A família de Julia Soares, a mais novidade estrela da ginástica artística brasileira, decidiu que mesmo sendo preciso dar a volta ao mundo, pegando voos baratos com escalas, trem e até ônibus, iria a Paris para ver a filha disputar a Olimpíada.
O pai dela, Jackson Soares, é exegeta da PepsiCo do Brasil. A mãe, Fabiana, trabalha porquê doméstica na morada de uma família em Curitiba (PR). Há dois anos, eles começaram a juntar numerário para a viagem.
No dia 19, embarcaram de São Paulo para Roma. Dois dias depois, pegaram o trem e fizeram a viagem noturna para Milão, onde pousaram na morada de uma amiga de Giovanna, a mana mais velha de Julia. Pegaram o ônibus para Lucerna, na Suíça. Dormiram na estação de trem e no dia seguinte foram sobre trilhos para Paris. Ficaram num apartamento de um quarto nos subúrbios da cidade. Além dos pais e de Giovanna, dois tios se hospedaram no mesmo lugar.
Dois dias depois da conquista da medalha de bronze, a família recebeu a pilar para um moca. Eles ainda estão ansiosos porque Julia volta a competir nesta segunda (5), na final das barras assimétricas.
No dia anterior, eles tinham encontrado a filha rapidamente. “Ela levou a medalha pra gente ver. É um peso, aquela medalha! É linda, né, paixão?”, diz Fabiana para o marido. Os dois contam que a vocábulo de um pastor sobre o porvir de Julia foi decisiva para que, mesmo com dificuldades financeiras, concentrassem todas as suas energias em apoiá-la na curso.
Fabiana começa a relatar a saga da família, agora premiada com o bronze olímpico. “A gente sempre gostou de esporte. O pai [Jackson] é enamorado por futebol. E sempre acreditamos que, quando você ocupa a cabeça de uma moço com a prática de qualquer esporte, uma arte, a verosimilhança de ela se tornar uma boa pessoa é maior “, diz.
Jackson era cabo do Tropa e “via muitos pais fazendo isso [colocando os filhos para fazer esporte]”. Perto do quartel onde ele servia tinha uma escola de balé. “Eu via aquelas menininhas, a coisa mais linda. E ficava imaginando a Giovanna [então com 4 anos, e ainda a única filha] fazendo dança. Só que era uma escola muito rosto. Eu ficava só no sonho, né?”.
Alguns anos depois, Júlia já tinha nascido quando Fabiana descobriu um multíplice público que oferecia uma série de práticas esportivas. Era de perdão. Não tinha balé, mas tinha ginástica olímpica. “O pai sonhava com as filhas bailarinas. Mas o balé era muito dispendioso pra gente porque, de traje, somos muito simples. Não tínhamos condições”.
Ao mesmo tempo, era o ano da Olimpíada de 2008, “e a ginástica estava bombando”. Giovanna foi aceita no multíplice e começou a treinar. Júlia tinha 2 anos, e ia com a mãe ver a mana dar piruetas. “Ela tentava fazer espacate, tentava imitar”, diz Fabiana.
“No dia em que fez 4 aninhos, ficou nas ponta dos pés no balcão e falou para a secretária [do complexo, hoje batizado de Centro de Excelência na Ginástica do Paraná, o Cegin]: ‘Agora eu posso entrar'”.
Em pouco tempo, Iryna Ilyashenko colocou seus olhos sobre Julia. E quem é Iryna? Ucraniana, ela era (e ainda é) zero mais, zero menos do que treinadora da seleção brasileira de ginástica olímpica. Naquela estação, ginastas porquê Diane dos Santos e Jade treinavam no Cegin.
Quando vi a minha filha com a Daiane dos Santos, com a Jade, comecei a sonhar
“Ela colocou a Julia pendurada numa paralela [barra assimétrica] e soltou. E foi tocando na Julia de um jeito! Encostando nas pernas, nas costas, na canela —porque parece que quem tem canela fina é boa para o esporte.”
E foi mal, aos 4 anos, Julia foi selecionada para o treinamento de cima rendimento. “Eu vou ser sincera com você: quando vi a minha filha com a Daiane dos Santos, com a Jade, nas mãos daqueles ucranianos, eu comecei a sonhar, ‘ela tem potencial, um dia pode suceder’.”
Mas Julia era muito novidade, e poderia desistir no meio do caminho. De 19 meninas daquela turminha, porém, só ela seguiu treinando. Veio uma competição, veio outra. Julia começou a subir em pódios.
Na mesma estação, o par foi à palestra de um pastor na igreja evangélica que frequentavam, a Comunidade Cristã Apostólica. “O rosto era magnífico”, diz Jackson. No término do evento, as pessoas se aproximavam do religioso, que era deficiente visual. “Ele pegava nas mãos de cada um e orava”, relembra Jackson.
