Exposição de paulo pasta inaugura espaço da almeida & dale

Exposição de Paulo Pasta inaugura espaço da Almeida & Dale – 25/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Na rua Fradique Coutinho, zona oeste de São Paulo, uma porta se abre para uma sala com duas grandes fotografias em cada ponta —o espaço da galeria de um lado e o ateliê de Paulo Pasta de outro. A exposição do artista, “Viagem ao Volta do meu Quarto”, inaugura, neste sábado (26), o novo incluído da galeria Almeida & Dale, agora sob direção criativa de André Millan.

A mostra marca um retorno da parceria entre o artista e o galerista, que se estende por décadas, e ressurge agora num momento de revisão tanto da pintura quanto do próprio sistema de arte.

“O meio de arte está, a cada dia que passa, ocupando o espaço da arte. E é justamente contra isso que eu me coloco”, diz o diretor, distinguindo todo o ostentação que a muro. “Por isso que o Paulo está cá.”

Para Millan, o trabalho de Pasta exige tempo, atenção, silêncio —tudo aquilo que falta no giro atual. “É um trabalho que está na atmosfera, materializado no papel ou no tecido, mas que está cá, no meio. Quando ele pinta, ele está deslocando o ar”, diz. “O trabalho do Paulo tem essa coisa de ir, vir e de romper e desvanecer.”

Diante da sentimento de serenidade de seus trabalhos e em meio ao libido de incorporar o processo de construção de suas obras, o artista exibe um conjunto um que ilumina discussões sobre a pintura e a incorporação do ateliê em sua obra.

“Foi muito surpreendente perceber uma vez que o espaço da galeria se parecia com o meu ateliê”, afirma Pasta. “Isso detonou uma série de reflexões sobre uma vez que o lugar onde trabalho se infiltra nas minhas pinturas. A escada, as vigas, a arquitetura. Tudo isso entra no meu trabalho uma vez que sugestão, uma vez que espelhamento.”

Essa noção de espelhamento com o ateliê é médio para a exposição, composta majoritariamente por obras sobre papel –suporte que, para o artista, oferece uma resposta mais imediata ao gesto do pintor. “No papel, entre o pensamento e a ação, não tem pausa. Ele absorve, responde rápido. E essa velocidade faz com que o processo fique mais vivo, mais visível”, diz.

Ao contrário de seus conhecidos trabalhos com traços precisos e cores densas, as obras exibidas revelam um Paulo Pasta mais poroso, dando a ver o truncado, o erro —ou “pentimento”, uma vez que prefere expressar, evocando o termo técnico para camadas corrigidas de pintura. “Quis deixar essas marcas à mostra. A pinga que escorre, a fita que deixa seu traço, o gesto incerto.”

A exposição, com trabalhos iniciados logo posteriormente a mostra de Pasta no Instituto Iberê Camargo, em Porto Contente, no termo de 2023, traz ainda reflexões sobre a história da pintura. Pasta menciona artistas uma vez que Henri Matisse, Giorgio Morandi e Alberto Giacometti para sublinhar a prestígio do ateliê uma vez que repertório pitoresco.

“Giacometti dizia que há mais mistério num copo d’chuva sobre a mesa do que numa viagem à Índia. Eu também acho. O mistério está nas coisas próximas. O que está próximo, o que te circunscreve, aquilo que parece que é o circunstancial é também o infinito.”

Longe de transmigrar para a tridimensionalidade ou para o corpo, uma vez que fizeram Hélio Oiticica e Lygia Clark —cujos trabalhos admira—, Pasta reafirma sua devoção à superfície do quadro. “Não quero espacializar. Quero resolver o quadro. Eu adoro o quadro. E isso é infinito, porque a pintura rebate em você, transforma sua poética, sua sensibilidade.”

Para ele, a exposição é menos sobre o que se pinta e mais sobre uma vez que se pinta. “É no uma vez que que a liberdade acontece. É ali que me reconheço”, afirma.

André Millan vê na exposição uma asseveração dessa liberdade e um resgate do que labareda de foco na arte e não no mecanismo que a muro, formado por museus, galerias, marchands e colecionadores. “Por isso que no meu trabalho na galeria eu comprei essa combate, de tentar manter o foco na arte e não no meio de arte. Porque ele está ocupando o lugar da arte, que está cada vez mais comprimida. Quando você dá liberdade ao artista, isso reverbera no mercado”, afirma.

Pasta, por sua vez, traduz sua pintura uma vez que extensão vital. “Desde cedo, o que me fez lucrar identidade no mundo foi o trajo de eu querer ser pintor.” Para ele, a pintura é um treino de ampliação do mundo interno. E, ao terebrar a porta de seu ateliê para o público, convida o testemunha a terçar essa mesma cortinado —não para vê-lo, mas para ver-se através do gesto, da cor e do tempo suspenso sobre a tela.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *