reencontrar seu ídolo no Brasil. Em vários cantos da pista e da arquibancada era provável ouvir palavras de louvor ao artista e ao espetáculo.
O último conjunto do espetáculo provou mesmo que o “slowhand” só poderia ser um sobrenome irônico, mesmo hoje, aos 79 anos de idade. As mãos do artista continuam ágeis e lhe comprovam o título de “Deus” das cordas.
Se a emoção já rolava solta no conjunto acústico, foi provável ver jovens e velhos amantes do rock chorando na secção final do show ao som de extensos solos de Clapton na guitarra, porquê em “Cross Road Blues” e “Little Queen of Spades”, ambas de Robert Johnson, mas eternizadas pelo britânico.
Apesar da fita “Prayer of a Child” não ter aparecido no primeiro show no Brasil, Clapton citou indiretamente o conflito Israel-Hamas ao retornar ao palco para o final com uma guitarra pintada com a bandeira palestina.
O artista ainda pincelou seus clássicos “Pretending, Got to Get Better in a Little While” e “Old Love”., e chegou ao vértice na realização de “Cocaine”, sucesso de J.J. Cale, mas que já serve a Clapton porquê se sua fosse.
Apesar dos rostos satisfeitos da maioria do público, houve quem reclamasse da privação de outros sucessos na imensa lista do guitarrista, porquê “Layla”, considerada uma das canções românticas definitivas do rock.
O show em Curitiba foi o primeiro dos poucos que o artista realiza no país. Clapton ainda se apresenta no Rio de Janeiro na quinta-feira (26), na Jeunesse Estádio, e em duas noites em São Paulo —dia 28, no Vibra São Paulo, e no dia 29, no Allianz Parque. Todos com lar enxurro.