Quando esteve em Balneário Camboriú (SC) para participar de um congresso conservador em julho, em sua primeira visitante ao Brasil porquê presidente da Argentina, Javier Milei, 54, foi flagrado aos berros e com gestos animados cantando “(I Can’t Get No) Satisfaction”.
Milei, que completa um ano no poder nesta terça-feira (10), tem uma paixão pelos Rolling Stones que vem da mocidade. Segundo o jornalista Juan Luis González —responsável de “El Loco”, biografia de Milei sem previsão de edição em português—, o garoto introvertido que sofria bullying perdia a timidez ao imitar Mick Jagger nos intervalos das aulas de um escola católico em Villa Fanático, subúrbio de Buenos Aires onde cresceu.
“Milei teve uma puerícia complexa, era solitário. Esse era o único momento de conexão com o resto da turma. Esses episódios marcaram tanto seus colegas que, 40 anos depois, ainda se lembram dele dançando com a robustez de uma estrela do rock”, diz o biógrafo.
Em seu quarto, Milei mantinha pôsteres de Jagger e sonhava ser um planeta. Nessa estação, quando tinha por volta de 13 anos, atuou porquê goleiro na categoria de base do Chacaritas Juniors, onde ganhou o sobrenome de “El Loco”, em razão de sua agressividade em campo. Mas seu negócio mesmo era a música.
O fanatismo pelos Stones era tanto que em 1988 ele montou sua própria versão dos ídolos, a margem Everest, quinteto estilizado de covers dos britânicos. Dentre os clássicos mais entoados pelos ex-alunos do Escola Cardenal Copello estavam “Brown Sugar” e “Jumpin’ Jack Flash”.
Milei também compôs músicas em espanhol porquê “Ventilador de Mierda”, claramente inspirada em “Ventilator Blues”, do álbum “Exile on Main St.” (1972), e “Ninfómana” (ninfomaníaca), dedicada a uma companheira de escola. Eram canções um tanto vulgares, com conotação sexual gratuita.
O jovem roqueiro tinha um estilo de se vestir inspirado nos Stones: calça clara, camisa regata, jaqueta jeans e lenço vermelho atado no pescoço, além do cabelo à tendência Jagger.
O projeto músico, porém, teve vida curta. A margem Everest realizou alguns ensaios e fez unicamente duas apresentações ao vivo, uma delas em um bar no bairro de Palermo, espaço sublime de Buenos Aires.
Na plateia havia uma fã cativa, Karina, mana caçula que hoje tem grande influência em seu governo e se tornou sua única parente mais próxima —Milei se distanciou dos pais e chegou a declarar que sofreu com violência psicológica e surras dadas pelo pai. Em entrevistas, acusou a mãe de ser cúmplice dos abusos. Desde que ele chegou à Presidência, não se tem conhecimento de alguma revelação pública de seus genitores acerca da relação familiar.
A falta de habilidade para trovar de Milei —ele desafinava e não conseguia seguir o ritmo dos outros músicos, segundo González— selou o término da Everest posteriormente muro de três meses.
O porvir presidente também imitou Jagger ao escolher sua profissão: economista. Enquanto o prateado concluiu seu curso na Universidade de Belgrano, o britânico cursou a prestigiada London School of Economics, mas abandonou as aulas para se destinar integralmente à música.
A curso músico não decolou, mas o espírito roqueiro continuou a influenciar Milei na política, o que atraiu jovens eleitores, na visão de González. “Javier Milei não é um personagem criado para o cenário político. Sua paixão pelo rock e sua atitude irreverente são genuínas.”
Quando ainda era candidato à Presidência pelo partido A Liberdade Avança, com o slogan “Viva la liberdad, carajo”, ele já demonstrava um jeito ofensivo de mourejar com críticas. Menosprezou uma cantora conhecida do país porque a artista se posicionou contra ele. Ao ser questionado sobre ela na TV, respondeu: “Não sei quem é Lali Espósito. Eu escuto os Rolling Stones”.
Ao vencer a eleição, Milei recebeu um telefonema do ex-primeiro ministro britânico David Cameron para felicitá-lo, segundo a prelo argentina. Durante a conversa de poucos minutos, as ilhas Malvinas (Falklands, para os ingleses), tema de atrito histórico entre os dois países, foram ignoradas. O logo presidente eleito aproveitou a oportunidade e falou do seu fanatismo pelos Stones, ao que Cameron respondeu saber Mick Jagger pessoalmente e que poderia apresentá-los.
Em outubro, ele recebeu na Mansão Rosada outro ex-premiê britânico, Boris Johnson. Ganhou a promessa de ser apresentado a Jagger. Não se sabe se já se encontrou com o líder da margem ou qualquer integrante. Milei afirmou ter ido a 14 shows dos britânicos —um número até insignificante para o padrão dos argentinos, que são os maiores fãs do grupo no mundo, nas palavras do próprio Jagger.
A Folha procurou a Mansão Rosada para Milei falar sobre sua relação com os Stones, mas não houve resposta.