Famílias Improvisam Acampamentos Em Rodovias Para Vigiar Suas Casas

Famílias improvisam acampamentos em rodovias para vigiar suas casas

Brasil

Uma cena que se tornou generalidade em toda a região metropolitana de Porto Feliz é a de pessoas que improvisaram acampamentos em barracas ou nos próprios carros estacionados no encosto das rodovias. Em universal, são famílias inteiras que tiveram que transpor às pressas das próprias casas, em áreas alagadas, para buscar refúgio em um lugar próximo por temor de saques.

“Subimos para cá no dia 3 de maio e, na primeira noite em que chegamos cá, o pessoal estava saqueando as casas da vizinhança, roubando fio, botijão de gás, motor de geladeira”, conta Silvano Soares Fagundes, 28 anos, catador de material reciclável e morador da Vila Santo André, no Humaitá, na zona setentrião da capital gaúcha, em um aproximação da rodovia BR-116 próximo à Estádio do Grêmio. Foi ali, em uma secção subida, mas a poucos metros de sua lar, ainda alagada, que ele, a esposa, duas filhas e vários vizinhos montaram um acampamento com lonas, barracas e usando os próprios carros porquê casas. São murado de 40 pessoas, que agora formam uma comunidade de desabrigados, que fazem secção das quase 600 milénio pessoas fora de lar em todo o estado. 

Porto Alegre (RS), 17/05/2024 – CHUVAS RS- DESABRIGADOS - Moradores desabrigados da Vila Santo André, divisa de Porto Alegre e Canoas, montam acampamento na rodovia,  esperando a água que invadiu suas casas baixe. - . Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Porto Alegre (RS), 17/05/2024 – CHUVAS RS- DESABRIGADOS - Moradores desabrigados da Vila Santo André, divisa de Porto Alegre e Canoas, montam acampamento na rodovia,  esperando a água que invadiu suas casas baixe. - . Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Porto Feliz – Moradores desabrigados da Vila Santo André, lema de Porto Feliz e Canoas, montam acampamento na rodovia, esperando encolher a chuva que invadiu suas casas – Foto Rafa Neddermeyer/Sucursal Brasil

O estrondo e movimento de veículos em subida velocidade na pista é intenso. Sem renda por não poder trabalhar na reciclagem, Hariana Pereira, 30 anos, o marido e os quatro filhos agora dormem no furgão antes usado para transportar os materiais coletados. 

“Cá tem um banheiro químico, mas é precário. Há muitas pessoas que vêm ajudar, mandam remédio, chuva, é o que está garantindo a sobrevivência. O governo não manda zero. A gente até estava esperando um pessoal para cadastrar no programa Volta por Cima [do governo estadual], mas não apareceu”, reclama. Mais cedo, Hariana tinha ido ver o que sobrou dentro de lar, que chegou a permanecer quase encoberta pela inundação, mas não teve coragem de debutar a limpar ainda. “Vim hoje para limpar, mas não tem condições, tudo destruído, zero se salvou. O que a chuva não levou, estavam saqueando, portanto a gente preferiu permanecer cá”, explica.

Sobre voltar para uma espaço alagável com a família, Hariana diz que não tem muita opção e responsabiliza as autoridades públicas. “Foi negligência. Os diques rompidos, não fizeram manutenção. Isso poderia ter sido evitado”.

Porto Alegre (RS), 17/05/2024 – CHUVAS RS- DESABRIGADOS - Moradores desabrigados da Vila Santo André, divisa de Porto Alegre e Canoas, montam acampamento na rodovia,  esperando a água que invadiu suas casas baixe. - . Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Porto Alegre (RS), 17/05/2024 – CHUVAS RS- DESABRIGADOS - Moradores desabrigados da Vila Santo André, divisa de Porto Alegre e Canoas, montam acampamento na rodovia,  esperando a água que invadiu suas casas baixe. - . Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Porto Feliz – Moradores da Vila Santo André ainda aguardam chuva encolher para voltar às suas casas – Foto Rafa Neddermeyer/Sucursal Brasil

Para Silvano Soares, reerguer o pouco do que tinha não vai ser simples. Inscrito no Cadastro Único de Programas Sociais (CadÚnico) do governo federalista, ele espera ser um dos 200 milénio beneficiários do Auxílio Reconstrução, do qual cadastramento pelas prefeituras começou nesta semana. “Vai ajudar bastante, se chegar esse moeda que estão prometendo, porque não tem porquê debutar do zero”.  

