Espetáculo ‘aquele Abraço’ Atualiza Os Tons Da ‘aquarela Brasileira’ Com

Espetáculo ‘Aquele abraço’ atualiza os tons da ‘aquarela brasileira’ com funk, rap, rock, sertanejo e toada amazônica

Celebridades Cultura

Atração do Roxy Dinner Show, músico hi-tech é sarau de clichês para os olhos gringos, mas se ressente da pouquidade de vozes imponentes no grande elenco. ♫ OPINIÃO SOBRE ESPETÁCULO MUSICAL
Título: Aquele amplexo
Direção artística: Abel Gomes
Roteiro: Leonardo Bruno
Data e lugar: 18 de outubro de 2024 no Roxy Dinner Show (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★
♪ Em 1963, o compositor Silas de Oliveira (1916 – 1963) mapeou e exaltou os ritmos nacionais nos versos de Aquarela brasileira, antológico samba-enredo cantado pela escola Poderio Serrano no Carnaval carioca de 1964.
Ao longo desses 60 anos, a aquarela ganhou outros tons que acentuaram a miscigenação sonora do Brasil. Circunspecto aos sinais de inclusão neste país que ainda luta por reverência às diversidades, o jornalista e repórter Leonardo Bruno atualizou os tons da aquarela brasileira ao montar o roteiro do espetáculo Aquele amplexo, atração para gringos em edital no Roxy Dinner Show, lar recém-aberta em Copacabana – bairro que resiste uma vez que maculado cartão-postal da cidade do Rio de Janeiro (RJ) – no lugar onde funcionava o histórico cinema de rua Roxy.
Ao longo de uma hora e meia, sob direção de Abel Gomes, um elenco de murado de 60 artistas – entre cantores, dançarinos e ritmistas – passa em revista as levadas, as danças e os gêneros musicais das cinco regiões do Brasil. Mas com visão atual e inclusiva, sem o tom racista de espetáculos anteriores do gênero, calcados na objetificação do corpo da mulher negra.
No início do espetáculo, das quais ingresso dá recta a um jantar, a releitura do samba-exaltação Aquarela do Brasil (Ary Barroso, 1939) no compasso do rap já diz muito sobre as boas intenções do roteirista.
Está lá no roteiro de Leonardo Bruno o Rio dos sambas e das batucadas das escolas – sinterizadas no apoteótico medley final com aliciantes sambas-enredos uma vez que Peguei um ita no Setentrião (Demá Chagas, Arizão, Projéctil, Guaracy e Celso Trindade – Carnaval de 1993) e É hoje (Didi e Mestrinho – Carnaval de 1996) – mas também o rio dos requebros febris do batidão do funk carioca, representado por sucessos de Anita e Ludmilla, embaixatrizes do gênero além das fronteiras do Brasil.
Também está lá o manipanço do rock da garoa paulistana – representado pelo Ôrra meu (1980) da ovelha desgarrada Rita Lee (1947 – 2023) – e a magia afro-brasileira da Bahia, revivida em medley que entrelaça sucessos de Filarmónica Mel, Daniela Mercury e Margareth Menezes, com menção honrosa para a memorial de Baianidade nagô (Evandro Rodrigues, 1991), música do repertório da Filarmónica Mel que sintetiza o axé de Salvador (BA) em letra afinada com a bela melodia.
Entram na aquarela do show Aquele amplexo o tom agro pop dos rodeios e da música sertaneja – com o quina do hino Evidências (José Augusto e Paulo Sérgio Valle, 1989) – e as toadas amazônicas dos bois Caprichoso e Reservado.
O roteiro também encadeia marcha-frevo junina para lembrar as festas do interno, músicas áridas do sertão nordestino, o baque do maracatu e um toque da chula gaúcha para estancar todo o território músico do país.
Em suma, o espetáculo Aquele amplexo promove desfile hi-tech de clichês que cumprirá a função de fascinar turistas com as cores do Brasil, com proveniente ênfase na trilha sonora do Rio de Janeiro perfilado por Gilberto Gil no samba de 1969 que dá nome e encerra o espetáculo.
A maravilha do cenário é o tela de LED côncavo – de 210m², tecnologia 4D e solução de oito megapixels – que exibe, na tela do velho cinema, imagens captadas com retoque cinematográfico. A intenção é propor experiência imersiva, com tomadas áreas que vão do mítico e carioca Morro de Mangueira ao Pelourinho, suplente de ancestralidade do povo de Salvador (BA).
Para os olhos gringos, o show certamente será uma sarau de luzes e cores, até pelo incessante troca-troca de figurinos, murado de 350, criados por Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos da escola de samba Grande Rio.
Para os ouvidos brasileiros e estrangeiros, a sarau soa menos animada porque o único real entrave do espetáculo é a pouquidade de grandes vozes no elenco de cantores. Isso fica evidente quando entram em cena personagens-símbolos da música do Brasil no exterior, uma vez que Carmen Miranda (1909 – 1955) e João Gilberto (1931 – 2019), representados e cantados sem viço.
A seleção músico é ótima e ganha alguma força nos números coletivos, até porque as coreografias são vivazes e os dançarinos mandam muito. Mas, é preciso ter em cena vozes imponentes – nem que sejam somente duas ou três – para carregar no gogó um espetáculo músico desse porte.
Se feito o necessário ajuste, o espetáculo músico Aquele amplexo tem chance de se solidar uma vez que atração do calendário turístico da cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Fonte G1

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