“A Amazônia já era”. “Toque sua boiada para o maior pasto do mundo”. “Nós rasgamos o inferno virente.” Esse tipo de chamada, hoje, pode toar constrangedora. Mesmo entre aqueles que veem a espaço da Amazônia Permitido porquê uma Bastilha a ser derrubada, visando um desenvolvimento predatório da região.
Entretanto, essas eram as frases que, nos anos 1970, convidavam, em cartazes oficiais, os brasileiros de outras regiões rumo à última marcha para o Oeste e o Setentrião do país. O objetivo era convertê-lo numa novidade espaço de desenvolvimento agrícola e industrial.
Os cartazes abrem a mostra “Mupotyra: Arqueologia Amazônica”, em edital no Museu Brasílico da Estátua e Ecologia (MuBE), e vêm acompanhados por uma série de publicações, voltadas ao público adulto e infantil, que reforçam a teoria do “inferno virente” ou de um território intocado, pronto a ser desbravado —e posto inferior.
Entre as publicações, destacam-se aquelas elaboradas pela própria Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia, órgão do governo federalista, imbuído de transformar a região em pasto e concreto nos anos 1970.
Com esmerada qualidade gráfica, também observada nos cartazes, publicações porquê “Amazônia – Desenvolvimento e Ocupação” e “Amazônia – Novo Universo/ New Universe” vendem para brasileiros e estrangeiros a ideologia dominante. Ao lado, livros e estudos mais ou menos críticos que sintetizam a discussão da era. Esse material é inédito e pertence ao colecionador Ricardo Cardim.
A mostra, no entanto, trata logo no título de derrubar essa teoria do território virgem pronto a ser explorado. “Mupotyra” significa florescer em Nheengatu, língua universal da região amazônica. Por meio de artefatos de diferentes tempos históricos, incluindo criações contemporâneas, a exposição narra o florescimento da Amazônia não porquê uma obra da natureza, mas porquê fruto da ação humana em contato com nascente envolvente.
“É a arqueologia que conta essa história de 12 milénio anos”, conta Carla Gilbertoni, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, uma das curadoras da mostra. “Essa biodiversidade que hoje é tão valorizada e importante para a saúde do planeta se constituiu por meio da ação humana. Essa é uma narrativa relativamente novidade.”
De harmonia com a pesquisadora, por meio deste enfoque, a exposição procura desfazer duas visões ao mesmo tempo contraditórias e dominantes sobre a Amazônia. A primeira delas é a teoria do desenvolvimento predatório, que defende a derrubada da floresta para implementar o progresso —mesmo que predatório. A segunda, em reação à primeira, defende a preservação da floresta de todas as maneiras, inclusive da presença de outros povos que não os que habitam milenarmente a região.
“Durante milênios, esse estabilidade [ambiental] se deu a partir dessa presença humana”, afirma Gilbertoni, por meio da compreensão do território, a domesticação de determinadas espécies e o uso da terreno.
É evidente que segmento desse estabilidade foi devido também ao roupa de essa ocupação inicial ter ocorrido em outro período da história da humanidade e das Américas —marcado por um ritmo lento de desenvolvimento tecnológico, sem paralelo àquele que começa a vigorar a partir do século 19.
Isso não significa, porém, que não houve possante adensamento populacional e superior nível de sofisticação social e técnico, dentro das circunstâncias históricas delimitadas.
De harmonia com a curadora, isso está demarcado pela subida quantidade de material arqueológico, a variação de espécies locais e a constituição do atual solo, a chamada “terreno preta de índio”, consequência da ação dos povos que viveram ali.
Na mostra, podemos observar a constituição de artefatos que guardam paralelos com a chamada arte pré-colombiana, de povos com os incas, que ocupavam a região dos Andes.
“A gente tem um olhar para as esculturas pré-colombianas, uma certa valorização, a compreensão de uma complicação cultural muito maior do que temos em relação aos povos do outro lado dos Andes, que estariam num estado de evolução menor, porque não fizeram grandes produções porquê as pirâmides, não dominavam a metalurgia de materiais preciosos”, afirma Gilbertoni. “Esse conjunto de ausências criou esse olhar eurocêntrico de que eles são poucos evoluídos.”
Mas, porquê esclarece a curadora, esta é tão somente uma visão localizada. Tão real quanto o “vazio” da floresta na visão dos militares.
Entre os objetos mais antigos, que comprovam o nível de desenvolvimento social e técnico dessas populações, estão as urnas funerárias.
Trata-se de grandes vasos com formato de rostos humanos, presentes em diferentes culturas que ocuparam inicialmente a região. Na mostra, vemos aquelas desenvolvidas pelo povo Marajoara, que ocupou a Ilhéu de Marajó por milénio anos, entre 400 e 1400 D.C.
“As urnas têm uma constituição de corpo, um corpo que está recebendo outros corpos, possuem uma constituição de iconografia muito reforçada, que tem a ver com a identidade milénio anos.”
Segundo a curadora, é precisamente o nível de desenvolvimento técnico para realizar o molde que garante a preservação desses objetos, incluindo sua possibilidade de restauro.
A exposição traz também aspectos pouco conhecidos de povos que vivem ainda hoje na região. É o caso das máscaras criadas pela população Ticuna. Com mais de 57 milénio pessoas organizadas em 60 aldeias, sem racontar aqueles que vivem no Peru e na Colômbia, esta é a população indígena mais numerosa da Amazônia Permitido. “Essas máscaras têm um papel social, o de proteger as meninas da puberdade”, afirma.
A mostra traz elementos de todos os povos que ainda vivem na Amazônia, acompanhados de sua história, dados demográficos, língua e principais artefatos. Cabe destaque, a esse saudação, as informações trazidas sobre os Wajãpi, que vivem numa região delimitada pelos rios Oiapoque, Juri e Araguari. Organizado em 13 aldeias, nascente é o único povo indígena da região a falar uma língua proveniente do tronco tupi-guarani.