Esperando secar

Outro motivo que faz as pessoas preferirem permanecer na rua a optar por abrigos é a separação. “A gente não quis ir para o abrigo. É melhor permanecer cá. No abrigo estão separando os pais de crianças”, alega Cristina Sodré Linhares, 24 anos, também catadora de recicláveis. Do poder público, Cristina espera ao menos que enviem equipamentos para tirar todo o entulho espalhado pela enchente dos materiais que estavam em dois galpões de reciclagem localizado0s no bairro.

Em espaço próxima dali, à cercadura da pista da BR-116, no bairro Farrapos, o par Gilson Nunes Rosa e Claudia Rodrigues conta que não ficaram em abrigo porque teriam que se separar em locais diferentes, incluindo o cachorro, companheiro inseparável. “A gente não queria permanecer separado e corria o risco de nunca mais descobrir meu cachorro”, diz Claudia.

Porto Alegre (RS), 21/05/2024 – CHUVAS/ RS - ENCHENTE - Bairro Farrapos, em Porto Alegre, continua alagado. - Morador do Bairro de Farrapos, Gilson Nunes Rosa está vivendo em uma barraca. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Porto Alegre (RS), 21/05/2024 – CHUVAS/ RS - ENCHENTE - Bairro Farrapos, em Porto Alegre, continua alagado. - Morador do Bairro de Farrapos, Gilson Nunes Rosa está vivendo em uma barraca. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Porto Feliz – Morador do Bairro de Farrapos, Gilson Nunes Rosa está vivendo em uma barraca – Foto Rafa Neddermeyer/Sucursal Brasil

“A gente tá vivendo cá de forma meio desumana, em barraca. Enquanto não secar, não temos porquê fazer zero”, diz Gilson, que também está parado sem o trabalho de reciclagem.

No mesmo lugar, a reportagem da Sucursal Brasil conversou com Jorge Barcelos dos Santos, que trabalhava porquê motorista de frete, mas viu seu coche inundar na enchente e não sabe se poderá voltar a narrar com o veículo. “Dentro de lar, a chuva chegou a 1,95 metro. O caminhão de frete, que era o ganha-pão, foi completamente resguardado de chuva”.

Sua esposa, Maria Elisa Rodrigues, explica a decisão de montar uma barraca quase em frente de lar, sob o viaduto, separados unicamente por uma rua ainda alagada e por onde as pessoas circulam em barcos.

Catástrofe desigual

As trajetórias de quem optou por acampar na cercadura da estrada depois as enchentes se encontram em um ponto generalidade: a vulnerabilidade socioeconômica. Mapas produzidos pelo Núcleo Porto Feliz do Observatório das Metrópoles mostram uma demarcação muito clara de desigualdade de renda nas pessoas que foram mais atingidas pela catástrofe. “As áreas alagadas são, principalmente, as mais pobres. Não só as regiões de menor renda, mas, na maioria dos casos, as áreas mais próximas dos rios que alagaram são as áreas mais pobres”, afirma André Augustin.

Porto Alegre (RS), 21/05/2024 – CHUVAS/ RS - ENCHENTE - Bairro Farrapos, em Porto Alegre, continua alagado. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Porto Alegre (RS), 21/05/2024 – CHUVAS/ RS - ENCHENTE - Bairro Farrapos, em Porto Alegre, continua alagado. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Porto Feliz – Bairro Farrapos, em Porto Feliz, continua inundado – Foto Rafa Neddermeyer/Sucursal Brasil

Os mapas também mostraram impacto proporcionalmente muito maior sobre a população negra, que representa murado de 21% da população do estado. Nesse caso, as áreas que mais sofreram com as inundações apresentam concentração expressiva de população negra, geralmente supra da média dos municípios. É o caso justamente dos bairros Humaitá, Sarandi e Rubem Berta, em Porto legre, e de Mathias Velho, em Canoas, por exemplo.

Fonte EBC

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