Exposição Revisita Obras De Bauer Sá E Gilberto Filho

Exposição revisita obras de Bauer Sá e Gilberto Filho – 28/12/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

O olhar de quem se deixa fotografar por Bauer Sá é tão subtil que parece galgar o testemunha. O branco dos olhos contrasta de uma só vez com a trevas que domina o cenário e com a negritude das peles.

“Eu exijo muito das pessoas que fotografo. Uma dessas exigências é o olhar, ele tem de ser preciso, porquê uma lâmina ou um punhal”, diz o artista, que tem secção de sua produção exposta na mostra “Bahia Afrofuturista”, em edital na galeria Galatea, nos Jardins, na capital paulista.

Além de 30 fotografias assinadas por Bauer, a exposição traz trabalhos de Gilberto Rebento, estatuário baiano que verteu a arquitetura urbana em 11 esculturas de madeira.

Os artistas têm poéticas diferentes, mas compartilham uma história de vida parecida. Ambos deram os primeiros passos na arte por influência da família. O pai de Gilberto era possessor de uma marcenaria. Já o de Bauer era proprietário de um laboratório de retrato, onde atuou porquê assistente durante dez anos.

Nesse período, o fotógrafo mergulhou no fazer artístico paterno, marcado pela ênfase em corpos negros —particularidade também presente no trabalho de Bauer. Ao ver as imagens, surpreende o modo porquê o artista tomada seus modelos. Em um fundo escuro, eles aparecem em um cenário escravizado pelo preto e branco.

Nas mãos de um fotógrafo menos habilidoso, a pele dos retratados poderia se misturar ao pintura, fazendo com que desaparecessem. Mas as imagens não são exclusivamente nítidas, mas destacam um jogo harmonioso entre luz e sombra. Exemplo é “Olhos de Xangô”, que mostra um varão segurando o machado do orixá que batiza a obra, na fundura do rosto, enquanto evidencia o perímetro de seus braços.

A imagem remete a Caravaggio, rabi barroco célebre pelos contrastes entre luz e sombra.

“Eu tive que trabalhar muito para chegar nesse resultado”, diz Bauer. “Fiz um revelador próprio para conseguir fotografar o preto no fundo preto. Em Frankfurt, fui a um laboratório em que consegui uma substância que não existia no Brasil para poder fazer as fotos.”

Esse perfeição estético valeu ao fotógrafo reconhecimento vernáculo e internacional. Ele já teve trabalhos expostos em instituições porquê Masp, Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Moderna da Bahia e do Rio de Janeiro. Participou também de sinais em países porquê Inglaterra, Moçambique e Estados Unidos.

Além da valorização de corpos negros, suas obras se destacam pela anfibologia. É o caso de “White Shoe”, em que o fotografado leva sobre a cabeça um sapato branquíssimo.

Por um lado, o trabalho pode ser lido porquê uma referência a Zé Pilintra, entidade da umbanda conhecida por trajar ternos e sapatos impecavelmente brancos. Por outro, parece fazer ode à liberdade. Durante o regime escravagista, andejar descalço pelas ruas era sinal de que a pessoa estava sob o opressão da escravidão.

“Não é uma imagem que entrega tudo”, diz Tomás Toledo, sócio da galeria Galatea e curador da mostra. “A tradução acontece quando o público olha e pensa aquela imagem a partir de seus próprios pontos de vista e de suas experiências imagéticas. A retrato entrega uma parcela, que é complementada a partir da percepção do testemunha.”

Outra obra ensejo a diferentes interpretações é a retrato “Laroyê Esfera 7”, em que um idoso segura um haste de madeira em formato fálico. Toledo diz que a peça é um ponto de conexão com as esculturas de Gilberto Rebento, que se erguem para o cimalha tal porquê um falo.

Os objetos, que podem chegar a 2,5 metros de fundura, lembram edifícios futuristas de grandes cidades. No entanto, no lugar do metal e das superfícies espelhadas, o que se vê é o soberania da madeira, retirada de árvores porquê pau d’círculo, sucupira e angelim. Quem olha as obras tem a sensação de que o artista condensou em uma mesma estrutura o arcaico e o moderno.

O uso da madeira acontece porque Gilberto nasceu em Cascata, no recôncavo baiano. A região é conhecida por ser um celeiro de escultores que trabalham com esse material, porquê Celestino Gama da Silva, mais divulgado porquê Louco. Apesar disso, a produção de Gilberto se diferencia do trabalho de seus conterrâneos em razão do vista urbano e futurista.

“Eu sempre gostei do moderno. Mas comecei primeiro fazendo prédios antigos e igrejas. Depois, fui evoluindo na prática”, diz o artista, acrescentando que os arranha-céus de madeira são fruto de sua imaginação, e não da reprodução daquilo que já existe. “Levei dez anos aprendendo a fazer o que palato e treinando a minha mente para chegar a esse nível.”

Folha

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