Exposição No Museu Do Ipiranga Reflete Sobre Emergência Climática

Exposição no Museu do Ipiranga reflete sobre emergência climática

Brasil

Novidade exposição no Museu do Ipiranga, localizado na capital paulista, aborda emergência climática e dá visibilidade ao processo de degradação ambiental e social ao longo do desenvolvimento do Brasil. A mostra Onde há fumaça: arte e emergência climática, que será ocasião nesta terça-feira (5), propõe diálogo entre peças do montão e obras contemporâneas, questionando o protótipo de progresso do país.

Segundo o curador Vítor Lagoeiro, a exposição se propõe a olhar para o montão do museu e entender uma vez que aquelas imagens já dão alguns indícios de uma vez que o país chegou ao cenário atual. “Muito do que a gente tem ali no museu são imagens que celebram uma forma de ocupação do território que foi muito pautada pelo latifúndio, trabalho servo e pela monocultura. Estes são três pilares que contribuem para inaugurar a degradação ambiental que acontece no Brasil há tantos séculos”, disse à Filial Brasil.


São Paulo (SP), 04/11/2024 -  A exposição “Onde há fumaça: arte e emergência climática”, o Museu do Ipiranga questiona a ideia de progresso ainda predominante, que gera a situação atual de emergência climática. . Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
São Paulo (SP), 04/11/2024 -  A exposição “Onde há fumaça: arte e emergência climática”, o Museu do Ipiranga questiona a ideia de progresso ainda predominante, que gera a situação atual de emergência climática. . Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Obras do montão do Museu do Ipiranga revelam caminho que levou à devastação no país – Paulo Pinto/Filial Brasil

Lagoeiro ressalta que o nome da exposição foi uma coincidência em relação às queimadas que atingiram o país neste ano. Na verdade, a origem do título remonta às situações retratadas nas antigas obras que já apontavam para um desfecho negativo. “O sege de boi puxando os troncos derrubados da floresta [na obra de Pedro Américo] já é um sinal de uma devastação. Levante é um exemplo muito bom do que foi o nosso treino curatorial”, afirmou.

“São imagens muito romantizadas e, a princípio, inofensivas, mas, quando a gente começa a adentrar as imagens deste montão, identifica troncos derrubados, fumaça, latifúndios. A gente começa a entender um pouco as estruturas e os gestos de devastação que estão ali representados”, afirmou.

No início do século 20, quando as imagens do museu foram produzidas, havia excitação com aquele protótipo de progresso, destacou a patrão da Ramificação de Pilha e Curadoria do Museu do Ipiranga, Aline Montenegro Magalhães. “As imagens romantizam muito tal tipo de produção uma vez que uma lanço inescapável desse progresso. E as obras contemporâneas vêm dar uma resposta: olha onde a gente chegou com essas escolhas de desenvolvimento.”

Pinturas e fotografias de artistas que estão no montão, uma vez que Benedito Calixto e Henrique Manzo, dialogam com trabalhos de Alice Lara, André Vargas, Bruno Novelli, Davi de Jesus do Promanação, Anderson Kary Bayá, Jaime Lauriano, Luana Vitra, Mabe Bethônico, Roberta Roble, (Se)trato Humana, Uýra Sodoma e Xadalu Tupã Jekupé. A curadoria é do Micrópolis, grupo formado pelos arquitetos e pesquisadores Felipe Carnevalli e Marcela Rosenburg, além de Vítor Lagoeiro, junto à equipe do museu.

Independência e Morte

Uma releitura de Independência ou Morte (1888), de Pedro Américo, obra mais popular do Museu do Ipiranga e presente em livros didáticos, abre a exposição, já apresentando os temas que guiaram a curadoria. Intitulada Independência e Morte (2022), a obra de Jaime Lauriano substitui os símbolos e gestos de heroísmo patriótico por efeitos das tragédias ambientais decorrentes do rompimento recente de barragens de mineração no país, além de usar frases que remetem aos problemas ambientais.

