Evento Discute Em Salvador Futuro Da Capoeira No Brasil E

Evento discute em Salvador futuro da capoeira no Brasil e no mundo

Brasil

O maior evento vernáculo para discussão do porvir da capoeira no Brasil e no mundo será realizado em Salvador no período de 24 a 27 deste mês, em três locais do núcleo histórico da capital baiana: Espaço Cultural da Barroquinha, Terreiro da Sé e Terreiro da Cruz Caída. A ingresso é franca, e a programação completa do 5º Rede Capoeira pode ser conferida no Instagram.

O idealizador e coordenador do evento, criado em 2013, Rabino Sabiá, disse à Dependência Brasil que a edição deste ano propõe a ressignificação dos heróis populares, ou seja, dos mestres mais antigos, para que os mais novos possam reverenciar, entender a influência deles e os serviços que prestaram à comunidade capoeirística e à cultura popular, de forma universal. Para ele, esse novo olhar deve ser estendido a toda a sociedade que, muitas vezes, tem um olhar menor para com a capoeira.

Segundo Rabino Sabiá, a capoeira hoje está presente em murado de 170 países e é a maior divulgadora da língua portuguesa no mundo. “Vem desempenhando um papel necessário e significativo, presente em diversas escolas e universidades. A capoeira está inserida em diversos espaços. É uma das maiores redes informais que existem e tem a grande responsabilidade de associar as culturas que a transversalizam”.

Ele enfatizou que onde existe capoeira vai-se encontrar sempre o samba de roda, assim uma vez que a puxada de rede e o maculelê, que são manifestações da cultura popular afrodescendente.

Mestre Sabiá - Matéria sobre encontro de capoeira em Salvador. Foto: Bruna Laja/Divulgação
Mestre Sabiá - Matéria sobre encontro de capoeira em Salvador. Foto: Bruna Laja/Divulgação

Rabino Sabiá, fundador do Rede Capoeira e organizador do evento em Salvador – Foto: Bruna Laja/Divulgação

Patrimônio

Um ano depois a geração do Rede Capoeira, a capoeira tornou-se a quinta sintoma cultural brasileira reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Ensino, a Ciência e a Cultura (Unesco), uma vez que Patrimônio Cultural Intáctil da Humanidade, somando-se ao samba de roda do Recôncavo Baiano; ao Kusiwa, arte e pintura corporal própria dos povos indígenas Wajãpi, do Amapá; o frevo, de Pernambuco; e a romaria religiosa do Vela de Nazaré, do Pará.

Rabino Sabiá chamou a atenção para o trajo de a capoeira, além de ser patrimônio cultural intangível, ter de ser alimentada uma vez que muito material e disse que essa reflexão precisa chegar ao poder público. Segundo o rabino, o país vive um momento favorável a isso, com pessoas bem-intencionadas no contexto governamental. Ele destacou que a capoeira está inserida na rede privado de ensino, mas ainda não entrou uma vez que material curricular na rede pública. “A capoeira ocupa um papel de extrema significância uma vez que um veículo de transformação social, em nível de instrução, de inclusão. É importante ter um olhar maior para a comunidade capoeirística, ver a capoeira de uma forma maior.”

A capoeira, sintoma de origem escrava, que resultou em perseguições aos que a praticavam, atualmente é referência de instrução em Portugal, país que colonizou o Brasil, nos demais países europeus e em vários continentes, destacou o rabino. Por isso, os brasileiros precisam ver a capoeira uma vez que uma cultura maior, que engloba várias vertentes, tanto educacionais quanto esportivas. “É uma arte que engloba várias artes e tem a responsabilidade também da consciência política. É importante entender os serviços prestados pela capoeira. Em um mundo de tantas superficialidades, a capoeira vem trabalhando e resgatando, manifestando a ancestralidade, a resiliência. É um movimento de resistência extremamente significativo”, acrescentou.