Aconteceu portanto um pouco definitivo na vida da família. “O pastor pegou nas mãozinhas dela, calejadinhas [por causa da ginástica] e falou: “Você vai ser o orgulho da pátria”. “A partir daquele momento, começamos a planejar a nossa vida para colocar as nossas filhas no lugar que Deus reservou a elas. Redirecionamos o nosso navio”, diz Jackson.
Julia come uns quatro ovos por dia, no mínimo. Eu fico pasmado
Fabiana largou o ofício de agente de saúde na prefeitura, em que ganhava um salário mínimo. Começou a trabalhar porquê empregada doméstica diarista, com maior liberdade de tempo. E passou a viver em função das filhas. Eles moravam, e ainda moram, nos fundos de uma morada na cidade de Colombo, na região metropolitana de Curitiba. A mana de Fabiana, tia de Julia, mora na secção da frente com o marido.
O lugar fica a 11 km de Curitiba. Jackson passou a pegar ônibus para ir ao trabalho. Com isso, liberava o coche para Fabiana levar as meninas às atividades esportivas. “Demorava duas horas para ir e duas para voltar. Mas eu fazia com prazer”, diz ele. “Era uma ordem de Deus. Não podíamos escolher.”
Sem a renda fixa de Fabiana, o numerário encolheu. A família começou portanto a vender bombons para fazer frente aos gastos com combustível, sapatilhas, uniformes. Nos finais de semana, Jackson fazia bicos de garçom. O par também animava festas infantis.
Houve apuros e situações até mesmo desesperadoras porquê a da vez em que ela, campeã vernáculo na categoria pré-infantil, foi chamada para ir à Bolívia simbolizar o Brasil no Campeonato Sul-Americano de Ginástica.
O pastor pegou nas mãozinhas da Julia, calejadinhas [por causa da ginástica] e falou: ‘Você vai ser o orgulho da pátria’
As despesas, de tapume de R$ 10 milénio, ficariam por conta dos pais. A resposta teria que ser dada em dois dias. Nem tempo para fazer empréstimo em um banco eles tinham. “Pra gente era muito numerário”, relembra Fabiana. “Chegamos em morada falando ‘meu Deus do firmamento, e agora?”
Jackson portanto pensou: “Se Deus fez essa promessa para a vida dela, ele vai fazer suceder. Vamos colocar uma postagem no Facebook, contando toda a história, para quem quiser poder nos ajudar”. “As pessoas começaram a ir em morada para nos dar numerário”, relembra Fabiana. Os colegas de trabalho de Jackson fizeram vaquinha para colaborar. Julia foi à Bolívia. E voltou com a medalha de prata.
Em 2018, a desportista entrou na seleção brasileira. Começou a receber tapume de um salário mínimo e a ter todos os seus custos de viagem bancados pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). “Aí graças a Deus acabou bombom, rifa, loja, acabou pedir numerário”, relembra Fabiana.
Ela recebe também bolsa desportista do governo federalista. Com isso, paga as despesas pessoais e se responsabiliza pelas compras de supermercado. “Ela come uns quatro ovos por dia, no mínimo. Meu Deus. Eu fico pasmado!”, diz o pai.
A ginástica toma praticamente o tempo completo da rotina de Julia. Ela sai de morada às 7h para treinar e só volta às 19h. Tem duas tardes livres por semana. À noite, estuda inglês. Aos 18 anos, quer fazer vestibular para Instrução Física.
Algumas vezes, Julia termina as atividades mais cedo e vai à morada em que a mãe trabalha porquê doméstica, no bairro Ahú, em Curitiba. “Ela até dorme em um sofazinho que tem lá”, diz Fabiana, dizendo que sua patroa, com quem trabalha há oito anos, é compreensiva.
Ela precisa se programar para quem sabe, no porvir, gloriar outras crianças porquê foi abençoada
No dia em que a equipe da ginástica ganhou a medalha, a família terminou a noite cantando “olê, olê, olá, Julia, Julia” em um bistrô parisiense. Julia é a caçula da equipe da ginástica olímpica, e a única que não treina no Flamengo, no Rio de Janeiro. É também introspectiva. Mas, segundo Fabiana, está perfeitamente adaptada ao grupo, onde tem esteio mormente de Jade.
“A Jade abraçou a Julia porquê se fosse a mãe dela. Essa é a grande verdade.” Apesar da repercussão estrondosa que a performance de Julia está tendo no Brasil —seu número de seguidores no Instagram saltou de 47 milénio para 1,9 milhão— os pais se preocupam com o porvir dela.
Pelos cálculos que eles fazem, a ginasta ainda pode disputar três Olimpíadas, até os 30 anos de idade. E depois? “A gente sabe que ninguém vai ser ginasta até os 60 anos”, reflete Fabiana. Eles dizem sempre à filha que é importante poupar alguma coisa, ainda que isso importe em sacrifício.
Os planos dela para o porvir depois do esporte, revela a mãe, incluem montar um núcleo de primazia de ginástica artística e de balé. “Ela precisa se programar para quem sabe, no porvir, gloriar outras crianças porquê foi abençoada”.