'faça O Público Gritar': O Segredo Do Sucesso De Hitchcock

‘Faça o público gritar’: o segredo do sucesso de Hitchcock – 18/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Acredito em colocar o terror na mente do público, e não necessariamente na tela”, disse o diretor de cinema Alfred Hitchcock à BBC em 1964, quando perguntado sobre uma vez que aperfeiçoou a incrível habilidade de manter o público apreensivo no cinema.

O cineasta, que faria 125 anos nesta semana, explicava que sua destreza em erigir e manter o suspense cinematográfico estava enraizada na sua compreensão intuitiva da psicologia humana.

Hitchcock já havia, a essa fundura, revolucionado o gênero de suspense com uma série de filmes clássicos que mexiam com a psique do público, uma vez que ‘Um Corpo que Cai’, ‘Psicose’ e ‘Pacto Sinistro’.

Um rabino na arte de aumentar lentamente a tensão na tela, ele acreditava que o sigilo para o suspense não era somente pupular os espectadores, mas manipular sutilmente sua percepção e emoções.

Nas cenas dos seus filmes, ele construía pouco a pouco uma escalada crescente de ameaço, prolongando a expectativa do público de que alguma coisa terrível pudesse ocorrer a qualquer momento.

Até que, quando finalmente acontece, os espectadores são inundados por uma imensa sensação de consolação.

Em uma sequência assustadora de ‘Os Pássaros’, de 1963, em que as criaturas começam de repente a realizar ataques violentos bizarros e inexplicáveis contra as pessoas, Hitchcock demonstrou esta arte.

Na cena, Melanie, interpretada pela atriz Tippi Hedren, aparece fumando em um parquinho ao som de crianças cantando. A câmera oscila continuamente entre Melanie e o número cada vez maior de corvos pousando em um brinquedo do parquinho detrás dela.

Cada tomada de Melanie é um enquadramento mais próximo do seu rosto, aumentando a percepção do público sobre sua ingenuidade em relação ao transe crescente que o quadrilha de pássaros representa para ela.

Hitchcock se comparou a um operador de montanha-russa: sabendo até onde levar seu público para emocioná-lo, mas não tão longe a ponto de tornar repugnante. “Eu sou, em alguns aspectos, o varão que diz, na hora da construção, ‘quão íngreme podemos fazer a primeira descida?’, e ‘isso vai fazer eles gritarem'”, explicou.

“Se você fizer uma queda profunda demais, os gritos vão continuar conforme o vagão inteiro vai para o precipício, e isso destrói todo mundo. Por isso, você não pode ir muito longe, porque você quer que eles saiam da montanha-russa rindo de prazer, uma vez que a mulher que sai do filme, um filme muito sentimental, e diz, ‘nossa, chorei muito’.”

O diretor chamou esta sensação de “a satisfação da dor temporária”. As pessoas vão “suportar as agonias de um filme de suspense” desde que você dê a elas alguma forma de liberação catártica da tensão.

Ele aprendeu o preço de ir longe demais quando fez seu suspense de espionagem de 1936, ‘O Marido Era o Culpado’.

O filme conta a história de uma mulher que aos poucos descobre que o marido está planejando um ataque terrorista. Quando lançada, a obra foi recebida com uma resposta morna do público e da sátira.

Hitchcock colocou a culpa em uma cena específica do filme. Nela, a tensão aumenta continuamente à medida que um garoto viaja por Londres para entregar um pacote, sem saber que ele está realmente carregando uma bomba-relógio.

O público já viu a explosivo, aumentando sua expectativa de um sinistro iminente.

A sequência oscila logo entre cenas do garoto, do pacote da explosivo e de vários relógios pelos quais ele passa, mostrando que o tempo está se esgotando.

“A hora está passando, a hora da explosivo explodir em tal e tal ocasião, e eu desenhei essa coisa, atenuei todo o negócio”, disse Hitchcock à BBC.

“Logo alguém deveria ter dito ‘meu Deus, tem uma explosivo’, pegado e jogado pela janela. Bum! Todo mundo fica aliviado. Só que eu cometi um erro, deixei a explosivo explodir e matar alguém. Uma técnica ruim. Nunca repeti isso.”

Ação sem palavras

Hitchcock sabia que, para o suspense funcionar, ele precisava estar enraizado na antecipação do transe pelo público.

Logo, os espectadores precisavam estar cientes de coisas que eram desconhecidas para os personagens do filme. Desta forma, eles poderiam desvendar com antecedência o que poderia ocorrer, e se preocupar com o resultado.

O diretor planejava meticulosamente suas cenas para oferecer esses fatos necessários ao testemunha, permitindo que situações de suspense fossem criadas.

Em seu clássico de 1959, ‘Intriga Internacional’, na famosa cena em que Roger Thornhill, interpretado pelo ator Cary Grant, é aterrorizado por um piloto de pulverização agrícola, as tomadas de projecto lhano passam um tempo mostrando o quão plana e descampada é a paisagem.

Logo, quando Grant é atacado pelo avião, e seu provável sicário começa a atirar, o público já sabe que não há um lugar para ele se proteger.

