As cobras desempenham um papel crucial no estabilidade dos ecossistemas. Elas regulam a população de pequenos mamíferos e outros animais, enquanto também são presas indispensáveis na masmorra cevar de vários predadores. Outrossim, as cobras são dotadas de uma tecnologia proveniente impressionante: sua língua bifurcada, por exemplo, serve a múltiplas funções, uma vez que olfato, orientação e localização de presas, além da detecção de outras cobras. São independentes, locomovem-se rapidamente e trocam de pele para crescer de tamanho.
Esses animais sempre fascinaram diferentes culturas, sendo símbolos de divindades em várias mitologias. Lembro-me de quando, há dois anos, visitei a Cidade do México e explorei as pirâmides do Sol e da Lua, construções fabulosas dos povos mesoamericanos. As pirâmides foram erguidas em homenagem à serpente emplumada Quetzalcoatl, uma das divindades mais importantes das civilizações maia e asteca.
Na mitologia egípcia, Wadjet, a divindade serpente, era a protetora dos faraós. Na mitologia grega, as serpentes estão associadas ao deus da tratamento e medicina, Esculápio, e à figura de Medusa, na qual as cobras em sua cabeça simbolizam o poder feminino. A mito de Shahmaran contra sobre o ser mítico metade serpente e metade mulher, sendo representada em várias culturas do Oriente Médio, mas mormente na região da Anatólia, na Turquia. E uma vez que não lembrar do próprio folclore brasílico e suas histórias sobre boitatá, a serpente de incêndio que protege as florestas?
Mas, a tradição cristã ajudou a moldar a má reputação desse multíplice bicho, mormente com a narrativa de Gênesis, onde a serpente é retratada uma vez que símbolo de tentação e traição, por ter convicto Adão e Eva a comerem o fruto proibido e trazerem o vício para o mundo.
Essa má notabilidade é tão enraizada que as serpentes entraram em nosso vocabulário cotidiano com conotações negativas. Cresci ouvindo expressões uma vez que “fulano é uma serpente”, “sicrana é uma víbora”, “beltrana é uma jararaca”. Há qualquer tempo venho me esforçando para evitar essas expressões, reconhecendo o valor das cobras, mormente à luz de sua valimento simbólica em várias culturas.
Isso porque, no candomblé, a serpente é adorada e está associada a dois orixás que são irmãos: Oxumarê e Ewá. Nesta pilar, vamos nos concentrar em Ewá, uma nume ligada à pureza, ao mistério e à clarividência, o que conhecemos também por sexto sentido.
Muitas vezes descrita uma vez que uma caçadora qualidade, Ewá mantém uma relação íntima com os elementos da natureza, uma vez que o horizonte e mormente a névoa –símbolo de seu poder misterioso. A névoa oculta o visível e revela o oculto conforme a vontade de Ewá, reforçando seu domínio sobre o sigilo e a verdade.
Ewá é uma caçadora habilidosa, mestra no uso do círculo e da flecha. Ela também dá nome ao rio Yewá, que atravessa o Benin e a Nigéria e é morada de muitas cobras. Sua capacidade de “caçar” transcende o sentido literal e está ligada a ver além, uma vez que também em ser uma predadora silenciosa, indecifrável, tal qual a névoa. Tal qual a serpente.
Um dos domínios de Ewá é o cemitério, onde muitos segredos estão enterrados. Conta um dos itãs a seu saudação sobre o encontro com Xangô, o poderoso orixá do trovão e do incêndio. Xangô, espargido por seu temperamento imponente e sua sede por poder, estava determinado a conquistá-la, mas ela fugia de suas investidas uma vez que podia.
Um dia, ele estava a dançar em um dos territórios de Ewá, onde a neblina tomava conta de todo o sítio. Ela foi caçoar da forma uma vez que ele dançava para cortejá-la e perguntou se ele não notou onde estava a dançar. Xangô, todo pleno de si, disse que ele dançaria uma vez que quisesse e onde desejasse.
Ewá deixou muito evidente que ali ela era quem governava e saiu, levando consigo a névoa, ao que Xangô notou estar em um cemitério. Toda a virilidade e a audácia do rei se dissiparam ali, pois a única coisa a que ele tem aversão é à morte e o cemitério lhe apavora. Xangô, portanto, saiu dali correndo no mesmo momento, para gargalhada da senhora do oculto.
A pudícia de Ewá não se refere unicamente à relação sexual, mas abrange sua mente e sua capacidade de manter-se alheia às influências negativas. A pudícia Ewá diz menos sobre uma forma de inocência, virgindade e mais sobre seu foco místico em proteger o que é sagrado.
Muitas vezes não conseguimos entender onde estamos ou para onde estamos indo, uma vez que me senti ao ver o último resultado eleitoral. Uma névoa se formou para aqueles que ainda têm esperança em uma humanidade mais consciente e responsável nos tempos futuros. Nesses momentos, busco refúgio em Ewá e rogo pelas bênçãos de quem acompanha os povos de terreiro há séculos neste país.
Se eu não sei o caminho, confio que a senhora do oculto saberá. Portanto, certa de que estamos em uma longa marcha, acendo minha vela e sigo trabalhando. Riró, Ewá!
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