“Minha proeza pessoal se identifica com a proeza vivida pelo mundo. Não tenho méritos para isso, sou um varão manejando uma câmera. Quando muito operada, é um fósforo entrada na negrume. Ilumina fatos nem sempre muito compreensíveis. Oferece lampejos, revela dores do impasse do mundo. E desperta nos homens o libido de destruir levante impasse.”
O fotojornalismo brasiliano se desenvolveu de forma marcante nos anos 1940 e 1950, no período democrático do pós-guerra, em privativo através das páginas de revistas ilustradas, uma vez que O Cruzeiro, onde uma novidade geração de fotojornalistas nascidos no país em regiões distantes do eixo de poder político e econômico do Sudeste, uma vez que José Medeiros, Luciano Carneiro, Luiz Carlos Barreto, Flavio Damm e Henri Ballot, buscaram uma retrato engajada e de cunho social em um momento onde o testemunho visual sobre a verdadeira face do país estava em pleno processo de disputa e construção.
Temas uma vez que a pobreza das favelas no Rio de Janeiro, as lutas pela posse de terreno no Meio-Oeste e os diversos grupos indígenas sendo contatados, desestruturados e deslocados pela acelerada marcha para o oeste promovida pelo governo federalista naquele momento, processo que antecede a construção e inauguração de Brasília em 1960, foram todos objeto de uma ampla documentação visual, que teve grande impacto e influência sobre a população em universal e principalmente sobre a geração seguinte de fotojornalistas que entrariam no mercado na segunda metade da dez de 1950, uma vez que foi o caso do jovem fotógrafo Evandro Teixeira, morto na tarde desta segunda-feira (4), aos 88 anos.
Nascido em 1935, Evandro Teixeira saiu de Irajuba, na Bahia, a 307 quilômetros de Salvador, para fotografar o Brasil e o mundo. Fez isso tão muito que é difícil dissociar seu nome de qualquer evento no país na segunda metade do século 20.
Em quase 70 anos de atividade, 47 deles no Jornal do Brasil, registrou o golpe militar de 1964 e as manifestações estudantis de 1968, eternizou em imagens icônicas Pelé e Ayrton Senna, acompanhou as visitas ao Brasil da rainha Elizabeth 2ª e do papa João Paulo 2º, documentou lazeira e pobreza, mas também Carnaval e festas populares. Política, esporte, tendência, comportamento, zero escapou às suas lentes.
Esse conjunto monumental, com mais de 150 milénio fotografias, está desde novembro de 2019 sob a guarda do Instituto Moreira Salles. São mais de século milénio negativos e milhares de imagens digitais, e também tudo o que diz saudação às suas quase sete décadas de trabalho, das quais 47 anos num só veículo de prensa, o Jornal do Brasil. Fazem segmento do pilha equipamentos variados, uma vez que suas primeiras câmeras e aparelho de telefoto, além de revistas, livros, recortes de jornais, cartazes e catálogos de exposições.
Além de sua produção no JB, o registo inclui importantes projetos pessoais e independentes que realizou, uma vez que a farta documentação que fez de Canudos. O trabalho está no livro “Canudos: 100 Anos”, mas, para além dele e dos negativos de vários anos de trabalho, há toda uma história de bastidores da sua aproximação pessoal e afetiva com os descendentes do massacre no sertão da Bahia.
É neste contexto, portanto, de vivência democrática e empatia pela vida dos outros, por um lado, e de resistência permanente contra o autoritarismo e a violência, por outro, que Teixeira construiu e amadureceu sua curso e obra, legado fundamental para o país e sua história.
Suas imagens se tornaram símbolos da resistência ao fascismo e ao autoritarismo ao longo dos últimos 40 anos de democracia, duramente reconquistada pela população brasileira, o mais longo período democrático da república.
A obra de Teixeira é, portanto, a frase plena do compromisso permanente do fotojornalismo com o testemunho direto da verdade e com a liberdade de frase e geração, essenciais tanto em nosso pretérito recente uma vez que ainda hoje.
Decorridas cinco décadas, suas imagens sobre as ditaduras militares no Brasil e no Chile reafirmam claramente a relevância da democracia e do saudação inteiro ao Estado de Recta e à cidadania. São imagens que desnudam o autoritarismo e permanecem denunciando, ainda nos dias de hoje, de forma clara e cristalina os riscos das aventuras golpistas.
As fotografias resistem e constituem um legado visual para a história das populações e suas lutas. Não há incerteza que nos acervos do fotojornalismo –nos órgãos de prensa ou nos arquivos pessoais dos fotógrafos– encontram-se as imagens que dão visibilidade aos despossuídos e segregados e também às recorrentes e essenciais manifestações por liberdade, justiça e direitos civis. Esta enorme imposto da retrato para a compreensão da verdade política e social dos países é fundamental e deve ser preservada e amplamente difundida.
O legado de Evandro Teixeira, pleno de vida, venustidade, empatia com os deserdados da terreno e luta e luz contra todas as formas de vexame e violência, permanecerá sempre conosco em suas inúmeras imagens, essenciais e incontornáveis, e na memorial permanente de seu largo sorriso, hospitaleiro e jovial, com que recebia todos que o procuravam, marca de uma personalidade afetiva e amorosa que sempre soube manter acessa a labareda da vida e da esperança mesmo frente a todas as dores e impasses deste mundo.
Viva Evandro!
Sergio Burgi é coordenador de retrato do IMS