O brasiliano Rodrigo Teixeira, um dos dois produtores indicados ao Oscar por “Ainda Estou Cá”, afirma que o sucesso internacional do filme de Walter Salles já está rendendo frutos, despertando uma curiosidade muito maior pelo cinema brasiliano.
“Está abrindo portas, aumentando o interesse. Querem saber o que estamos fazendo, quais os próximos passos do cinema brasiliano”, disse Teixeira à Folha na noite desta quinta-feira, em Los Angeles.
No domingo, ele participará de sua segunda cerimônia do Oscar, depois ser convidado da sarau em 2018, quando o longa “Me Chame pelo Seu Nome”, que ele ajudou a produzir, foi indicado a quatro prêmios, levando a estatueta de roteiro ajustado.
Porém, ele diz que agora a “sensação é infinitamente maior”. “É realmente outra emoção. Estou meio anestesiado até, não sei descrever o que estou sentindo”, afirmou Teixeira. “Sinto que estou representando de trajo o meu país. Parece que tenho uma bandeira do Brasil tatuada no peito. Estou muito orgulhoso de ser brasiliano, e ainda estar cá fazendo arte.”
Teixeira, que tem inúmeros projetos em estágios diferentes de produção —incluindo um inspirado num disco de Bob Dylan—, participou de um evento no Museu da Ateneu ao lado das equipes dos outros nove filmes indicados ao Oscar principal.
Ele prefere não dar palpites sobre as possibilidades de vitória no domingo. “As expectativas são muito individuais. Essa prefiro zelar para mim”, disse. “A indicação foi nosso prêmio, qualquer coisa que a gente lucrar, será uma vitória imensa.”
“Ainda Estou Cá” compete em três categorias —filme internacional, atriz para Fernanda Torres e melhor filme. Se vencer nessa última, Teixeira é quem receberá o prêmio, ao lado da produtora Maria Carlota Bruno, diretora-executiva da VideoFilmes.
Além das indicações, o filme é sucesso de bilheteria no Brasil e no mundo, chegando perto dos R$ 160 milhões em ingressos vendidos —R$ 104 milhões deles, por ora, no país natal. O produtor acredita que é preciso um esforço da indústria para que o público brasiliano continue querendo voltar ao cinema.
“Fazemos filmes para as pessoas saírem de moradia, se encontrarem na rua, verem um filme juntos, sentirem uma emoção conjunta”, afirmou. “A gente não faz filme para as pessoas ficarem em moradia, esperando os filmes chegarem em moradia.”
“‘Ainda Estou Cá’ conseguiu isso. É uma realização enorme. A gente está cá por razão dessa empolgação do Brasil. É um resultado dos brasileiros comprando ingresso, admirando e alavancando esse filme.”
No tela no Museu da Ateneu, ele falou sobre a cena do filme que o fez chorar, quando uma das filhas de Rubens Paiva conversa com ele no quarto, sem saber que seria a última vez, minutos antes de ele ser levado por agentes da ditadura.
Teixeira contou que aquele dia, 20 de janeiro de 1971, coincide com a data de promanação de seu rebento, 37 anos depois. “Meu pai morreu quando eu era muito jovem, e eu conheço aquele sentimento de perda”, disse, citando o “trabalho resplandecente” de Selton Mello no papel do ex-deputado federalista Paiva.
O produtor diz estar entusiasmado com a safra de filmes nacionais deste ano, elencando dois trabalhos que produziu recentemente —”Privadas de suas Vidas”, do Gustavo Vinagre, e “Isabel”, de Gabe Klinger. “Até o Sean Baker veio me perguntar sobre ‘Isabel’ nesta semana”, disse Teixeira à reportagem sobre o diretor de “Anora”, indicado em seis categorias do Oscar, incluindo direção, filme do ano e atriz para Mikey Madison.
“Isabel” tem Marina Person uma vez que protagonista, uma mulher que quer transfixar seu próprio bar de vinhos em São Paulo. Person também assina o roteiro com Klinger.
Já “Privadas de suas Vidas”, Teixeira classificou de um “filme de terror meio Cronenberg com John Waters”. “Estou muito entusiasmado, vi o resultado e acho que fizemos uma coisa de eminente nível”, disse.
Teixeira tem outros projetos internacionais, uma vez que um novo longa com o diretor Luca Guadagnino, de “Queer” e “Me Chame pelo Seu Nome”, inspirado no álbum “Blood on the Tracks”, um dos trabalhos mais famosos de Bob Dylan, lançado em 1975.
“Vai transpor do papel, sim. Hoje mesmo tive uma reunião muito boa sobre esse filme”, disse, explicando que Dylan não aparece uma vez que personagem, uma vez que acontece em “Um Completo Incógnito”, indicado em oito categorias. “É inspirado no álbum. Não é um filme relacionado a ele diretamente.”
O brasiliano também produziu dois trabalhos com o diretor romeno Radu Jude: a comédia de terror “Dracula Park” e “Kontinental ’25”, que ganhou o Urso de Prata de melhor roteiro no Festival de Berlim. Em abril, começa a gravar sua terceira colaboração com James Gray, o longa “Paper Tiger”, com Anne Hathaway e Adam Driver.