Às vezes, Hitchcock dava zoom em pequenos detalhes reveladores, forçando o testemunha a vê-los.

Em uma cena crucial de ‘Janela Indiscreta’, de 1954, a câmera dá um zoom para mostrar as mãos de Lisa Fremont, interpretada por Grace Kelly, sinalizando para LB Jeffries, interpretado por James Stewart, que está assistindo do prédio da frente, sua invenção do aro da Sra. Thorwald, que foi assassinada.

A câmera sai de uma panorâmica para se aproximar do rosto do marido sicário Lars Thorwald, interpretado por Raymond Burr, que percebe que Lisa está sinalizando.

Ele logo levanta a cabeça para ver para quem ela está sinalizando, e de repente se dá conta de que Jeffries está observando.

Sem nenhum diálogo, o público agora sabe que Lisa e Jeffries estão em transe.

Embora Hitchcock fosse extremamente hábil em usar o som ou o silêncio para intensificar o impacto cinematográfico, uma vez que os violinos estridentes icônicos de Bernard Herrmann em ‘Psicose’, de 1960, ele se considerava principalmente um contador visual de histórias.

Ele começou sua curso dirigindo filmes mudos na dezena de 1920 e aprendeu a ultrapassar os limites do que a câmera normalmente poderia fazer.

Ele experimentava continuamente movimentos de câmera ousados e edições inovadoras para transmitir detalhes essenciais da trama, motivações dos personagens ou seu estado emocional.

Muitas vezes, ele usava tomadas de projecto subjetivo (que mostram a perspectiva de um personagem) para envolver intimamente o público na história, levando-os a ter empatia com a situação do personagem principal.

Podemos ver isso em seu suspense de 1958 sobre preocupação, ‘Um Corpo que Cai’.

Nele, ele usou o agora famoso zoom dolly —uma técnica desconcertante em que a câmera se aproxima, enquanto é simultaneamente afastada —para permitir que os espectadores vivenciem a sensação de temor, choque e desorientação ao mesmo tempo em que seu protagonista é tomado pela vertigem, ajudando a produzir essa conexão emocional.

Em ‘Janela Indiscreta’, o público assiste a grande segmento do filme do ponto de vista de Stewart, em uma cadeira de rodas, enquanto ele espia seus vizinhos.

Os espectadores veem os eventos se desenrolarem pelos olhos de Stewart, descobrindo pistas sobre o assassínio da vizinha ao mesmo tempo que ele, aumentando assim a tensão voyeurística inquietante do filme.

Jogos mentais

Fazer com que seu público tivesse esse envolvimento emocional foi importante para Hitchcock conseguir manipular uma vez que os espectadores se sentiam. Ele pensava que isso era muito mais importante do que a temática do filme.

Foi Hitchcock quem popularizou o termo “MacGuffin”, um recurso narrativo que impulsiona a trama e a motivação dos personagens sem significado intrínseco.

“Não me importo com o teor”, disse ele ao apresentador Huw Wheldon, da BBC. “O filme pode ser sobre qualquer coisa, desde que eu faça o público reagir de uma certa maneira a tudo o que eu coloco na tela. Se você principiar a se preocupar com os detalhes sobre o que são os papéis que os espiões estão tentando roubar, isso é um monte de bobagem. Não posso me preocupar com o que são os papéis que os espiões estão detrás.”

E Hitchcock sabia que não era necessário mostrar tudo ao público para provocar esse tipo de sentimento intenso e que aquilo que o público imagina é com frequência mais terrífico do que realmente vê.

Em ‘Psicose’, há uma cena famosa que revela sua maestria na formação e edição para extrair o sumo de reação emocional dos espectadores.

Porquê disse o jornalista Tom Brook, do programaTalking Movies’, da BBC, em 2020: “Nenhuma descrição verbal de ‘Psicose’ pode transmitir seu verdadeiro impacto visceral”.

Na sequência, a personagem Marion Crane, interpretada pela atriz Janet Leigh, é esfaqueada no chuveiro. A cena é apresentada com uma montagem rápida, que oscila entre imagens do invasor com a faca em movimento, justapostas com aproximações de seu rosto aterrorizado, acompanhada por uma trilha sonora dissonante e estridente.

O ritmo intenso da edição, impecavelmente sincronizado com os sons estridentes, gera uma sensação profunda de violência, vulnerabilidade e pânico no testemunha, sem realmente mostrar imagens explícitas de sangue ou da faca entrando na vítima.

“Eu fiz isso deliberadamente muito bruto”, disse Hitchcock.

“Mas conforme o filme se desenvolvia, eu colocava cada vez menos horror físico nele, porque eu estava deixando isso na mente do público. Conforme o filme avançava, havia cada vez menos violência; mas a tensão, na mente do testemunha, aumentava consideravelmente. Eu estava transferindo isso do filme para suas mentes.”

“Logo, perto do final, não tinha violência nenhuma. Mas o público a essa fundura estava gritando de agonia. Ainda muito!

Oriente texto foi originalmente publicado na BBC News Brasil

Folha

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