Olimpíada

Apesar de englobar também o lado esportivo, a capoeira não está entre as modalidades incluídas nos Jogos Olímpicos. Rabino Sabiá considera necessário trazer essa reflexão para o Rede Capoeira, evento que envolve a realização da Estação Paranauê – competição em que são escolhidos os melhores atletas e o vencedor mundial. “Esse vencedor mundial vem reverenciar, naquele momento, a tradição. Daí, a gente desperta para a influência de reverenciar os mestres mais velhos. A gente não pode estar muito se eles não estiverem muito”.

Sabiá lembrou que o Rede Capoeira tem 14 mestres com mais de 80 anos, que foram os desbravadores do processo de internacionalização dessa arte nas décadas de 1960 e 1970 e ajudaram a publicar a cultura afro-brasileira. “Eles, muitas vezes, passam por um olhar esquecido. Daí a premência de estarmos atentos para os mais velhos, que são verdadeiros heróis, e para a influência que eles têm.”

Uma vez que a cultura da capoeira é feita por meio da oralidade e não há muitos registros sobre essa sintoma, é importante preservar a tradição e inseri-la de alguma forma, defendeu Rabino Sabiá. “Quando os mestres vão embora [morrem], vai embora com eles uma livraria. Porque eles viram o que ninguém viu e ouviram o que ninguém ouviu e só eles podem descrever uma coisa dentro do seu olhar.”

No mundo contemporâneo, onde as coisas são rápidas e descartáveis, é preciso refletir sobre a influência dos antigos, insistiu o rabino capoeirista. ”Eles têm influência de direcionamento, de detentores de um conhecimento maior. A sociedade, dentro de várias reflexões que precisa fazer, precisa entender a capoeira uma vez que arte maior.”

Preconceitos

Sabiá citou um ditado em iorubá, que diz: ”Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje”. Para ele, esta é uma possibilidade de emendar alguns encontros que houve no pretérito, uma revisão muitas vezes preconceituosa em relação à capoeira, dentro de uma matriz estrutural em que não se sente segmento dela. E trazer novos conceitos que vão fortalecer a cultura afrodescendente, com a capoeira que já foi esporte e atividade cultural mais praticada no Brasil, que saiu do Código Penal na dezena de 1930. Mas ela conta muito sobre um pretérito cruel.”

Nesse processo, destaca-se Rabino João Grande, que teve papel de destaque e vive há mais de 30 anos em Novidade Iorque. Foi reconhecido uma vez que doutor honoris motivo pela Universidade de Boston, nos Estados Unidos, sem ao menos falar inglês. “Ou seja, é um agente cultural que sai de uma cultura perseguida, discriminada, com um olhar menor e, de repente, vira referência dentro de outro país”.

Daí a influência de valorizar os heróis da capoeira no Brasil e os serviços por eles prestados, ressaltou Rabino Sabiá. “A capoeira é uma arte maior que trabalha música, instrução, história, valores, ancestralidade, fora todos os benefícios físicos e de coordenação, estabilidade, percepção espacial. É uma óptimo instrumento pedagógica para o universo infantil, que trabalha com a imaginação.”

Participação

Junto a mestres, ativistas e artistas, o evento contará com a participação da ministra da Cultura, Margareth Menezes, do neurocientista e biólogo Sidarta Ribeiro, do professor de história da Universidade Federalista do Recôncavo da Bahia Antonio Liberac, da pedagoga Mônica Beltrão, autora do livro A Capoeira enquanto construção da identidade e de uma instrução problematizadora, de Jorge Columá, responsável dos livros A Fábula do Berimbau e Lutas e Artes Marciais, além de representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Vernáculo (Iphan) e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).

O Rede Capoeira apresentará ainda shows tradicionais e homenageará os mestres João Grande, Acordeon, Boca Rica, Brandão, Felipe de Santo Amaro, Olavo, Pelé da Petardo, Brasília, Virgílio, Cafuné, Carcará, Curió, Rabino Celso e Sombra.

Fonte EBC

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