“A vasa intoxicada do rompimento das barragens que varre aquela paisagem tem algumas menções que foram muito difundidas no campo político recente na história do Brasil, uma vez que ‘passa boi, passa boiada’. E também traz alguns elementos que mostram tensionamentos de luta, de movimentos sociais. É uma vez que se fosse aquela paisagem alguns anos depois, no que aquele projeto de país resultou”, detalhou Vítor Lagoeiro.

De convénio com o curador, a exposição é bastante diversa em termos de linguagem, com pinturas, fotografias, obras em vídeo, instalações, esculturas, além de arquivos e documentos. “Há também alguns grupos de pesquisadores, ativistas e coletivos [na exposição] que atuam de outra forma, não através da arte. Tem alguns objetos que representam um pouco dessas práticas, uma vez que os meliponários dos Guarani cá em São Paulo, que são estratégias de restaurar a presença das abelhas no território”, acrescentou.

Ampliação do debate

Para Lagoeiro, essa particularidade propicia a ampliação do debate sobre os assuntos tratados na mostra. O público terá entrada a trabalhos dos pesquisadores Ed Hawkins, observador britânico do clima, pai das espirais climáticas e riscas de aquecimento, e Eduardo Góes Neves, arqueólogo brasílio atuante na Amazônia; e dos ativistas, projetos e movimentos sociais Assentamento Terreno Vista, Márcio Verá Mirim, Redes da Maré e Hãmhi Terreno Viva.

Aline Magalhães ressalta que a narrativa do museu é celebrativa e remete aos primeiros anos de funcionamento da unidade, com uma versão hegemônica dos acontecimentos. “Os contrapontos colocados nessa exposição trazem outras vozes e outras histórias, de comunidades quilombolas e indígenas, outras formas de entender e de ocupar o território. Quando se gente coloca o montão histórico do museu com obras contemporâneas, a gente fortalece a linguagem do contraponto, ampliando as formas de racontar a história e também o olhar crítico sobre essa história.”

Ela lembra que Independência e Morte, de Lauriano, é um quadro produzido no contexto das comemorações do Bicentenário da Independência, justamente quando o quadro de Pedro Américo estava em mais evidência. “A releitura nos traz um olhar bastante preocupante e preocupado com oriente país que completa 200 anos de independência em uma situação de morte. Ele troca ‘ou’ por ‘e’ para criticar as escolhas que, em 200 anos, estão mais contribuindo para uma situação de morte e devastação do que para uma independência.”

Estrutura da mostra


São Paulo (SP), 04/11/2024 -  A exposição “Onde há fumaça: arte e emergência climática”, o Museu do Ipiranga questiona a ideia de progresso ainda predominante, que gera a situação atual de emergência climática. . Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
São Paulo (SP), 04/11/2024 -  A exposição “Onde há fumaça: arte e emergência climática”, o Museu do Ipiranga questiona a ideia de progresso ainda predominante, que gera a situação atual de emergência climática. . Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Na mostra, peças do montão do museu fazem contraponto a obras contemporâneas – Paulo Pinto/Filial Brasil

A exposição está dividida em cinco núcleos: Monocultura, que mostra uma vez que a prática moldou o território brasílio e a relação direta com a escravidão; Pavimentação, que aborda a urbanização do território paulista até a persistência das vidas que resistem nesse contexto; Transbordamentos faz referência a tentativas históricas de controle dos cursos d’chuva e suas consequências; Domesticação evidencia a extinção de espécies uma vez que um sintoma da emergência climática e Força geológica trata do impacto humano na transformação geológica da terreno, em que as obras registram atividades uma vez que mineração e desmatamento e os desastres ambientais gerados por elas.

O núcleo Força geológica apresenta também práticas de incentivo à biodiversidade e ao manejo sustentável do solo.

Com ingresso gratuita, a exposição temporária Onde há fumaça: arte e emergência climática fica em edital até 28 de fevereiro do próximo ano. O Museu do Ipiranga está localizado na Rua dos Patriotas, 100.

Fonte EBC

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