Existe Um Deus Para Quem Acredita Na Teoria Darwinista

Existe um Deus para quem acredita na teoria darwinista – 21/01/2024 – Luiz Felipe Pondé

Celebridades Cultura

Sabemos da estável contenda entre darwinistas e criacionistas —o pessoal da TDI, teoria do design inteligente. Nessa disputa, os segundos buscam provar que haveria um planejamento nas coisas que existem no universo, na natureza e em nós e, portanto, as coisas não seriam fruto de uma contingência cega cruel reinando sobre o mundo.

Já os darwinistas aceitam facilmente essa fanatismo e identificam nela uma zona em que a fanatismo —o relojoeiro cego do Dawkins— ordena as coisas a partir do que a série da Netflix “A Vida no Nosso Planeta” labareda de “regras da vida”.

Os capítulos se sucedem, mas uma narrativa percorre tudo —as tais “regras da vida”—, descrevendo o que os criacionistas não podem suportar: a violência e crueldades dessas regras, que consome todos os seres, inclusive filhotinhos indefesos.

Portanto, o que os criacionistas não podem admitir é a certeza a priori não só de que não exista um Deus, mas de que ele não seja bom e justo. O conforto da crença no que eles mesmos dizem quando afirmam “fomos planejados” não é no mero planejamento em si, mas que esse planejador, Deus, não faria o universo com intenções cruéis. Esse pormenor escapa muitas vezes do debate.

Quando um criacionista combate o darwinismo, ele o faz não só por conta da certeza de que exista um planejamento, mas sim de que esse planejamento seja em si moral, bom e honesto.

Podemos incumbir nas coisas e no mundo, se seguirmos as orientações morais e espirituais dadas por esse planejador via seus “representantes”. Mas as religiões nunca foram, na imensa maior segmento de sua história e pré-história, preocupadas com a certeza de que tudo que existe é para a realização de um propósito bom.

Essa teoria é novidade, e pode ter, sendo bonzinho, uns 3.000 anos. A religião grega, por exemplo, nunca teve essa aspiração com relação aos seus deuses —aliás, nenhum dos politeísmos, nem os africanos e seus descendentes, porquê o candomblé.

Hoje, com o marketing ético que atravessa tudo, ninguém vai revelar que sua religião, desde os seus primórdios, nunca teve compromissos com o que se costuma invocar, vagamente, de muito. As religiões nunca foram éticas na sua origem.

Os deuses sempre apreciaram o palato de sangue humano e bicho e sempre se divertiram com nossas

guerras, amores, vitórias efêmeras e fracassos definitivos. Mas, o darwinismo, sua violência e indiferença ao sofrimento dos seres vivos, podem conviver muito com uma forma peculiar de monoteísmo.

Portanto, a recusa dos criacionistas pelo darwinismo não é propriamente a resguardo da existência de um planejador, mas a recusa de que exista um planejador perverso. Planejador perverso oriente que convive muito com a ópera trágica da cosmologia darwinista. Enfim, qual seria essa teologia escondida na cosmologia darwinista?

Nos primeiros anos do cristianismo —para fazer uma longa história curta, porquê se diz em inglês—, existiu uma heresia escandalosa que acabou por ser conhecida porquê gnosticismo, apesar de existirem controversas acadêmicas sobre essa terminologia.

Esses evangelhos gnósticos achados no final dos anos 1940 nas cavernas egípcias de Nag Hammadí —publicados em inglês porquê “livraria de Nag Hammadí”— trazem um Cristo dissemelhante.

A questão precípuo não está tanto na figura desse Cristo gnóstico —um gnóstico era alguém que sabia, por revelação do Deus, o “agnostos théos”, ou Deus incógnito, o pai tristonho, o que vou expor a você agora — mas, sim, no traje de que o Deus fundador do universo é mal.

Para esses cristãos gnósticos, o drama místico era, ao ter sido despertado por esse Cristo que os avisaria que a geração é uma câmara de torturas, o que fazer a partir daí. Recusar sexo reprodutivo para não produzir mais vítimas, fugir para o deserto, se matar, o quê?

Esse tipo de suspeita terrível aparecerá em filósofos porquê Schopenhauer, no século 19, e Cioran, no século 20, entre outros. Todo ser vivo deve ser devorado para outro ser vivo continuar vivendo até ser ele mesmo devorado. Eis a teologia monoteísta que pregou o darwinismo. Puro Brás Cubas.


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Folha

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