Feira preta se une a outros festivais para sobreviver

Feira Preta se une a outros festivais para sobreviver – 03/05/2025 – Guia Negro

Celebridades Cultura

O cancelamento, por falta de patrocinadores, do maior festival de empreendedorismo preto da América Latina, a Feira Preta, que ocorreria neste término de semana (3 e 4 de maio), em São Paulo, causou uma perda econômica e simbólica para a comunidade negra brasileira. Só em 2024 R$ 14 milhões circularam entre empreendedores negros. Uma grana que não chegou nas mãos dos nossos neste ano e uma sintoma cultural preta que deixa de ocorrer.

A Feira Preta dá destaque para artistas negros e se configura porquê um quadro de tendências da intelectualidade negra, com visibilidade para tudo que está sendo construído ao longo do último ano, em diferentes áreas, porquê game, gastronomia, design, audiovisual, tecnologia, tendência e música. Mais do que um evento, o festival é um movimento, um ponto de encontro e de conexões. Sem sua realização, todos nós deixamos de ocorrer, de nos potencializar e festejar.

Quem trabalha com flutuação percebe que o comprometimento das empresas com a taxa vinha arrefecendo, depois chegar ao auge com a morte de George Floyd nos Estados Unidos em 2020. A eleição de Donald Trump no país da América do Setentrião no término de 2024 parece ter agravado essa situação. O oração das empresas agora é que falta recurso para o tema e que há “revisão de estratégias”. As companhias que ainda estavam no estágio de letramento racial, não conseguiram sustentar a mudança em curso, que muitas vezes ainda não tinha sido incorporada em sua cultura.

Entre os governos, não houve comprometimento com a realização do evento. A cidade de São Paulo até colocou a Feira Preta em lei municipal, mas nunca destinou verbas e esforços para sua realização. Ao contrário, criou o Expo Consciência Negra, na mesma estação e locais de realização da feira, trazendo um evento com menos debates e impacto na comunidade negra. O governo do Estado também deixou de estribar. Agora estranho mesmo, no governo atual, é não ter tido ministérios da Cultura, da Paridade Racial e do Empreendedorismo, do governo federalista, bancando a realização do festival.

Os governos parecem estar um passo detrás das empresas, que já não estão mais empenhadas na taxa. A única facilidade que têm ofertado é a isenção de impostos e destinação dos mesmos para pequenos investimentos em eventos culturais.

Mas não haveria uma “meritocracia construída” da Feira Preta por conta de todos os resultados econômicos de mais de 20 anos de edições realizadas com cultura e comunidade engajada? O racismo estrutural parece ser muito cruel e nos mostrar que mesmo com toda essa estrada ainda há questionamentos e premência de se provar.

Horizonte

A estratégia da Feira Preta agora é se juntar a outros festivais pretos que também têm tido dificuldade de realizar suas edições, porquê o Porongos (RS), Psyca (PA), Latinidades (DF) e Batekoo (BA e SP). “Temos o mesmo histórico. Os festivais mais ativistas estão mais na berlinda. Por isso, precisamos atuar em coalizão. Estamos criando calendário e negociação conjunta”, conta Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta, que sonha voltar com o festival em São Paulo em 2026.

Ainda em 2025, o evento desembarca pela primeira vez na programação do Salvador Capital Afro, nos dias 28, 29 e 30 de novembro, na região das docas na cidade baixa da capital baiana. A estrutura deve recontar com palco principal, empreendedores, gastronomia, talks, mapping, além das produções do Feira Preta Cria (macróbio Afrolab), lançamento de pesquisa sobre consumo e investimento em quilombos no território. A edição só foi verosímil por conta de apoios dos governos municipais, estaduais e federais.

“A força criativa das pessoas negras ainda depende do governo. O Estado precisa ver a população negra porquê consumidora e entregar esse investimento”, defende Adriana Barbosa. Os empreendedores da Feira Preta de São Paulo participaram também do Festival “Isso é Samba” e estarão no WME, evento devotado a mulheres, que também contará com curadoria e atrações do festival.

Nesse cenário, é importante lembrar que nós consumidores temos poder e que precisamos ser mais politizados e fazermos enfrentamentos. Se não me vejo nessa empresa, se a marca não investe, também não compro dela. O mercado também precisa entender que eventos porquê a Feira Preta não são unicamente “social”, mas de consumo, de negócios e que trazem resultados para as pessoas negras, mas também para São Paulo e para o país. Enfim, essa é a revolução que dá dança, que pode até ter uma pausa, mas que não vai parar.


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Folha

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